O nacionalista angolano Ernesto Mulato considerou que Portugal fez uma “descolonização manipulada” em Angola, que causou confrontos na transição após a independência, possível após o 25 de Abril de 1974.
Em entrevista à Lusa, o político da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido da oposição angolana) considerou que a queda do regime colonial português foi ditada pela guerra nas então colónias.
O processo de transição em Angola para o alcance da independência em 11 de novembro de 1975 foi, disse, viciado por Portugal, referindo que o capitão português Melo Antunes já tinha a pretensão de entregar o poder ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), antes mesmo do Acordo de Alvor, que estabelecia a partilha do poder entre os três movimentos de libertação.
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“Os portugueses já sabiam a quem iriam passar a independência, mas nunca o podiam mostrar abertamente”, afirmou ainda Ernesto Mulato, salientando que mesmo com o governo de transição a “estratégia de Portugal era facilitar (a vida) ao MPLA” e que “a descolonização foi só uma manipulação”.
“Portugal tinha forças suficientes em Angola, que podiam travar toda e qualquer provocação de qualquer partido político, mesmo dos três movimentos ao mesmo tempo (…). Então, como já estavam nessa manobra toda eles nunca iriam fazer algo na linha de uma descolonização correta, porque a descolonização correta seria os três movimentos aqui que faziam a sua rotação”, concluiu.
Para Ernesto Mulato, “o 25 de Abril foi a consequência da luta das colónias, nos anos 50 os movimentos de libertação em clandestinidade começaram a fazer as suas ações e a luta começou em 1961”.
“Não vamos aqui dizer quem começou primeiro com a luta, porque o próprio Governo português di-lo aquando do 15 de março de 1961”, disse.
Embora tenha havido, em Luanda, ações em 04 de janeiro e em 04 de fevereiro de 1961 (atualmente feriado nacional em Angola, assinalando a data de início da luta de libertação nacional em Angola), para os portugueses, observou, o 15 de março de 1961 foi a data que “estremeceu” o regime com os ataques da UPA (União dos Povos de Angola, posteriormente Frente Nacional de Libertação de Angola, liderada por Holden Roberto) contra os colonos no norte de Angola.
Joaquim Ernesto Mulato, 83 anos, que começou a vida política ativa, em 1959, tendo na década de 1960 militado na UPA, destacou as figuras de Holden Roberto, Barros Nekaka e Johnny Eduardo Pinnock (um dos principais oficiais da FNLA no Acordo de Alvor de 1975) como mentores do processo.
A UPA/FNLA, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) e a UNITA foram as forças independentistas que protagonizaram a conhecida luta armada de libertação nacional contra as Forças Armadas de Portugal.
Militante da UNITA desde a década de 1960, Ernesto Mulato recorda que o início da luta de libertação em Angola e noutras colónias criou graves problemas ao regime português, referindo que António de Oliveira Salazar “minimizava” as ações noutras colónias, mas dedicava particular atenção a Angola e Moçambique.
“Salazar, na altura, poderia talvez deixar Guiné (Bissau) e o resto, mas para Angola e Moçambique tinham de entrar com muita força, então a guerra aqui foi renhida”, observou.
O nacionalista angolano referiu que a guerra colonial foi desgastante, sobretudo para Portugal, não só para os portugueses envolvidos diretamente nas batalhas, mas também para sociedade portuguesa, com reflexos negativos no bem-estar social e económico do país.
Mulato que, em 25 de abril de 1974 se encontrava a estudar em Londres, recordou que meses antes jovens portugueses chegados a Inglaterra, vindos da Argélia, já anteviam uma situação difícil em Portugal.
Um ano antes do 25 de Abril, Marcelo Caetano tinha visitado Londres e garantira aos jornalistas que “não temia um golpe de Estado e que Portugal era um dos países europeus mais democráticos, (…) mas afinal de contas já havia semente”, salientou.
Ernesto Mulato, membro fundador da UNITA em 1966, considerou que o 25 de Abril de 1974 foi “bem recebido” por todos os movimentos de libertação, tendo Portugal encontrado “sem dificuldades” parceiros na Guiné-Bissau e Cabo Verde, por via do Partido Africano da Independência Total de Angola (PAIGC), e em Moçambique por via da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), tendo dificuldades, no entanto, em Angola.
Ernesto Mulato, natural do Bembe, província do Uíje, onde nasceu em 12 de agosto de 1940, é brigadeiro reformado da Força Aérea Nacional de Angola. Foi vice-presidente da Assembleia Nacional (parlamento) de Angola e vice-presidente da UNITA, no qual é atualmente membro do conselho da presidência e do Comité Permanente da Comissão Política.
Lusa
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