Saudações ressurgidoras, ilustre cidadão.
Desde 2014 que não nos demos encontro, salvo o erro, sendo certo que falamos pela última vez naquele célebre almoço que ofereceu a jornalistas, num restaurante ao Alvalade, creio que perto do seu chalé. Muitos ficaram cagunfados de surgir.
Eu ignorei os recados proibitórios e sempre fui. E sabe o que aconteceu? Mesmo sendo o director do jornal deles, escangalharam-me o carro no parqueamento, que nem era meu ainda.
Pois, ex-amigo, porque, tal como boa parte dos avilos políticos que parecia ter, acho que para retirarem apenas proveito da minha então condição de director dum jornal importante, o Semanário Angolense, entretanto já falecido, que Deus o tenha, o senhor também tirou o pé literalmente desde que fiquei cego, como se a minha pessoa já estivesse acabada.
Espantei-me com isso no seu caso, porque sei que, político evoluído como demonstra ser, saberá que não é bem assim, que a cegueira não significa o fim do mundo, incluindo na política.
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Decerto que já ouviu falar do inglês David Bluenkett, um cego à nascença, que começou como autarca em Shefield, sua terra natal, em 1969, quando tinha 22 anos, para nunca mais parar, sendo hoje membro da câmara dos lordes do parlamento britânico. Meu ídolo, em quem me inspiro para seguir a caminhada rumo às eleições municipais de não se sabe ainda quando, ele foi sucessivamente deputado pelos trabalhistas, antes de assumir cargos de ministro nos três governos de Toni Blair (educação, interior e trabalho e previdência, tendo pedido demissão no início do último mandato, por ter aceitado o cargo sem se desligar oficialmente duma empresa dos filhos em que prestou serviço). Hoje, aos 75 anos, é lorde, o equivalente a senador.
Portanto, por essa se pode concluir que não estarei já acabado coisa nenhuma, ainda que estejamos num país de atrasados, em que os cegos são tratados praticamente como feiticeiros e não como cidadãos muito úteis, a despeito de compreensíveis limitações.
Ou seja, no fundo, quero dizer que pode considerar-me como uma hipótese na sua lista, caso seja evoluído o suficiente para me convidar e desde que eu venha a aceitar, já que por enquanto continuo sendo um militante independente do Glorioso.
Concluindo, venho por esta solicitar ao senhor para que peça ao seu biógrafo, o Agualusa, para me enviar o livro em formato digital, se não doutro modo não tenho como chegar ao seu conteúdo. Agradeço de antemão.
Votos de um bom final de semana, em companhia dos seus . Abraço.
Bairro Indígena, 25 de Novembro de 2023.
Ass) Salas Neto, jornalista-em-chefe.
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