Negócio de aviação do general Sequeira João Lourenço, nomeado este ano pelo irmão para o cargo de chefe adjunto da casa militar da presidência de Angola, levanta dúvidas sobre como adquiriu três aeronaves à Sonangol e como se associou a algumas figuras do regime político em Kinshasa.
Félix Tshisekedi, o presidente da República Democrática do Congo, tem estado em plena campanha eleitoral para concorrer a um segundo mandato. Logo no seu segundo dia no terreno, a 20 de novembro, o líder da União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS) foi visto a bordo de um avião com um logótipo angolano, SLJ, e as cores da bandeira de Angola.
A sigla SJL quer dizer Sequeira João Lourenço. Esse é o nome de um general irmão do presidente angolano João Lourenço. O general herdou o nome do pai de ambos, um enfermeiro.
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Em janeiro de 2023, SJL foi nomeado chefe-adjunto da Casa Militar da Presidência da República de Angola, um departamento especializado na segurança nacional e em garantir a proteção do chefe de estado.
A SLJ Aeronáutica Congo foi criada em fevereiro de 2020 e é, aparentemente, uma subsidiária da SLJ Aeronáutica, uma empresa de aviação fundada em 2010 em Luanda, alguns anos antes de João Lourenço ter assumido o cargo de presidente, quando substituiu José Eduardo dos Santos em 2017.
Uma investigação desenvolvida pelo jornal congolês Actualité.cd, pela Plataforma para a Proteção dos Denunciantes em África (PPLAAF) e pelo Expresso, parceiros do consórcio que publicou a investigação Congo Hold Up em 2021, permitiu descobrir que a propriedade de sete dos nove aviões registados antes pela SLJ Aeronáutica em Angola foi transferida para a SLJ Aeronáutica Congo.
Alguns desses aviões têm sido usados com frequência por funcionários do governo da RDC desde que o atual primeiro-ministro, Sama Lulonde, chegou ao poder.
Sequeira João Lourenço não é formalmente dono da SLJ Aeronáutica Congo, apesar de ela ser apresentada no Facebook e no seu antigo site oficial como uma sucursal da SLJ Aeronáutica de Angola, onde o general detém (de acordo com um registo obtido em junho de 2023) metade do capital social da empresa, com os outros 50% a estarem nas mãos da esposa e dos seus seis filhos.
Um certificado do registo comercial em Kinshasa mostra que o único acionista formal da filial no Congo é um cidadão congolês, Serge Bialufu Mukanya, enquanto outro indivíduo também de apelido Bialufu — Papy Bialufu — aparece no LinkedIn e no Instagram como diretor-geral da SJL ango
Mas por que é que, então, Sequeira João Lourenço não se assume como o beneficiário efetivo da sucursal congolesa?
O general não respondeu a um pedido de esclarecimento enviado pelo Expresso através do gabinete do presidente, onde trabalha atualmente.
AVIÕES QUE VIERAM DA SONANGOL
Na investigação feita às atividades da SJL Aeronáutica em Luanda foram identificados três aviões que passaram do estado angolano para a empresa do general sem serem publicamente conhecidos os contornos dessas transferências de propriedade, incluindo os preços pelos quais foram comprados.
Os três aviões em causa foram operados no passado pela SonAir, a companhia aérea da petrolífera estatal Sonangol.
Trata-se de duas aeronaves de fabrico canadiano, De Havilland Twin Otter, com motores a hélice e 20 lugares para passageiros, com as matrículas D2-FVO, D2-EVC; bem com um Fokker F27-500F de matrícula D2-ESN, usado para transportes de carga.
Num dos despachos do Ministério das Finanças relacionado com uma desses aviões, o D2-FVO, publicado no Diário da República a 20 de fevereiro de 2018, foram delegados poderes ao então diretor nacional do Património do Estado para assinar “contratos de compra e venda por abate e alienação” para essa e outras aeronaves, não havendo, no entanto, quaisquer detalhes sobre as condições oferecidas nesses acordos.
No Congo, segundo alguns controladores aéreos e especialistas do sector, apenas dois a três das sete aeronaves da sucursal congolesa são efetivamente usadas no país. CONTINUA....
Jornal Expresso
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