MATOSO SAPALALO, O CORONEL ANGOLANO QUE RESGATOU MOBUTU- JOSÉ GAMA IN MEMORAIS





Terá sido um dos mais novos do "inner circle" de Jonas Savimbi. Ou seja, desde miúdo que fazia parte do "cordão", o nome que se dava ao "palácio presidencial" de Jonas Savimbi ao tempo da guerrilha. Nos preparativos para a cerimónia de proclamação da independência nacional pela UNITA, que seria anunciada num estádio de futebol no Huambo, Matoso estava no Kuito ao lado de Savimbi. Estava  na mesma viatura que transportou Savimbi ao ato central da independência no Huambo. Contudo, talvez devido à sua idade na altura (14 anos), não atribuiu grande importância ao facto de ir ao estádio.


Depois de 50 anos, o episódio foi relembrado por ele, em janeiro deste ano, descrevendo que "nesse dia, eu estava para estar presente porque saímos do Kuito para o Huambo na mesma madrugada e o velho Jonas ia ao volante. À última da hora, eu decidi não ir e disse ao Kacyke para dizer ao velho Jonas que não me tinha encontrado. No dia 12.11.75, por volta das 21h30, o meu kamba malogrado Felix Miranda enfia-me um tiro de pressão de ar na vista direita a menos de um metro de distância. Histórias da nossa meninice", descreveu Valente Matoso Salumbo Sapalalo, o sujeito da história.



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Já formado como guerrilheiro e “protetor presidencial”, Matoso Sapalalo deixou o “cordão” para integrar o braço diplomático da guerrilha, servindo como representante da UNITA no Togo. No início de 1997, quando Mobutu Sese Seko foi forçado a abandonar o poder, Matoso recebeu a incumbência de fretar um avião para transportar o ex-líder do Zaire ao Marrocos, em estado de saúde bastante debilitado. Além disso, desempenhou um papel fundamental no repatriamento, para Lomé, de armamento da UNITA adquirido no Leste Europeu e armazenado na RDC antes da queda de Mobutu.


Em maio de 1999, foi convocado a regressar ao Andulo, cessando as suas funções como representante no Togo, sendo substituído por Ernesto Mulato. No Andulo, desempenhou funções no secretariado dos negócios estrangeiros como assistente de Alcides Sakala. Contudo, a queda deste bastião obrigou Matoso a abandonar a vida diplomática e a retomar o papel de guerrilheiro. Abandonou o Andulo, mas voltou sob fogo cerrado para recuperar o seu computador, que tinha deixado para trás.


Passou por bases como Lubia, onde se encontrou com António Dembo e Kamalata Numa, e por outras bases como Kwame Kruma, Sachineme e Chanji, permanecendo nesta última até abril de 2000. Posteriormente, seguiu para leste, integrando a coluna do General Dembo. A 14 de março de 2000, assistiu a um ataque das FAA contra a coluna, logo após o grupo ter celebrado o aniversário do partido no dia anterior. Pela coincidência da data, apelidou o ataque de “ressaca”, acreditando que as FAA lhes tinham permitido festejar o "13 de março" apenas para os atacar no dia seguinte.


Permaneceu ao lado do General Dembo quando a coluna foi surpreendida por um novo ataque no final do mesmo ano. Em 2001, integrou a subcoluna dos comandantes “Gito” Epalanga e Aniceto Paulo, enfrentando mais ataques das forças governamentais, especialmente na região de Cassamba, no Moxico. Apesar de resistir a bombardeamentos, foi atingido por conjuntivite e conseguiu escapar quando a sua coluna lutava nos arredores do rio Lutai, também no Moxico. Mais tarde, a coluna sofreu um novo ataque das FAA em outubro de 2001, na nascente do rio Luvunda. Durante este confronto, o seu colega, o Coronel Marcelino “Sangue”, foi alvejado, e Matoso Sapalalo foi dado como desaparecido. Permaneceu perdido nas matas até ser capturado pelas FAA.


Sob custódia do governo, Matoso foi reintegrado na sociedade, atuando na diplomacia angolana, onde mais tarde se reformaria. Em tempos de paz, apoiou o governo na recuperação, no Togo, de material bélico que ele próprio havia transportado da RDC para Lomé. Na hierarquia militar da UNITA, chegou a Coronel.


O processo de exumação do seu irmão, o lendário Altino Sapalalo “Bock”, encontrou Matoso já hospitalizado em Luanda, razão pela qual não esteve presente nas cerimónias fúnebres. Apesar de adoentado, nada o impedia de utilizar o seu aparelho para partilhar mensagens, como fez às 20h do dia 16 de março, ao autor destas linhas, poucas horas antes de partir para outra dimensão.


Um eterno descanso ao Coronel Matoso Sapalalo e uma gratidão sem limites pela partilha dos registos de combates por onde passaste e  que guardo com privilégio, garantindo que viva para sempre na história do nosso país.


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