Numa brincadeira, o Morais Canâmbwa diz que faltou «inteligência emocional ao português Alexandre Santos, o Petro de Luanda acabou por ser afastado sem honra nem glória da liga dos campeões, pelo TP Mazembe, ao perder (1-2) em pleno 11 de Novembro, quando quase toda a nação futeboleira angolana já pensava que a qualificação às meias-finais seria conseguida com um pé às costas, depois do nulo inspirador obtido em Lubumbashi, na primeira «mão».
A turma do Catetão chegou a estar em vantagem entre o 29.º e o 82.º minutos, altura em que os visitantes conseguiram a igualdade, o que já lhes dava a qualificação, tendo investido tudo nesse sentido, após descobrirem que o adversário estava a jogar bem cagunfado, por indução do seu treinador, que mantinha uma disposição táctica virada para a retranca, quando se impunha alguma ousadia ofensiva.
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Já nos descontos, desesperado, o guarda-redes Hugo Marques abandonou o posto e foi tentar a sorte num pontapé-de-canto. Não tendo obtido sucesso, ao invés de regressar ao seu lugar, deixou-se ficar anedoticamente lá na frente, o que seria aproveitado pelos mazembistas para marcarem o golo da vitória com a baliza escancarada.
O treinador Alexandre Santos, com uma verborreia daquelas e como a querer passar um atestado de menoridade intelectual a todos nós, recusa-se a aceitar que fracassou à toda a linha, quando, pelos biliões que o clube investiu, o mínimo que Tomás Faria lhe terá exigido é decerto que chegasse à final da competição, já que, só ganhar o Girabola e a Taça de Angola, já cheira a alho.
Em Abril de 1988, tive o privilégio de ser indicado para fazer a cobertura dos dois encontros da primeira eliminatória entre eles, era eu o subeditor da secção desportiva do Jornal de Angola, que tinha o meu saudoso compadre Aleluia como chefe.
Provavelmente em razão do misticismo da região de que provém, o «tenebroso» Katanga, entretanto renomeado como Shaba pelo ditador Mobutu (entre 1971 e 1997, ano em que foi derrubado por Laurent Kabila), o TP Mazembe já era muito temido à época.
No entanto, embora fosse um clube de criação recente, o Petro de Luanda, então sob comando do brasileiro António Clemente, já de feliz memória, soltou-se o suficiente para «comer» a famosa e temida turma congolesa com garfo e faca, na cidadela, vencendo-a por 2-1, o que me levou a escrever que nesse jogo o «tout-puissant» de poderoso só tivera o nome. Os katangueses sentiram-se ultrajados.
E quando descobriram que o Gonçalves Neto que estava a cobrir o jogo da segunda mão em Lubumbashi era o mesmo Salas Neto que os havia «ofendido» em Luanda, quase acabava linchado, por incitação dum colega malandro duma rádio local. Assim que ele desse uma dica em swahili ou em baluba a meu respeito, o povo todo no estádio virava-se ameaçadoramente para mim.
E só não sou esfolado, eu acho, porque o Petro de Luanda me fez o favor de ganhar o jogo lá, com golo de Abel Campos, o que levou os katangueses a concluírem que afinal eu estava cheio de razão, quando dissera que eles de todo-poderosos já só tinham mesmo o nome.
Saímos escoltados do estádio directamente para o aeroporto. Entretanto, eu estava com um outro makongo: se tentasse abandonar o autocarro sem o resolver, seria detido.
Não tivera tempo para honrar um compromisso assumido estupidamente na véspera, se calhar já chuchado ou quê, ao prometer uns trocados a uma rapariga da noite, que sequer cheguei a tocar, juro mesmo, condoído pelo facto dela estar a «fazer vida» de parto fresco, assim que cambiasse algum cumbu.
Dando conta de que eu já não voltaria ao hotel depois do jogo, a gaja, empolando o assunto, accionou a polícia para proceder à cobrança do «devido», como se eu lhe tivesse dormido sem querer pagar, que é crime grave lá no Katanga.
Consciente da borrada decorrente da minha magnanimidade, vi-me forçado a assinar um cheque de viagem de cem dólares, que entreguei ao assistente da nossa embaixada para resolver o pendente, com um grande prejuízo para mim, já que vinte paus seriam suficientes.
Contudo, certo mesmo é que eu até era capaz de pagar mais, só para que aqueles dois gendarmes katangueses bem batatudos que estavam no autocarro deixassem de olhar para mim tão ferozmente, com uma enorme vontade de me esganarem, como se eu fosse o diabo em pessoa. O bom é que não lhes dei esse prazer.
Mas, que viagem mais penosa, «mô deujo do céu». Uff!
Salas Neto- (Sueu na «ecos do areal» do jornal Metropolitano)
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