O Falso Namoro e os Verdadeiros Bandis - Artur Queiroz



Não façam isso ao Rui Mingas! A TPA põe no ar aldrabices infames sobre a vida e obra do músico, compositor, intérprete, desportista, diplomata, educador e político. Há necessidade disso? Sim, a quinta coluna que apostou em fazer de Angola um invólucro sem povo livre nem alma precisa de falsificar tudo em que toca. Transformar o nosso ouro cultural em lixo infecto. 


Hoje um fazedor de arte” associou a figura de Rui Mingas a “dois ícones da cultura angolana, António Jacinto e Boaventura Cardoso”. Nem um nem outro merecem essa boca irresponsável e falsa. Quando Rui Mingas nasceu, António Jacinto já namorava. Podia ser pai. Quando o compositor, músico e intérprete musicou o seu poema “Monangambé” (eu vou de carro e tu vis a pé!) o poeta estava preso no campo de concentração do Tarrafal. São gerações diferentes mas complementares.


Boaventura Cardoso em 1975 era funcionário público (trabalhava no Ministério da Informação) e não tinha qualquer livro publicado. Não era escritor. Ao contrário de Rui Mingas que já tinha gravado discos. “Temas Angolanos” foi lançado em 1974. Um estrondo. Boaventura não tem valor? Tem e muito. Em poucos anos impôs-se como escritor angolano. Mas nada tem a ver com a obra de Rui Mingas e muito menos com as vozes fundadoras da Literatura Angolana. Quando a geração “Vamos Descobrir Angola” começou a demolir o colonialismo, Boaventura Cardoso ainda nem andava na escola primária.



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Um músico angolano apresentado pela TPA como “ícone” da actual música angolana disse, muit0o despachado, que a grande inspiração dele na música de Rui Mingas é o tema “Namoro”. A ignorância é muito atrevida. O poema “Namoro” de Viriato da Cruz foi musicado pelo “cantautor” angolano, do Huambo, Fausto. Recomendo-vos os álbuns “Por Este Rio Acima” e “A Preto e Branco”. Quem primeiro interpretou o tema foi o “cantautor” português Sérgio Godinho. Um portento. Portanto, o “ícone” da música contemporânea angolana foi inspirado pelo grande Fausto.


Lamento regressar ao tema do Hino Nacional. Mas estes dias têm sido férteis em falsificações e alucinações mais ou menos desculpadas. Até dizem que foi lançado um concurso público e ganhou o “Angola Avante”. É mentira. A grande notícia da TPA: Manuel Rui Monteiro fez a letra em meia hora e depois foi só gravar. Os poetas repentistas provavelmente escreviam a letra em dois minutos.


O Hino Nacional foi encomendado a Tazinha de Mascarenhas (compositora, música, pianista) e Eduardo Nascimento (compositor, músico, cantor) na época funcionário da companhia aérea TAP. Os dois trabalharam na obra e quando ficou concluída, entrou na equipa o poeta e muscólogo Jorge Macedo, que mobilizou o coro da sua Igreja. Ed Nascimento e Jorge Macedo informaram-me que a obra estava pronta e no dia seguinte de manhã, ia ser gravada a versão oficial no grande estúdio da Emissora Oficial de Angola (RNA).Nessa altura trabalhava no Diário de Luanda. Mobilizei o repórter João Serra e o fotojornalista Bernardo para fazerem a cobertura do acontecimento.


Nesse dia a manchete do jornal (saía à tarde…) foi a reportagem da gravação daquela versão do Hino Nacional. Ao fim da tarde telefonou-me o comandante Nzaji: Vocês publicaram essa reportagem e agora estão todos a dizer que o hino é da autoria de colonialistas. Colaboradores do regime colonial. Vamos mudar o hino! E mudaram. Em cima da hora, à pressa.


O Ed Nascimento não se incomodou. Ainda nos rimos os dois. A pianista Tazinha de Mascarenhas não lhe deu confiança (as Manas Mascarenhas dos Coqueiros são assim…) mas Jorge Macedo cortou para sempre com quem protagonizou tal canalhice. O Hino Nacional nasceu desta forma. Não foi falta de planeamento, indisciplina ou incompetência. Foi para satisfazer interesses obscuros da quinta coluna, como lhe chamava o saudoso Rui de Carvalho.


A Rádio TSF tinha na grelha uma rubrica intitulada “Crónicas de Escárnio e Maldizer”. Cada dia útil da semana tinha um autor. Às terças-feiras era o actor Mário Viegas e eu às quartas. O Coronel da Lusomundo (Luís Silva) em conluio com Cavaco Silva e a tenebrosa tralha cavaquista/chupista abocanhou o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, O Jogo e a TSF. Traficância política do mais rasteiro que alguma vez aconteceu em Portugal.


Um dia “dispensaram” Mário Viegas da crónica de terça-feira. Ele telefonou-me: Estes gajos censuraram-me! E eu: Serás vingado! Arranjei uma desculpa para não gravar a minha crónica de véspera. Apresentei-me no estúdio manhã cedo e foi para o ar em directo. Disse que os fascistas eram burros como portas de ferro. Tinham enxames de censores para estraçalhar a Liberdade de Imprensa. Inteligentes são os cavaquistas beneficiários do 25 de Abril. Para a censura basta-lhes o Coronel da Lusomundo!
Pouco depois David Borges telefonou-me: Tenho imensa pena mas venho dizer-te que a tua crónica acabou. Ofendeste o chefe.


Camarada, estás a perder tempo! Achas que depois de censurarem o Mário Viegas eu voltava a colaborar nesse antro? Felicidades a todos. Bem precisam porque estão metidos no pântano cavaquista até ao pescoço. Em breve deixam de respirar.


Nessa altura eu era jornalista do Jornal de Notícias. O Coronel da Lusomundo mandou para lá um tal Feitas Cruz, comissário político rastejante dos cavaquistas. Tinha sido antes saneado pelos jornalistas! A mudança coincidiu com a minha ida para o Iraque onde cobri a primeira guerra para depor Saddam Hussein. Os novos “chefes”, rastejando aos pés dos cavaquistas, todos os dias me diziam que eu estava a enviar textos totalmente diferentes daqueles que eram despachados pelas agências noticiosas! Até os senhores embaixadores estão a protestar!


Não cedi. Mas no dia em que cheguei a Portugal, entrei na Redacção, apanhei umas coisas pessoais que tinha na secretária e nunca mais entrei naquela casa. Não servi o Coronel da Lusomundo. Não fui servente do cavaquismo. Bati com a porta. Mandei o patrão à merda.


Hoje, os que aceitaram a interferência cavaquista nos Media, os que rastejaram aos pés do Coronel da Lusomundo, os que censuraram Mário Viegas, choram lágrimas de crocodilo. Antes mostravam que lhes faltavam conhecimentos básicos de gramática. Agora também não têm um átomo de vergonha. Grandes bandis!


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