Isaías Samakuva fez 78 anos há bocado, mais precisamente no dia 8 de Julho. Se a UNITA realizar um Congresso electivo em 2026, Samakuva estará com 80 anos. Se, por hipótese, a UNITA o fizer este ano ou no próximo, Samakuva estará sempre praticamente com 80 anos. Não tem, portanto, serventia para liderar qualquer partido que seja. Muito menos um partido como a UNITA que, goste-se ou não, é a única opção realista de alternância em Angola.
As suas afirmações recentes que admitem a possibilidade de voltar a concorrer à liderança da UNITA são, no mínimo, chocantes. Alimentam de forma grave os receios de que estará a ser instrumentalizado pelo regime para enfraquecer a Oposição e, mais uma vez, inviabilizar a única opção realista de alternância do poder.
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Samakuva esteve por mais de 16 anos na liderança da UNITA. Qualquer um que analisasse com rigor e frieza o processo político angolano nunca viu nele um candidato sério à chefia do Estado. Samakuva era, isto sim, o líder da transição de uma UNITA bélica para um partido do confronto dentro das instituições criadas pelo MPLA. Com méritos e deméritos, com altos e baixos, saiu e deixou a UNITA a salvo. Cumpriu o seu papel. Vê-lo hoje num espectáculo deprimente de luta de poder e de desmantelamento da Oposição útil, mais do que ridículo, é trágico. Cheira a traição.
No programa 'Conversas Essenciais' do último sábado, 06.07, o Graça Campos pedia aos angolanos para não se resignarem, porque, dizia ele citando os versos de uma canção religiosa, não há noite que não amanheça. Depois, aparecem estas Samakuvadas que ajudam a destruir a esperança e a resistência, particularmente dos jovens. Que alguém diga a Samakuva que já ultrapassou, há muito, a barreira da idade de ter juízo. Ora essa.
Evaristo Mulaza, jornalista, Director do Jornal Valor Económico.
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