Por anos a fio, este espaço foi incansável nos alertas a João Lourenço para os riscos da diplomacia truculenta na abordagem do sensível dossier chinês. E os avisos sempre foram fundamentados conforme a crueldade dos factos.
A China era e é o nosso principal problema externo. Por arrasto, no quesito Finanças Públicas, passou a ser também o grande problema interno. Sem abdicar do dever de defesa da soberania do país, João Lourenço tinha, por isso, a obrigação de controlar o verbo sempre que levantasse o tema chinês em praça pública.
Por sua conta e risco, o Presidente decidiu ignorar por completo as críticas. Optou antes por alinhar-se a algum lunatismo que insiste em tentar convencê-lo de que, no limite, Angola pode escolher simplesmente fazer-se de caloteira. No que dizem e escrevem publicamente, os ‘influencers’ do Presidente não lhe oferecem, entretanto, uma única linha sobre o que seriam as consequências económicas, sociais, políticas e reputacionais para Angola, caso se decidisse por uma escolha tão radical.
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Dizem-lhe apenas que, perante uma eventual inflexibilidade chinesa, não pagar a dívida é uma opção a ter em conta. Um provérbio improvisado diria, por analogia, que “há malucos para todos os gostos”. Se dúvidas persistissem, a chamada de capa do Valor Económico desta edição eleva a fasquia da complexidade do tema chinês a um patamar até agora inexplorado. Asseguram fontes diplomáticas chinesas que, por trás dos sorrisos e apertos de mãos perante as câmaras, João Lourenço experimentou uma das mil formas da tortura chinesa.
Numa reunião fora da agenda oficial, na esfera do Partido Comunista Chinês, o Presidente angolano ouviu pesados ralhetes de Xi Jinping que o deixaram indisposto. E, por incrível que pareça, como atestam as fontes, os ‘nervos’ de Xi Jinping não se resumiram às críticas de João Lourenço ao alegado oportunismo chinês no uso do petróleo como colateral da dívida. O líder do gigante asiático disse olhos nos olhos a João Lourenço que não gostou da forma como este maltratou o finado Presidente José Eduardo dos Santos.
Manifestou-lhe que não foi correcta a forma como empreendeu o chamado combate à corrupção, ao arrastar para a lama a reputação de empresas e investidores chineses de forma injusta.
Sem surpresa, Xi Jinping também fez questão de recordar a João Lourenço que a aliança que procura junto dos Estados Unidos não é minimamente amistosa para os interesses chineses, muito menos ainda para o velho aliado russo. E até fez questão de lhe exemplificar com a forma como a Administração Biden fez de Volodymyr Zelensky uma marionete encurralada.
Xi Jinping deixou desta forma claro que a tese do pragmatismo económico chinês nas relações com os parceiros 'é relativa', como provavelmente diria o próprio Pre- sidente angolano. Os afectos, as amizades, as lealdades, a histó- ria, tudo isso pode rivalizar com o dinheiro mesmo nas relações entre Estados. Enquanto histo- riador, João Lourenço não teve de aprender isso com a 'vingança chinesa'. Sempre o soube.
Valor Econômico
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