Eu, jornalista-em-chefe, já estive envolvido, como candidato, em quatro disputas eleitorais, «que na qual» ganhei três e perdi uma.
1975. Crescido em ambiente de resistência ao colonialismo e luta pela emancipação, por influência do meu pai de criação, o nacionalista Afonso Neto, assanhado como era, seria com certa naturalidade que acabaria por criar uma «base de pioneiros», para participar de algum modo na mobilização das gentes a favor do meu movimento do coração, uns quantos meses depois do «25 de Abril» de 1974.
Em meados do ano seguinte, sou convidado a ceder os meus miúdos, para fortalecimento dum destacamento especial da OPA que o MPLA resolvera fundar na vizinha Biblioteca Njinga Mbandi, onde é hoje a casa da cultura do Rangel, à rua de Gaia. No comando está a camarada Rosita, que promove uma eleição para a escolha do seu adjunto entre as «tropas». São candidatos três dos rapazes mais crescidinhos: eu, o Rui Sirgado e o Jorge de Almeida, o Jota-Jota.
Limpo a disputa com um pé às costas, mas, para espanto geral, se calhar por não ir com a minha fuça, a senhora decide ignorar o resultado eleitoral, acabando por confirmar abusivamente o JJ no cargo. Indignado, fui-me embora por anos, tendo regressado já só em 1979, pelo comité de acção da Jota no INE Garcia Neto, em que chegaria a ser «rectificado», coisa que muitos desses militantes de agora nem sabem o que é.
1979. Por insinuação dum amigo, o Alegria André, que diz desconfiar que a camarada morria por mim, entro na lista de candidatos a namorado da Guizinha (na foto, comigo), uma rapariga sem compromisso trazida de Malange pelas escaramuças entre os três movimentos. Eram bué os pretendentes, qual deles o que mais babava, na esperança de vir a colocar as mãos naquela donzela com ares de latona, na frescura dos seus 16 anitos.
Como entre os aspirantes ao cargo havia até gajos que já tinham carro, enquanto eu não passava dum puro descamisado, sem uma bina sequer, pensava que estava na lista só a fazer o verbo encher.
Porém, para surpresa geral, ela daria a vitória nesta disputa eleitoral especial ao candidato mais improvável: eu. Quando assustaram, já estava!
Depois de me pôr a xixilar uns meses sem aceitar dar o xitu, ao ponto de me levar a pensar que o «sim» fora de brincadeira, tomei finalmente posse (indo a vias de facto com ela pela primeira vez) em Janeiro de 1980, a despeito da «raiva» que a escolha inesperada da rapariga provocara, não só entre os furiosos candidatos derrotados, mas também no seio dos familiares, amigos e vizinhos.
Os já saudosos pais e outros parentes dela fizeram tudo para separá-la de mim, mas o certo é que, 44 anos depois, ainda continuamos juntos. É trabalho!
1993. Estou de regresso ao Jornal de Angola, donde saíra dois anos antes, por desinteligências com o já saudoso David Mestre, tendo neste interim passado de raspão pela televisão pública e novamente pela Angop, já sob chefia do Wadjimbi, que me avisara que nunca mais tornaria a lá pôr os pés, caso voltasse a sair da agência. Espetei-lhe um «sandinga» e bazei mesmo.
Há uma eleição para preenchimento da vaga deixada pela minha amiga Maria Luísa Rogério no Conselho de Redacção das Edições Novembro, então sob batuta do Victor Silva. Candidato-me e ganho a corrida ao posto, diante de forte concorrência do já saudoso Simão Roberto. A dado momento do escrutínio, cheguei a pensar que sairia derrotado, mas depois, nem sei de quem veio, surgiu um kibuto de votos a meu favor, o suficiente para recuperar da desvantagem, passar à frente e confirmar a vitória. E lá estava eu no «parlamento» da casa, como representante dos jornalistas.
2004. O sindicato dos jornalistas decide realizar um congresso para a substituição do Ismael Mateus. Estou incluído numa lista liderada pelo meu saudoso «padrinho», o Paulo Maria, um figurão da Angop, que tinha como concorrente a Maria Luísa Rogério, candidata dos «situacionistas».
Dando conta de que o jogo se encontrava viciado (por exemplo, o Graça Campos estava apto a votar, quando já era patrão), disse ao velho Siona que abandonaria o encontro magno por conta disso. Mas ele rogou-me para que participasse mesmo assim, sacrificando o meu orgulho pessoal, as moralidades e tudo o mais, em nome dos «superiores interesses» da classe.
Todavia, tipo o meu sacrifício foi em vão, já que não sou tido nem achado na hora das homenagens do sindicato, que nas suas festas prefere distinguir patrões, coisos e tal, fidacacha do Teixeira Cândido.
2037. Se ainda estiver vivo, já com 77 anos, decerto que participarei das primeiras eleições autárquicas que se realizarão no país provavelmente nessa data. Ainda não sei se na lista dalgum partido ou se na qualidade de candidato independente.
Mas, a ser no primeiro caso, se for para ganhar à batota, deixa estar, pois, não sentiria orgulho nenhum nisso. Haja alguma vergonha!
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