Presidente dos EUA deverá visitar Angola em outubro. A deslocação ficará para a história porque será a primeira de um chefe de Estado norte-americano ao país e é uma vitória para Lourenço. Angola fica no centro da disputa entre EUA e China.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, deverá visitar Angola em outubro o que constitui uma indiscutível vitória de João Lourenço e posiciona o país no centro da guerra fria entre os EUA e a China. A mensagem política é forte na medida em que, concretizando-se a deslocação, Biden será o primeiro chefe de estado dos EUA a visitar a África subsaariana desde Barack Obama em 2015. Mais, nunca nenhum Presidente dos EUA se deslocou a Angola, pelo que a visita, a materializar-se, ficará para a história também por esse motivo.
Para já, a ida de Joe Biden a Angola ainda está no domínio dos preparativos, mas o facto de este já não ser candidato presidencial reabriu uma janela de oportunidade para a realização da mesma. É curta, ou seja resume-se ao mês de outubro, e por isso exigirá celeridade de todos os envolvidos de forma a materializar uma promessa verbalizada por Biden em novembro de 2023, no decurso da visita de João Lourenço aos EUA.
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Lourenço deixou chineses “furiosos”
João Lourenço, nas últimas semanas, já tinha dado sinais inequívocos que apontavam para uma aproximação a Washington. Primeiro, deu o dito por não dito e decidiu cancelar a viagem a Pequim onde devia participar no Fórum de Cooperação China África (FOCAC) que decorreu entre 4 e 7 de setembro. Lourenço quebrou a promessa feita em março a Xi Jinping de marcar presença no evento e a opção deixou os chineses “furiosos” tal como Negócios noticiou na altura.
Esta mudança de planos mostrou igualmente que a visita de Estado que João Lourenço fez à China, em março, não teve um desfecho a contento, sobretudo porque
Pequim se recusou a suavizar o pagamento da dívida contraída por Angola junto de instituições financeiras daquele país.
O cumprimento do serviço da dívida é um encargo pesado para os cofres angolanos. Retira margem orçamental ao Governo e coloca uma pressão forte, agravada por um cenário de contínua desvalorização do kwanza.
O segundo ato deste teatro diplomático teve lugar a 6 de setembro e materializou-se no anúncio de que Angola irá receber, em 2025, a Cimeira de Negócios Estados Unidos-áfrica. O entendimento que materializa a realização deste evento foi assinado por Agostinho Van-dunem, embaixador de Angola nos EUA e Florizelle Liser, presidente do Corporate Council on Africa (CCA). Um comunicado divulgado pela embaixada salienta que esta escolha resulta de um encontro entre João Lourenço e Florizelle Liser , em maio deste ano em Dallas, no Texas.
Agora, para fechar o círculo, “o Presidente Joe Biden está a planear uma viagem a Angola nas próximas semanas, cumprindo uma promessa anterior”, avançaram na passada sexta-feira à agência Reuters, “três fontes familiarizadas com os planos”. A intenção foi posteriormente confirmada por fontes diplomáticas angolanas.
Ator principal na guerra fria
Este posicionamento de Angola, com ator principal da guerra fria em curso entre os EUA e a China, dá-lhe também uma influência regional crescente e mostra a relevância geoestratégicas das cadeias de abastecimento. Os EUA apostam na reabilitação do Corredor do Lobito que ligará Angola, a República Democrática do Congo e a Zâmbia aos mercados globais.
“Este projeto inédito é o maior investimento ferroviário de sempre dos Estados Unidos em África e irá criar empregos e conectar mercados para as gerações vindouras” declarou Biden em novembro do ano passado, frisando tratar-se de um investimento superior a mil milhões de dólares (mais de 918 milhões de euros).
Para concorrer com o Corredor do Lobito a China fechou em setembro, no âmbito da FOCAC um financiamento à Zâmbia e Tanzânia destinado a reabilitar a linha ferroviária de Tazara, a qual liga o centro do primeiro país ao porto de Dar es Salaam, capital do segundo, numa extensão de aproximadamente 1.900 quilómetros. A recuperação desta ligação visa oferecer uma rota alternativa de transporte de carga para o cobre e o cobalto da Zâmbia através do oceano Índico, concorrendo com o Corredor do Lobito, que termina no Atlântico.
Todavia, para contrariar a influência chinesa em Angola a visita de Biden, só por isso, não basta. É necessário que os Estados Unidos assim como os seus parceiros ocidentais promovam o aumento do investimento em Angola de forma a dinamizarem a economia do país. Sem criação de emprego e a ausência de uma aposta forte na industrialização, Angola ficará sempre refém dos compromissos anteriormente assumidos com a China. Neste sentido, a visita de Biden, poderá assumir-se como uma luz verde para a entrada de capital estrangeiro em Angola. Jornal de Negócios
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