Só 27% dos angolanos se sentem em democracia e apenas 18% estão satisfeitos com o seu funcionamento



Dados do Afrobarometer sobre Angola apresentados esta quinta-feira. Popularidade do Presidente desceu para 26% e a do Governo para 21%. Empate técnico nas intenções de voto entre MPLA e UNITA.

A radiografia ao estado da democracia em Angola dado pelo novo Afrobarometer, apresentado esta quinta-feira no Instituto Politécnico Sol Nascente, no Huambo, traz dados capazes de fazer soar os alarmes em relação ao futuro do país, tendo em conta que apenas 27% dos angolanos sentem que vivem numa democracia, e só 18% se mostram satisfeitos com o seu funcionamento, ao mesmo tempo que diminui a rejeição de regimes autoritários ou militares. Entre os jovens com menos de 25 anos, que compõem 65% da população do país, só 14% estão contentes com o funcionamento da democracia.

Esta situação reflecte-se negativamente na opinião dos inquiridos no desempenho do Presidente, João Lourenço, e do seu Governo. Não só há uma diminuição generalizada na opinião positiva sobre o desempenho do executivo (21%), como a aprovação do chefe de Estado caiu a pique, em cinco anos, de 44% em 2019 para 26% actualmente.



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Mais ainda quando os dados mostram que é entre os residentes de Luanda e da região norte do país, onde o MPLA teve os piores resultados nas eleições de 2022, perdendo(https://www.publico.pt/2022/08/25/mundo/noticia/mpla-ganhou-eleicoes-angola-5107-4405-unita-2018353) em Luanda, Cabinda e Zaire, que essa opinião negativa sobre o chefe de Estado e do Governo mais se acentuou. Tanto na região norte como em Luanda,

só 11% dos inquiridos consideram que o país está a seguir na direcção certa.



Em resultado disso, o inquérito de opinião mostra um aumento das intenções de voto na UNITA e, pela primeira vez, um empate técnico entre os dois principais partidos angolanos: 30% para o MPLA e 27% para a UNITA. É um sinal de perda de popularidade do partido que governa o país desde a independência há quase meio século, mas também nos transmite a ideia que o principal partido da oposição não conseguiu capitalizar: há 43% que não se revêem nem num nem noutro partido.



Como afirmava ao PÚBLICO em Abril um dos autores do Afrobarometer, o investigador Carlos Pacatolo, numa entrevista(https://www.publico.pt/2024/04/25/mundo/entrevista/nao-duvida-existe-angola-espaco-emergencia-terceira-via-2087121) a propósito da edição em livro da sua tese de doutoramento na Universidade Católica Portuguesa, O Domínio Decrescente do MPLA no Sistema Partidário em Angola (2008-2022), "a oposição ainda não é suficientemente credível” entre os “descontentes” para que “a olhem como alternativa” Há, por isso, “um potencial grande para líderes populistas e carismáticos da sociedade civil” mobilizarem esses jovens descontentes com o MPLA e sem vontade de votar na UNITA para “uma terceira via”. 

O combate à inflação e a luta contra a corrupção, bandeira de Lourenço desde o princípio do seu mandato, são os dois temas que mais contribuíram para a diminuição da aprovação do executivo do MPLA. A percepção positiva do trabalho do executivo em relação à corrupção passou de 34% em 2019 para 21% agora; no que diz respeito à manutenção dos preços, se o valor já era baixo há cinco anos (13%), hoje desceu para quase metade (7%) – sinal da subida acentuada dos preços do cabaz de compras que, em Março, de acordo com o jornal económico Expansão, já custava nove vezes o salário mínimo.

Com essa subida generalizada de preços não admira que a percentagem de angolanos a viver na pobreza extrema se tenha acentuado desde 2019 – era de 35% há cinco anos, é hoje de 46%. A região mais pobre entre as pobres é a do Leste do país, onde 64% das pessoas vivem na pobreza extrema e só 5% da população está acima da pobreza.




Quase um terço da população (31%) admitiu que no último ano aconteceu-lhe muitas vezes não ter comida suficiente, percentagem que sobe para 54%, se lhe juntarmos aqueles que responderam que várias vezes se viram na mesma situação. Aliás, quase metade da população (46%) viu-se muitas vezes sem salário ou rendimento.

Com apenas 27% dos angolanos inquiridos a acharem que vivem numa “democracia completa” ou “com pequenos problemas” (18% em Luanda) e só 18% (como em 2019) a se sentirem satisfeitos com o funcionamento da democracia, não se estranha, mas não deixa de ser preocupante, que os índices de rejeição de líderes autoritários, partidos únicos ou governos militares tenha diminuído entre o anterior inquérito do Afrobarometer, realizado em 2022, e o actual. E, apesar de continuarem a ser altos, mostram uma descida importante em apenas dois anos, sinal também da descrença em relação ao Governo do MPLA: o da opção militar passou de 66% para 59%, o do partido único de 69% para 59% e o do líder autoritário de 73% para 66%.




No entanto, embora descendo ligeiramente em relação a 2022 (47%), a maioria dos inquiridos (45%) ainda considera que a democracia é preferível a qualquer outro tipo de governo, um número que se mantém acima dos 37% que responderam favoravelmente em 2019. O mesmo se passa em relação aos que mostraram preferência por um governo não democrático em certas circunstâncias: de 2022 para 2024 subiu de 15% para 16%, mas permanece abaixo dos 23% de 2019.



O Afrobarometer (https://www.afrobarometer.org/) é uma rede de pesquisa pan-africana que desde 1999 analisa as atitudes dos cidadãos sobretudo em matéria de democracia, governação, economia e sociedade civil, tentando superar um dos problemas de que África sempre sofreu, a falta de sondagens com métodos cientificamente comprovados que permitam aferir da evolução das suas sociedades. E ao mesmo tempo poder comparar os diferentes países entre si. Começou com 12 países e agora que chega à décima ronda de inquéritos de opinião já se estendeu a 43 países. Cada país vai publicando os seus dados assim que estão consolidados e em Outubro sai um resumo geral de todos.


Angola entrou na rede em 2019 (https://www.publico.pt/2019/05/16/mundo/noticia/afrobarometro-vai-passar-dados-angola-1872951) e este é o seu terceiro inquérito, sempre com os investigadores Carlos Pacatolo, do Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela, e David Boyo, do Instituto Superior Politécnico Sol Nascente, como seus coordenadores através da empresa de estudos de opinião Pública Ovilongwa.

O inquérito deste ano em Angola foi realizado entre 27 de Março e 19 de Abril a 1200 pessoas com 18 e mais anos, dividido equitativamente entre homens e mulheres, 65% urbanos e 35% rurais, 16% sem educação formal, 25% com ensino primário, 41% com ensino secundário e 13% com ensino universitário. A margem de erro é de mais ou menos 3 pontos percentuais e o nível de confiança de 95%.




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