Nesta crônica, mergulhamos nas memórias de um tempo passado no bairro Sambizanga, em Luanda, onde a desconfiança pairava no ar. Era uma época em que não era crime nem escandaloso desconfiar de alguém, e os mais velhos exerciam seu direito de desconfiar e confiar conforme lhes parecia adequado. Entre os suspeitos de serem informantes da PIDE/DGS, a polícia secreta do regime colonial português, destacavam-se Lopo do Nascimento, funcionário da NOCAL, e Justino Fernandes, na Cuca durante o tempo de Manuel Vinhas.
No Sambizanga, assim como em outros bairros de Luanda, a desconfiança pairava sobre esses dois indivíduos e outros que, em crônicas posteriores, serão mencionados como colaboradores da PIDE/DGS. Os pais e avós, exercendo seu direito de desconfiar, alertavam os mais jovens para terem cuidado, mesmo quando éramos apenas garotos.
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É importante ressaltar que Lopo do Nascimento e Justino Fernandes não eram os únicos suspeitos no bairro. Em quase todos os bairros de Luanda, havia mais velhos que eram considerados informantes da PIDE/DGS. Nomes sonantes eram mencionados em círculos restritos de mais velhos, que nos alertavam sobre a necessidade de cautela em relação a eles.
Alguns desses nomes referenciados como "bufos" incluíam o senhor Faria, conhecido por promover festas, e seu salão com o mesmo nome. O marido da dona Manuela, irmã da dona Teresa, e o senhor Fernandes, que trabalhava na delegacia de Saúde na baixa, também eram conotados como informantes da PIDE/DGS.
Outro nome mencionado era o de Mateus, um homem negro de Carmona, que possuía um salão de festas pouco frequentado. Ele chegou a ser espancado pelos mais velhos por ser visto com frequência dentro do quintal de uma esquadra de polícia localizada no terreno dos CTT. O arame farpado da cerca permitia que os transeuntes vissem claramente os "pretos bufos" que entravam e saíam sem que se soubesse ao certo o motivo de suas visitas.
No entanto, é curioso que essas suspeitas nunca tenham sido fundamentadas ou que os próprios suspeitos tenham se pronunciado sobre a origem dessas acusações. Até mesmo Lopo do Nascimento, que ocasionalmente conta anedotas para fazer rir a garotada nas redes sociais, evitando mencionar as origens dessas desconfianças, mesmo em tempos de fome e cansaço de lendas.
Nesta crônica, adentramos um passado marcado pela desconfiança no bairro Sambizanga, em Luanda. Informantes da PIDE/DGS eram suspeitos de atuarem na comunidade, e nomes como Lopo do Nascimento e Justino Fernandes eram frequentemente citados. Além deles, outros indivíduos eram apontados como possíveis colaboradores da polícia secreta. No entanto, as origens dessas suspeitas e as motivações por trás delas permanecem envoltas em mistério. É um retrato de um tempo marcado pela desconfiança e pela necessidade de cautela, mesmo entre os jovens do bairro Sambizanga.
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