Neste momento natalício, os angolanos esforçam-se para manter uma quadra festiva marcada pela alegria e fraternidade. Contudo, este foi um dos natais mais difíceis para muitas famílias, que não puderam contar com o tradicional bacalhau, grão-de-bico ou mesmo pêro na mesa da ceia. A situação no país agrava-se diariamente, e a crise económica e social ameaça levar Angola a um colapso iminente.
A poucos dias do Natal, um decreto presidencial concedeu indulto a condenados, gerando uma onda de dúvidas e inquietação. Oficialmente, o indulto é justificado pela celebração dos 50 anos de independência, que será assinalada em 11 de novembro de 2025. Porém, a libertação destes prisioneiros nesta época natalícia levanta sérias questões sobre os verdadeiros interesses por detrás desta decisão.
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Como podemos celebrar uma independência que, na prática, existe apenas no papel? Quarenta e nove anos após a conquista da liberdade, essa independência não se reflete na vida da maioria dos angolanos. Que significado tem uma data histórica quando o povo continua subjugado pela pobreza extrema, corrupção generalizada e ausência de justiça? Não há independência sem liberdade, justiça e dignidade. Esta realidade evidencia que o sonho de independência de 1975 continua a ser uma promessa por cumprir.
Além disso, surge a questão fundamental: onde está a justiça num país onde um presidente toma decisões unilaterais que desrespeitam sentenças judiciais previamente determinadas? Por que razão foram esses prisioneiros condenados em primeira instância, se agora o próprio presidente decide libertá-los sem respeito pelo sistema judicial? Será que Angola deixou de ser uma república para se tornar numa monarquia disfarçada, onde a palavra do presidente está acima da lei?
A coincidência do indulto com a libertação de presos políticos durante esta época festiva é, no mínimo, suspeita. Nos últimos tempos, temos assistido a um cenário de explosões internas no Bureau Político do MPLA, a uma pressão internacional crescente sobre os presos políticos e a uma estratégia clara do presidente para consolidar o controlo total do partido. Esta manobra política parece ser uma preparação para garantir a continuidade da sua influência, caso o terceiro mandato não lhe seja concedido.
Mais grave ainda é questionar o perfil dos prisioneiros libertados. Muitos estão detidos por crimes de corrupção ou, absurdamente, por desacato ao presidente. Num país que se proclama defensor da liberdade de expressão, ninguém deveria estar preso por criticar ou denunciar a má governação. Quanto aos verdadeiros corruptos, será que a justiça lhes foi realmente aplicada? Se o sistema fosse justo e imparcial, nem o homem da limpeza dentro da estrutura governativa do MPLA escaparia a um julgamento por corrupção.
Este indulto não é um gesto de clemência ou celebração. É uma demonstração de um regime autoritário que manipula as leis e instituições para proteger os seus interesses. Não é coincidência que este ato ocorra num contexto de descontentamento popular e pressão internacional. Trata-se de uma manobra política cuidadosamente calculada para desviar atenções e reforçar o poder absoluto do regime.
Angola não precisa de celebrações artificiais ou decretos que mascaram a realidade. O país precisa de uma verdadeira independência, que vá além dos discursos e se traduza em melhores condições de vida, liberdade, justiça e esperança para o povo. Porque, sem isso, comemorar 50 anos de independência é, simplesmente, uma ironia amarga.
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