Em entrevista exclusiva à DW, o ex-banqueiro luso-angolano, Álvaro Sobrinho, refuta acusações de desvio de fundos, critica a imprensa portuguesa e fala das medidas anticorrupção em Angola e titularidade do Novo Jornal.
Álvaro Sobrinho, ex-presidente executivo do Banco Espírito Santo Angola (BESA), contestou veementemente as informações que circulam na imprensa, as quais o acusam de ser responsável pelos desvios de fundos ocorridos durante sua liderança no banco, mais tarde transformado no Banco Económico (BE).
O ex-banqueiro angolano, sob medidas de coação impostas pela justiça portuguesa há anos, afirmou, em entrevista exclusiva à DW, que este é um dos processos mais longos e violentos abertos em 2010 pelo Ministério Público português.
"Resumidamente, este processo de Angola em 2010 (77/10) foi arquivado. Ninguém foi acusado, mas a certidão que deu lugar a este processo continuou. O processo base cai, mas o processo 244/11 continuou. Aí nesse processo, fez-se o primeiro arresto de meus bens em Portugal com a argumentação dos crimes apontados, na altura, de burla, associação criminosa, branqueamento de capitais e mais um outro que eu agora não me recordo", revelou.
Falsas acusações?
"Numa fase inicial," explica, "era um processo vindo de Angola que tinha que ver com o Banco Nacional de Angola (BNA) e que envolvia o seu nome sem nenhuma queixa por parte da justiça angolana."
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É desta forma que Álvaro Sobrinho quebra o silêncio e esclarece os factos, contextualizando passo a passo os processos que recaíram sobre ele depois da investigação iniciada em 2010 pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
"E, apesar de não ter sido, no fundo, acusado por ninguém ou pelo menos indiciado por ninguém, o Ministério Público [português] assim o decidiu porque tinha recebido fundos cá em Portugal, que eles achavam que era de proveniência ilícita", disse.
A fase atual do processo em Portugal coincide com o arquivamento, em maio de 2021, na Suíça, um dos países por onde passaram os fundos transferidos do então Banco Espírito Santo (BES) e onde o ex-banqueiro também foi investigado e absolvido.
"Um novo interrogatório acabou em março de 2022 com as medidas de coação mais violentas jamais vistas em Portugal."
Sobrinho aponta o dedo à imprensa, sobretudo a portuguesa, que se encarregou de fazer o seu julgamento prévio, depois de ter sido arquivado o processo inicial. "Eu já estou condenado há 14 anos e tudo o que vem na imprensa é uma condenação", contou.
Medidas anticorrupção em Angola
Inquirido pela DW sobre o que pensa a propósito das medidas de combate à corrupção lançadas por João Lourenço, em 2017, Sobrinho diz que o Presidente angolano "nunca escondeu na sua campanha eleitoral o combate à corrupção. Uma coisa é dizer: «eu quero combater a corrupção»; coisa completamente diferente é quando se chega lá e se vê que a corrupção tem uma dimensão estrutural. E quando se tem uma dimensão estrutural leva muito tempo a que ela seja combatida", revelou.
"É um processo que não começa nem acaba com o Presidente João Lourenço”, admite.
O Novo Jornal
Álvaro Sobrinho também questiona a titularidade do "Novo Jornal”, na sequência de umlitígio na justiça angolana que envolve o seu irmão, Emmanuel Madaleno, a quem acusa de "abuso de confiança”. Sobrinho meteu um processo cível contra o irmão, que diz por seu lado que o jornal é propriedade do Grupo Nova Vaga.
A propósito da ocorrência do passado dia 22 de dezembro, reportado pela DW, o empresário explica que: "a polícia esteve presente para, no fundo, fazer cumprir uma ordem do tribunal pela qual as pessoas que lá estavam dentro não queriam cumprir. E quando assim é, em qualquer país, quando há uma resistência à justiça é evidente que a justiça pede a intervenção dos órgãos policiais para fazer cumprir a lei", disse.
Álvaro sobrinho quer recuperar o "Novo Jornal” com base na verdade e explica que o título foi adquirido por ele ao Grupo Espírito Santo, através da White Capital, detido em 70 por cento pela empresa New Media.
Como filantropo e pelo prestígio que diz ter granjeado junto de instituições internacionais de crédito, o empresário assegura que quer libertar-se destes processos na justiça para continuar a dedicar o seu esforço a ajudar os menos favorecidos e a apostar na formação da juventude em África, não só em Angola.
DW
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