O antigo director da sinistra Divisão de Informação e Segurança de Angola (DISA) “bateu as botas” na madrugada deste domingo, em Lisboa-Portugal. Foi vítima de doença e sobretudo do “peso” que a sua intranquila consciência transportava há mais de quatro décadas. O General Henrique de Carvalho dos Santos AKA “Onambwe” escolheu a capital portuguesa para dar o último suspiro e despedir-se do “mundo cão angolano”. Ele ajudou-o a erguer com o sangue (dos outros), lágrimas (dos outros) e muito suor seu.
Há quem o considere um herói pelos putativos “serviços relevantes ”’prestados à Pátria. Há quem o considere como um dos principais “artífices” da maior tragédia ocorrida no chão do País, cujas feridas ainda sangram e cicatrizes ainda doem: o 27 de Maio de 1977.
Nesta hora de nojo e de dor, curvo-me sincera e respeitosamente ante à dor da família do inditoso. Mas também peço a sua licença e indulgência para dizer que quem manda tirar a vida aos seus concidadãos, também acaba por dar com os costados na madeira fria de um caixão. Tarde ou cedo. Ninguém sai impune deste mundo.
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Permita-me ser politicamente incorreto para dizer que, se para alguns , o General Henrique de Carvalho dos Santos (Onambwe) foi um herói, para mim – e como muitos que foram vítimas (in)directas do 27 de Maio – não é. Pelo contrário. A responsabilidade dos massacres perpetrados a 27 de Maio de 1977 e anos seguintes não pode ser apenas assacada ao primeiro presidente da República Popular de Angola António Agostinho Neto. A responsabilidade deve ser orgânica e solidária.
O General Henrique de Carvalho dos Santos (Onambwe) – enquanto director-adjunto da DISA e os seus pares – deveria saber que o cumprimento das ordens de tortura, execução/fuzilamento do então presidente da então República Popular de Angola era um crime imprescritível e que por isso mesmo jamais as deveria ter cumprido. Mas cumpriu-as de forma zelosa. Esmerou -se a tirar a vida de angolanos que ideológica e metodicamente se opunham à forma como o presidente Agostinho Neto conduzia os destinos do MPLA e do País.
Diz o ditado que é tão ladrão quem vai à horta como quem fica à porta. Tendo cumprido escrupulosamente as orientações do presidente António Agostinho Neto, o General Henrique de Carvalho dos Santos “Onambwe” transformou-se num sicário. Não foi apenas ele. Mas todos aqueles manipularam e abusaram de um instrumento de primacial importância de um Estado: os Serviços de Segurança.
Um bom patriota ao serviço dos Serviços de Segurança é aquele que questiona as ordens que lhe são dadas pelo seu superior hierárquico. Sobretudo quando se trata de anular fisicamente um cidadão por discordância ideológica. Certifica-se se a ordem está ou não em conformidade à Constituição e demais leis vigentes. Inobservando estes princípios, o General Henrique de Carvalho dos Santos “Onambwe” e pares cometeram, ao tempo, um crime contra Angola e os angolanos. Adiaram Angola. Mutilaram o País. Prejudicaram gerações. Foi com actos de homens como o do General Henrique de Carvalho dos Santos “Onambwe” e pares que, aos 21 anos, a minha genetriz transformou-se numa inconsolável viúva e viu-se grega para que não nos faltasse pão à mesa e pudéssemos ir à escola. Não foi fácil para ela. Actos como o do General Henrique de Carvalho dos Santos “Onambwe” privaram-me do amor, carinho e abraços fraternos de um pai. Não foi fácil.
Por isso (com o devido respeito à família, a quem me penitencio, desde já), é-me indiferente a morte de um homem que tem as mãos manchadas de sangue. Não é agora que está morto, que se vai “beatificá-lo”. Como católico, apostólico romano, faço figas para que a “Divina Providência” crie condições objectivas e subjectivas para que o General Henrique Carvalho dos Santos “Onambwe” acerte as suas contas lá no além com todas as suas vítimas.
Que isto sirva de lição e recado para todos aqueles que primem ou mandar premir o gatilho. Sejam eles quem forem. Afinal de contas, somos todos uma “nuvem passageira” neste mundo, onde o vento pode levar as nossas vidas a qualquer momento.
Votos de bom estugar, lá nas alturas, para o General Henrique Carvalho dos Santos “Onambwe”!
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