O papel higiénico é um recurso que se utiliza para o uso sanitário e higiene pessoal, sobretudo depois de expulsarmos os excrementos. Recentemente “alguém” teve a mirabolante ideia de atribuir a uma marca de papel higiénico a designação de um dos grupos etnolinguísticos mais representativos do nosso Pais: o “Kikongo”! Mas, que abuso abusado (digo eu)!
Como se sente e é filho de boa gente e ainda por cima mukongo, o médico e militar reformado das Forças Armadas Angolanas (FAA), Matadi Daniel reagiu, nas redes sociais, à atribuição do nome “Kikongo” ao papel higiênico, nos seguintes termos:
“Isto é a todos os TÍTULOS CONDENÁVEL, acho até absolutamente reprovável, que o nome de um grupo etnolinguístico sejam eles; Kikongos, Kimbundus , Umbundus ou outros, seja dada à marca de PAPEL HIGIÉNICO cuja serventia, TODOS nós sabemos para que serve. É execrável e deveria ser criminalizado por esse atentado, a um dos grupos que formam o mosaico étnico desse país, do qual também sou descendente. Não pode valer tudo! Onde está o Regulador? Isso é algum Lugar, ou um País? Como é que se permite uma coisa dessas???”
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Cauciono com todas as minhas forças a posição de Matadi Daniel. A iniciativa constitui, de facto, um insulto. Os angolanos (de bem) querem uma Nação una e indivisível. Os angolanos, por si só, recusam-se a olhar-se mutuamente com base em rótulos políticos-ideológicos ou étnicos-tribais.
Nenhum angolano patriota quer um País em sobressaltos políticos ou militares em virtude de um estulto e inadequado bullying por causa da origem étnica de todos e de cada um de nós.Cuidemos, pois, para que isto não aconteça, sob pena de isso um dia degenerar em conflitos (guerras) de cariz étnico, como acontece em muitos países africanos.
O assunto é muito mais sério do que possa parecer. Ele deveria convocar a atenção do Executivo e a indignação dos deputados à Assembleia Nacional com uma tomada de posição clara e firme, objetivando desencorajar iniciativas similares.
O assunto é muito sério. Tão sério quanto sensível politicamente falando. Por isso entendo que se a empresa que fabricou e atribuiu a patente “Kikongo” ao papel higiênico, tivesse o mínimo de respeito e consideração pelos mukongos e outros grupos etnolinguísticos do nosso mosaico territorial, a esta hora, num País normal e sério, já deveria ter vindo a público dar as explicações que se impõem, pedir as desculpas cabíveis e competentes.
Ainda não se lhe conhece o nome. Mas Matadi Daniel defende a responsabilização criminal da firma que, abusiva e desonradamente, atribuiu o vocábulo “Kikongo” como marca de um papel higiênico.
É meu juízo (a cabeça e a sentença popular também) que as autoridades governamentais deveriam fazer alguma coisa. Mas, como sabemos, não vão mover palha.
A inação das autoridades em relação a este caso confirma que o projecto político glosado por Agostinho Neto, o de transformar Angola “numa só Nação”, visando a unidade nacional e a manutenção da integridade territorial, não passou de um rascunho que, quase meio século depois, ainda não foi conseguido transformar em arte final.
Jorge Eurico
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