Coloco-me todas estas questões face à situação de um golpe de Estado falhado na RDC, cujos relatórios mostram as ligações com Angola, ao mesmo tempo que tento compreender o papel de João Lourenço e dos seus serviços de segurança neste falhado golpe em Kinshasa, onde é ao mesmo tempo mediador e grande amigo do ditador Paul Kagame, que mantém a instabilidade e a guerra no leste da RDC, há mais de duas décadas.
Como é seu hábito, sempre que discursa em África, o incompetente presidente do MPLA e Presidente não eleito de Angola, João Lourenço, proferiu mais uma vez um fervoroso discurso de excelente demagogia, nas Comores, onde expressou a sua ocupação com a situação de instabilidade em países da África Austral, como a Republica Democrática do Congo e Moçambique.
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O discurso demagógico é um exercício que o incompetente Presidente João Lourenço gosta porque tudo o que diz e aconselha os outros presidentes é o oposto de tudo o que faz em casa, no seu país e contra o povo angolano.
Ele próprio, cujo regime nunca organizou nem ganhou legitimamente uma eleição de forma livre e transparente, repetiu num discurso demagógico, na cerimónia de investidura do Presidente das Comores, Azali Assoumani (foto), que “a única via sustentável e legítima de se conquistar o poder em África é através de eleições livres, justas e transparentes”, o contrário de tudo o que sempre fez desde que foi imposto por José Eduardo dos Santos como presidente e ao mesmo tempo, pergunto-me como conseguirá justificar ao seu homólogo na RDC, a presença em Angola com militares angolanos, daquele que tentou dar um golpe para tomar o poder?
João Lourenço não tem legitimidade para dar lições de democracia quando sabemos que a sua eleição gerou tensões que, sem a maturidade da UNITA, teriam levado as forças policiais do regime a reprimir com sangue todas as manifestações, e mesmo até à data não consegue governar o país de forma pacífica mas sim, num clima de terror, de exclusão dos líderes da oposição, aumentando os actos de violência e intimidação contra os deputados da oposição, sem possibilidade de falar nos meios de comunicação estatais.
Numa espécie de amnésia e patologia que o caracteriza, João Lourenço elogiou Azali Assoumani pelo seu papel enquanto Presidente em Exercício da União Africana no ano de 2023, pela abordagem realista e pragmática “dos principais problemas que a África enfrenta”.
Francamente, são necessários óculos mais claros do que estes para ver e compreender que o ditador das Comores e a União Africana nunca conseguiram resolver nenhum conflito africano em 2023?
Poderá João Lourenço, como mediador da crise na RDC, dar-nos a avaliação da sua acção, quando as suas próprias tropas violam cada vez mais as fronteiras da RDC em busca da eliminação dos soldados da FLEC e do assassinato de refugiados Cabindas legalmente estabelecidos no RDC e com total impunidade?
Ele elevou o nível de cinismo com o seu discurso ao declarar sem ironia que a passagem do ditador das Comores à frente da UA «é um legado que nos orgulha e que vai servir de guia e de orientação para definirmos as estratégias que permitam acelerar os processos de promoção do diálogo tendente a pôr fim aos conflitos no nosso continente e, assim, abrir o caminho ao desenvolvimento económico e social dos nossos países…»
Diálogo, resolução de conflitos e desenvolvimento económico, que são bases para uma boa governação nunca serão bem-vindas na cabeça do Presidente Lourenço, que não considera os adversários como adversários políticos com direitos constitucionais reconhecidos, mas antes como inimigos mortais que devem ser eliminados quando necessário e sem piedade.
Diálogo para João Lourenço é falar primeiro consigo mesmo, e ouvir as mesmas palavras dos seus súbditos bajuladores e medrosos que se ajoelham diante dele para terem a paz social nas suas cozinhas, sob pena de perderem as oportunidades que lhes permitem arruinar o país sem prestarem contas ao Povo angolano.
Desenvolvimento para o nosso incompetente presidente é continuar a política de distribuição do capital económico do país nas mãos do clã eliminando sistematicamente qualquer forma de igualdade de oportunidades à juventude, passando todos os contratos estratégicos da economia dos países nas mãos de estrangeiros e de outros círculos familiares sujeitos à sua influência.
A resolução de conflitos para João Lourenço é a eliminação física de qualquer pessoa ou opinião contrária por métodos brutais, é a única ferramenta que ele conhece desde que entrou na política, caso contrário, como poderá ter sucesso na sua missão de mediação na RDC se no seu próprio país não pode dialogar com os seus “irmãos Cabindas”, com os seus irmãos da UNITA e com outros actores da sociedade civil, excepto através da corrupção ou de outros métodos vergonhosos e tratamentos degradantes.
Esta é a verdadeira natureza do nosso presidente, este é o estado da sua alma, uma alma ignorante, triste e/ou frustrada, por quê e por quem? Não sei…
Mas sei uma coisa: os assassinatos, o ódio e a violência que continuam a ser cometidos por ele e pelo seu regime não vêm de um coração perverso, mas de uma alma ignorante e frustrada, por aquele que sabe, pelo contrário, recusar-se-á sempre a dominar e a violar, ele sempre preferirá o exemplo ao poder.
Mas para João Lourenço o poder é a dominação e não o meio de servir pelo exemplo e pela humildade…
Que Deus abençoe Angola e Cabinda.
Osvaldo Franque Buela
(*) Refugiado político, França
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