Há muita similitude na história entre Angola e a China, por sinal nosso principal parceiro económico. Os dois países travaram uma grande batalha de forças coloniais e invasoras. Ambos são governados por partidos de matriz comunista. Não é de estranhar que os chineses foram os primeiros a dar a mão a Angola, num período pós-guerra, com um confortável financiamento, quando os outros, que até atiçaram a guerra, cruzaram os braços.
Fora as similitudes, há um desequilíbrio incotejável no desenvolvimento sócio-económico, no lado de Angola. Muito por falta de disciplina e pela cultura do saque, infelizmente não se deu o devido destino ao volumoso financiamento que o país recebeu da China, embora se tenham erguido infra-estruturas, como estradas e centralidades que, entretanto, reclamam por manutenção.
Uma visita à China real, conforme a que tive o privilégio de fazer com um grupo de colegas jornalistas, destapa um ponto interessante que não é aproveitado pela diplomacia angolana: Aprender.
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Pelos vistos, não interessou aprender com os chineses como desenvolver um país e tornar os seus cidadãos prósperos em curto espaço de tempo. Querendo ou não, o gigante asiático tem um modelo de desenvolvimento que devemos copiar/adaptar a nossa realidade. O primeiro passa por pôr a pátria em primeiro lugar, conforme fez o partido comunista. Não subjugar o interesse nacional (bem-estar do povo) a interesses políticos inconfessos gerou disciplina no cumprimento do plano de reformas e aberturas, assim como na gestão da república. Aliás, a fiscalização foi imprescindível no processo de aceleração do desenvolvimento. Exemplo do sucesso é a história do acompanhamento milimétrico de Deng Xiaoping à evolução de Shenzhen. A cidade, inicialmente piscatória, transformou-se em 40 anos numa estrondosa zona económica, onde se centralizam as maiores tecnológicas, sem situação de fome.
Este todo processo, de comprometimento com a pátria para o alcance do desenvolvimento, passou seguramente pela aposta na educação, que é o segundo pilar que os governantes angolanos devem aprender. Há anos que o país tem mandado angolanos estudar fora e não resulta em nada. Fomos insuficientemente capazes de aproveitar os quadros formados no exterior com dinheiro público, daí muitos emigrarem. Porque não perguntar à China? O seu desenvolvimento foi atrelado à transmissão de conhecimentos aos nativos por quadros enviados em formação às maiores universidades internacionais. Com a pretensão chinesa de fortalecer as relações angolanas no sector da educação, já que até à data formaram mais de três mil, é chegada a hora de aprender. O processo não deve passar somente por enviar angolanos a estudar e depois não fazer o devido aproveitamento na aplicação do conhecimento. Mas procurar saber como se fez o aproveitamento sem fuga de quadros.
Efectivamente só a educação permitirá o desenvolvimento sustentável, atrelado à tecnologia e à industrialização. E está mais do que provado que o nosso problema reside neste campo. Só com mão-de-obra qualificada se desenvolve e se faz manutenção de infra-estruturas e se cria riqueza.
Temos muito mais o que aprender com a China. Hoje é um dos destinos turísticos muito procurados, ainda que se tente ofuscar o seu sucesso por ‘fechamento’. É só reparar para o número de pessoas de outras nacionalidades a desembarcarem nos seus aeroportos. E como foi possível? Organização. A sua história é complexa e rica. Em meio ao desenvolvimento, conservou os monumentos históricos, desde a Cidade Proibida (que diariamente recebe mais de 40 mil turistas), aos artefactos da imensidão das etapas de crescimento político, socio-económico que se podem encontrar no Museu do Partido Comunista, ou ainda da milenar Muralha da China.
Actualmente, estes pontos situados em Pequim recebem milhares de turistas e, incrivelmente, todo o processo é eficiente, sem demoras nas entradas ou espera de viaturas de apoio, sem esquecer a salubridade das casas de banhos. Quando se fala de atracção de turismo, pode aprender-se mais sobre a conservação da história, dos acervos, com recurso à tecnologia.
No conjunto de pontos aprender, figura também a conservação do ambiente, com planos directores. O país continua praticamente sem um plano director, quando o mundo discute sobre cidades sustentáveis e inteligentes. Assim como a produção alimentar, fala-se muito da diversificação económica associada à agricultura, mas peca-se na organização da agricultura familiar. A experiência chinesa com a agricultura familiar, que resultou na auto-suficiência alimentar, também é mais-valia. Ou seja, conhecer a China real leva a acreditar que os governantes só se apegaram na busca de dinheiro, não estudaram o desenvolvimento da ‘fábrica do mundo’. Leva a concluir também que a relação diplomática tem de ser fortalecida, pois temos muito que aprender.
Guilherme Francisco, Editor Executivo Adjunto do jornal Valor Económico
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