Maria Luísa Abrantes, figura de peso no MPLA nos anos 80, ex. mulher do ex-presidente da República e mãe de Tchizé dos Santos, não poupou palavras ao questionar o rumo do partido sob a liderança de João Lourenço. Em um texto carregado de ironia e críticas históricas, ela traça paralelos entre o passado e o presente do MPLA, questionando se o partido se tornou um “sobado”, um sistema tribal arcaico que concentra poder em poucos, em detrimento do progresso coletivo.
Segundo Maria Luísa Abrantes, a história do MPLA é marcada por exclusões e populismo. Ela cita o primeiro presidente do partido, Agostinho Neto, que ao assumir o poder, teria promovido a substituição de intelectuais por operários e camponeses sem preparo para a administração do país. “Agostinho Neto dizia que a classe operária e camponesa é que há de ser e tem de ser a classe dirigente”, afirma Maria Luísa Abrantes. A decisão, segundo ela, resultou na nomeação de comissários provinciais e ministros com qualificações mínimas, enquanto os intelectuais, que haviam fundado e estruturado o MPLA, eram afastados.
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Ela relembra uma frase emblemática do então primeiro-ministro, Lopo do Nascimento: “É preciso quebrar os dentes da pequena burguesia”, que teria selado o início de um populismo destrutivo. Para Maria Luísa, a ascensão de figuras sem formação consolidou no partido uma cultura de mediocridade e bajulação, permitindo que indivíduos “vindos da sanzala sem nada” alcançassem posições de poder, apenas para temerem a competição de colegas mais capacitados.
A autora prossegue com críticas mais contundentes, destacando que muitos dirigentes do MPLA têm origem em famílias de extrema pobreza, frequentemente zairenses, que desconheciam a cultura angolana e eram influenciados pela colonização belga. Essa falta de identidade nacional teria contribuído para a desconexão entre os líderes e a sociedade angolana. “O colono negro oriundo da classe operária e camponesa é muito pior do que o colono branco”, dispara Maria Luísa, argumentando que os líderes do MPLA sempre se submeteram aos interesses externos por não gostarem de esforço ou meritocracia.
Maria Luísa Abrantes também lamenta que, ao longo dos anos, muitos dirigentes do MPLA evitaram o serviço militar, mesmo em um país devastado por 28 anos de guerra. Muitos passaram directamente de cargos administrativos para generais das Forças Armadas, criando uma classe de privilegiados desconectada da realidade do povo.
Maria Luísa Abrantes reflete sobre a renovação geracional dentro do MPLA, apontando que o próprio Agostinho Neto, em 1975, já havia promovido jovens de 30 anos ao Bureau Político e ao governo. José Eduardo dos Santos seguiu o exemplo, nomeando ministros na casa dos 20 anos e assessores recém-formados. Contudo, ela critica a escolha de João Lourenço como sucessor, acusando José Eduardo dos Santos de preferir alguém que “concordava com tudo ou ficava calado”, em vez de democratizar o partido.
Na visão de Maria Luísa, o MPLA continua a funcionar como um sobado, onde os dirigentes vivem à mercê de quem está no poder, temendo perder empregos ou privilégios. “Comem até veneno para manter os benefícios”, afirma, reforçando que o partido se tornou um círculo de lealdade cega e submissão.
As críticas de Maria Luísa Abrantes expõem uma crise de identidade no MPLA, que segundo ela, se afastou de seus ideais fundadores e de sua base intelectual. O partido, que outrora prometia liberdade e igualdade, teria se transformado em um sistema de dominação personalista e ineficiente. Ao questionar se o MPLA é um “sobado”, ela lança um alerta: sem uma reestruturação profunda, o partido corre o risco de se tornar irrelevante, aprisionado em seus próprios erros históricos e refém de lideranças medíocres.
Essa reflexão, vinda de dentro do próprio MPLA, reforça a necessidade de uma renovação política em Angola, onde o futuro não seja apenas uma repetição das práticas do passado.
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