O engenheiro agrónomo Fernando Pacheco disse hoje que o MPLA (no poder) não consegue resolver sozinho os problemas de Angola, defendendo um pacto político e social para travar a frustração dos jovens.
Centrais sindicais angolanas, que exigem aumento do salário mínimo nacional e redução de impostos, marcaram greve geral com início previsto para 20 de março e muitos cidadãos angolanos têm manifestado descontentamento sobre a situação socioeconómica do país marcada por preços elevados dos bens essenciais, desvalorização do kwanza (moeda nacional) e baixo poder de compra.
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“Compreendo os jovens que hoje se manifestam no sentido de dizer que no tempo colonial a saúde e a educação eram melhores, havia menos pobreza e menos fome, compreendo esse sentimento de frustração principalmente da parte dos jovens e de alguns, ou muitos, não jovens”, afirmou hoje Fernando Pacheco em declarações à Lusa.
Para o ex-conselheiro do Presidente angolano, João Lourenço, a “frustração” dos cidadãos, sobretudo jovens, é fruto da atual situação política, económica e social do país, “que deixa muito a desejar”.
“O nosso país, de certo modo, vive uma situação de ‘desconseguimentos’”, salientou, fazendo alusão às acções do domínio socioeconómico e político que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) não conseguiu concretizar em quase meio século de independência.
“É preciso perceber porque é que os jovens estão frustrados e estão frustrados pelos ‘desconseguimentos’ do MPLA, como é que isso se resolve? Mudando as políticas”, frisou.
Fernando Pacheco, 75 anos e que já foi director do departamento de política agrária do MPLA, não defende a saída do MPLA no poder, considerando, no entanto, que o partido no poder já mostrou que sozinho não é capaz de resolver os problemas do país”.
De acordo com o engenheiro agrónomo angolano, hoje dedicado à consultoria e ativismo social, a solução para o país seria um pacto entre as principais forças políticas e sociais.
“Já sugeri em diversas situações que a solução para o país seria um pacto entre as principais forças políticas e sociais de forma que se criasse um clima de confiança, um novo clã no país que permitisse abertura, mais entusiasmo dos jovens frustrados, enfim, um novo ambiente para se construir um país mais inclusivo”, apontou.
Pacheco considerou que Angola não conseguiu diversificar a economia, que continua extremamente dependente do petróleo, não conseguiu um sistema de ensino sólido e que produza conhecimento, não alcançou a reconciliação nacional, a democracia e a inclusão, referindo serem estas alguns dos vários ‘desconseguimentos’ do país.
O responsável entendeu, por outro lado, que a dependência da economia angolana ao petróleo tem implicações na criação de empregos: “Nós criamos empregos em quantidade muito diminuta e alguns casos até criamos desemprego”.
Os jovens “ficam numa situação terrível” e aí aparece o segundo ‘desconseguimento’ a nível da educação, referiu.
“O nosso sistema educacional é um fracasso, as crianças não aprendem a ler e escrever em condições”, disse.
Manifestou-se igualmente contrário à existência no país de mais de 100 universidades, “80% privadas”, considerando que estas não produzem conhecimento e estão mais preocupadas com o lucro.
“E, então, os jovens acabam os cursos, não têm empregos e depois surgem problemas incríveis de caráter social e até racial, porque uns conseguiram e eles não, mas o problema tem que ser visto lá atras, porque o ensino é mau”, referiu.
Sobre o ensino superior lamentou que Angola não tenha “nenhuma indústria que funcione” apesar de contar com 400 mil estudantes universitários, afirmando estar-se diante de um paradoxo, quando, recordou, a extinta Checoslováquia, em 1968, detinha 120 mil estudantes universitários e era uma potência da indústria mundial.
“É um paradoxo e isto é que não pode ser. É aí que temos de analisar o nosso problema e os nossos ‘desconseguimentos’”, insistiu.
O antigo membro do Conselho da República no primeiro mandato do Presidente angolano João Lourenço criticou ainda o MPLA por “lançar a ideia de que para se ter um bom salário era preciso ser doutor”.
“Ora, nenhum país funciona só com doutores, isso não é possível, precisamos de bons operários, bons técnicos médios, técnicos auxiliares e não há nenhum país que funcione sem isso”, observou.
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