NOMEAÇÃO DE RUI FALCÃO: UMA FORMA DE ESCONDER A CRISE



A indicação de Rui Falcão (RF) para o cargo de ministro dos Desportos, depois de ter sido afastado em circunstâncias escabrosas das funções de secretário do BP do MPLA para a Informação e Propaganda, colheu de surpresa a opinião pública.


Com a sua saída do núcleo duro do partido dos “camaradas”, após a polémica entrevista que concedeu à LAC, esperava-se que RF fosse acomodado na bancada parlamentar do seu partido, que é uma espécie de “vale dos caídos”. Ou seja, um espaço onde os «rejeitados» do Executivo são largados. 



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Por mais que o MPLA pretenda negar os efeitos colaterais da entrevista de RF a José Rodrigues, a mesma a trouxe à superfície uma verdade incómoda: João Lourenço não é uma figura consensual, na eventualidade de avançar para um terceiro mandado à Presidência da República. Isso pressupõe que o partido governante começa a dar sinais de divisão interna nesse aspecto e a falar a duas vozes. 


RF, pelo peso que goza no seio do “M”, disse o que vai na alma de muitos dos seus camaradas de partido, mas que não têm coragem de abordar publicamente o assunto com medo de eventuais represálias. 


Ao contrário do líder do seu partido, o irascível RF admitiu a existência de elevados índices de pobreza no seio das famílias e da fome que corroí milhões de estômagos dos angolanos.


Ao trazer à liça os graves problemas sociais que afectam os angolanos, o antigo secretário da Informação do “M” deixou transparecer que há uma franja de dirigentes partidários que não revem nos métodos de gestão de João Lourenço. 


Em alguns meios crê-se que o regresso de RF terá sido no sentido de passar a ideia de coesão no seio de um partido aparentemente dividido, assim como de convencer a opinião pública que ele não foi penalizado, mas simplesmente chamado para ocupar novas funções no aparelho governativo. 


Se, por um lado, João Lourenço conseguiu algum ganho com essa movimentação de peças no seu tabuleiro político, por outro, adiou ou fez uma fuga para frente na abordagem de um assunto polémico que, cedo ou tarde, virá a superfície.


Até ao próximo congresso do MPLA prevista para 2026, muita água irá correr debaixo da ponte e o rio poderá transbordar devido ao estreitamento das suas margens. Ou seja, a falta de diálogo aberto e democrático no seio deste partido.

Ilídio Manuel

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