A SOMBRA DO IMPÉRIO AMERICANO NO SOYO

 


Num canto do norte de Angola, propriamente na cidade costeira do Soyo, um novo capítulo das relações internacionais angolanas começa a se desenrolar. Sob o olhar atento de analistas e observadores, as movimentações discretas, mas inequívocas, para a instalação de uma base militar norte-americana revelam uma realidade que o Governo de Luanda, até agora, prefere não confirmar.


A presença militar dos Estados Unidos em solo angolano é um tema sensível e complexo. Durante décadas, o MPLA manteve uma postura rígida contra qualquer intervenção estrangeira, especialmente daquelas potências rotuladas como imperialistas. Era uma época em que as acusações contra a UNITA de ser "lacaios dos imperialistas" ressoavam com fervor nas trincheiras políticas e nos discursos inflamados.



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Hoje, porém, a situação é distinta. Analistas ouvidos pela Deutsche Welle (DW) alertam que a base no Soyo não apenas infringe a Constituição de Angola, mas também carrega consequências profundas tanto para o país quanto para a região. A aliança militar com os EUA, ao que parece, é impulsionada pela necessidade de proteger interesses econômicos estratégicos, como o Corredor do Lobito e, mais criticamente, na República Democrática do Congo (RDC).


Esse movimento representa uma guinada significativa na ideologia do MPLA. Em troca da sobrevivência política e da manutenção do poder, o governo actual parece disposto a abrir mão de princípios outrora inabaláveis. O ajuste das políticas econômicas sob a tutela do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) também reflete essa nova postura pragmática e, para muitos, controversa.


Mas a questão que ressoa entre as ruas de Luanda e os mercados de Soyo é se tal pragmatismo vale o preço da soberania nacional. Para um país que lutou arduamente pela sua independência, a instalação de uma base militar estrangeira é vista por muitos como uma violação à sua dignidade e um retorno aos tempos em que interesses externos ditavam o destino angolano.


As consequências dessa decisão são vastas e imprevisíveis. Para a região, a presença norte-americana pode representar uma nova dinâmica de poder, com potencial para exacerbar tensões já existentes. Para Angola, a aceitação de uma base militar em seu território pode ser vista como um sacrifício dos valores de independência e soberania que uma vez nortearam a nação.


Assim, enquanto os trabalhos continuam no Soyo, a nação aguarda, silenciosa e apreensiva, as respostas de um governo que ainda não se pronunciou. O silêncio da Cidade Alta é ensurdecedor, e a sombra do império se estende, questionando o preço da sobrevivência política e os rumos da pátria angolana.

Hitler Samussuku

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