No cenário político e econômico de Angola, poucas figuras são tão emblemáticas e controversas quanto Manuel Domingos Vicente. Ex-presidente do Conselho de Administração (PCA) da Sonangol, a poderosa petrolífera estatal angolana, Vicente é um nome que ecoa nos corredores do poder há décadas. Sua trajetória, entrelaçada com interesses internacionais e acusações de corrupção, revela uma complexa rede de influências que transcende fronteiras e desafia a noção de transparência e ética nos negócios públicos.
Antes de se tornar sócio do presidente João Lourenço, Manuel Vicente já era uma figura central nos negócios petrolíferos de Angola. Foi ele quem, durante sua gestão na Sonangol, introduziu o controverso empresário chinês Sam Pa nos negócios com o país africano. Essa parceria deu origem à China Sonangol, uma joint venture entre a Sonangol e a China International Fund Limited (CIF), controlada pelo grupo 88 Queensway, de Sam Pa. A China Sonangol, da qual Vicente também era PCA, passou a intermediar a venda do petróleo angolano, adquirindo o barril a US$ 55 e revendendo-o à China por US$ 100. A diferença de valor, em teoria, deveria ser reinvestida em infraestrutura e serviços públicos em Angola. Na prática, porém, o que se viu foram obras de qualidade questionável, financiadas por empréstimos de bancos estatais chineses a juros baixíssimos, enquanto a CIF lucrava exponencialmente.
Em julho de 2009, um carregamento petrolífero no valor de US$ 2,19 bilhões foi enviado para a China Sonangol International Limited, empresa presidida por Manuel Vicente e com Lo Fong Hung, esposa de Sam Pa, como vice-presidente. Lo Fong Hung, que também presidia a CIF, era uma peça-chave nesse esquema, atuando como elo entre os interesses chineses e angolanos. A complexa teia de negócios envolvia ainda a Sonangol Sinopec International, outra joint venture entre a Sonangol e a estatal chinesa Sinopec, que acumulou prejuízos bilionários para o Estado angolano.
O encontro entre as delegações angolana e chinesa em maio de 2023, no Hotel Ritz Carlton em Pequim, expôs as tensões e os desentendimentos entre as partes. A proposta chinesa de comprar 30% da Sonangol foi rejeitada pela delegação angolana, liderada por Dalva da Costa, representante do Ministro da Casa Civil. A procuradora-geral adjunta, Eduarda Rodrigues Neto, foi categórica ao afirmar que os documentos assinados por Manuel Vicente não eram reconhecidos pelo governo angolano e poderiam configurar atos criminosos. Ficou claro que Vicente era o principal responsável pelas relações entre a Sonangol e o conglomerado de empresas ligadas à CIF, o que colocava em xeque sua atuação como representante do Estado angolano.
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Enquanto isso, o presidente João Lourenço, que supostamente chegou ao poder com a promessa de combater a corrupção, parece cada vez mais enredado nessa teia. A obstinação de Lourenço em proteger figuras como Manuel Vicente e outros aliados próximos, como o ex-banqueiro Álvaro Sobrinho – acusado de desviar recursos do Banco BESA –, mina sua credibilidade. A nomeação de sua filha, Geovana Lourenço, como PCA da Bodiva (Bolsa de Valores de Angola), foi mais um episódio que reforçou a percepção de nepotismo e promiscuidade no governo.
A imprensa internacional tem se debruçado sobre esses escândalos, e o caso CIF promete ser um prato cheio para revelações que podem enfraquecer ainda mais o Estado angolano, tornando-o refém do capital internacional. A credibilidade de João Lourenço no combate à corrupção é, hoje, praticamente nula. A sua gestão tem sido marcada por benefícios a grupos econômicos privilegiados, e pela proteção a figuras envolvidas em esquemas de corrupção e desvios de recursos públicos.
Assim, a história de Manuel Domingos Vicente e sua relação com João Lourenço não é apenas um capítulo isolado na política angolana. É um retrato de um sistema que, longe de combater a corrupção, parece perpetuá-la. Enquanto isso, o povo angolano, que deveria ser o principal beneficiário das riquezas do país, continua à espera de um futuro mais justo e transparente. A pergunta que fica é: até quando?
Por Hitler Samussuku
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