Na abertura da última reunião com os membros do Conselho Económico e Social, a 2 de Setembro passado, o Presidente da República recordou que o “mundo atravessou um período superior a dois anos de pandemia da COVID-19 que trouxe consigo não apenas a perda de vidas humanas, o encerramento de empresas, o despedimento de muitos trabalhadores, a quebra da cadeia de produção de maquinaria, de peças de reposição, de microchips para a indústria electrónica, de automóveis e de aviação, afectando assim a indústria no geral, o turismo e o comércio internacional. Como se não bastasse, no fim da pandemia, quando os países se preparavam para a recuperação económica, eis que eclodiu na Europa a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que, em 18 meses apenas, provocou a maior crise humanitária, alimentar, energética e de segurança após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945”. João Lourenço qualificou como “exercício de mero populismo, de demagogia política” o discurso que tende a subestimar ou subvalorizar os efeitos internos da crise económica mundial.
“Angola”, disse, não é um “oásis no meio do deserto”.
Em Angola, os efeitos combinados da pandemia da Covid-19 e da invasão russa à Ucrânia traduzem-se em 8 milhões de crianças fora do sistema escolar, na falência de inúmeras empresas, no aumento brutal da fome, na imparável desvalorização da moeda nacional, na fuga maciça de milhares de angolanos para países, que, não sendo “oásis no meio do deserto” furtaram-se, porém, à contaminação pela nociva crise mundial, no aumento da mendicidade e da prostituição, que envolve até crianças, nos principais centros urbanos do país, no acentuado aumento da corrupção e da impunidade e noutros desastres.
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Em Junho passado e num desesperado esforço de estancar o colapso total da economia angolana, “vítima inocente” da Covid-19 e da guerra russo-ucraniana, o Presidente João Lourenço trocou o economista Manuel Nunes Júnior pelo bancário José de Lima Massano na coordenação da equipa económica do Executivo e no Ministério do Comércio e Indústria o vendedor de banha de cobra Victor Fernandes deu lugar a Rui Miguêns de Oliveira, um antigo quadro do Banco Nacional de Angola.
Decorridos escassos quatro meses, não são ainda palpáveis os efeitos da dança de cadeira.
É em meio a uma crise económica e social sem precedentes que o jornal EME, uma publicação editada pelo DIP do Comité Central do MPLA (https://www.jornaleme.ao/manuel-augusto-recebido-pelo-primeiro-ministro-espanhol/), anunciou há dois dias que o secretário para as Relações Exteriores do partido governante, Manuel Augusto, efectua por estes dias um périplo pelo mundo com “o objectivo de dar a conhecer o sucesso alcançado na execução do programa de governo do MPLA, sob a liderança do Presidente da República, João Lourenço”.
Segundo aquela publicação, a primeira “vítima” do sermão de Manuel Augusto foi o chefe do governo espanhol, Pedro Sanchez (ambos na foto).
Antigo jornalista e ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto é conhecido pelo seu drible verbal. Não é de todo improvável que em algum momento de “distracção”, o anfitrião tenha sido incapaz de conter uma lágrima furtiva…
Antes de ser recebido em Madrid pelo mau perdedor, o secretário para as Relações Exteriores do MPLA foi visto em Nova Iorque, exactamente na mesma altura em que o Presidente João Lourenço estava naquela cidade norte-americana para discursar perante a 78.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Não se sabe as entidades com quem se encontrou para lhes dar a “conhecer o sucesso alcançado na execução do programa de governo do MPLA, sob a liderança do Presidente da República, João Lourenço”.
Seja como for, gabar “o sucesso alcançado na execução do programa de governo do MPLA, sob a liderança do Presidente da República, João Lourenço”, no exacto momento em que milhões de angolanos passam por momentos muito delicados e em que o próprio Governo demonstra incapacidade de enfrentar a crise é afrontoso. É um deboche aos milhares de angolanos que, em quase todo o país, se viram forçados a substituir a alimentação humana por carne de cão, de gato e de ratos domésticos. É uma injúria às crianças que estão fora do sistema escolar. É um escárnio a milhares de estudantes universitários forçados a suspender os estudos pela incapacidade de pagarem as propinas e outros custos. É um escárnio àqueles milhares de adultos e crianças que reviram contentores de lixo à cata de qualquer coisa apodrecida que lhes possa, momentaneamente, iludir o estômago.
Como aos angolanos já não consegue repetir as ilusões que lhes vendeu em 2017 e 2022, o MPLA agora virou-se para a comunidade internacional, embutindo-lhe de mentiras.
E fá-lo com a convicção de que os outros desconhecem totalmente a realidade angolana.
Refém dos sonhos leninistas, o MPLA está convencido que as embaixadas estrangeiras, organizações não governamentais ou as agências das Nações Unidas vendaram os seus olhos para não encararem a dura realidade dos angolanos.
“Malhereusement” para o ”Partido”, os estrangeiros veem mesmo com olhos de ver “o sucesso alcançado na execução do programa de governo do MPLA, sob a liderança do Presidente da República, João Lourenço”.
Há seis anos no poder e com várias centenas de horas de vôo, em (inúteis, mas milionários) périplos pelo mundo, com o pretenso objectivo de mobilizar investimento estrangeiro para Angola, o balanço que o Presidente João Lourenço faz desse período e digressões aponta para desastre total.
Por alguma razão, os estrangeiros se fazem rogados.
Com muita pena, o jornal EME não nomeia, sequer, dois ou três exemplos dos “sucessos alcançados” com que Manuel Augusto está a tentar comover os seus interlocutores estrangeiros.
Se lhe pedissem dois ou três exemplos de insucessos alcançados “na execução do programa de governo do MPLA, sob a liderança do Presidente da República, João Lourenço”, qualquer angolano honesto destacaria, sem pestanejar, o aumento da fome, da roubalheira e da repressão.
Donde se conclui que ou o MPLA toma os estrangeiros como distraídos e ingênuos ou Manuel Augusto está a revelar-lhes o verdadeiro programa de governo do MPLA, executado pelo Presidente do MPLA, que tem como objectivo único a completa miserabilização dos angolanos.
Como o programa de governo com que o MPLA concorreu às eleições de 2017 (e reiterou em 2022) é anterior à pandemia da Covid, a conclusão, inevitável, é a de que a sistemática alusão a esse fenómeno encobre uma estratégia maior que consiste em dobrar todos os angolanos.
Naquele discurso do dia 2 de Setembro, o Presidente João Lourenço disse, ainda, que o seu “compromisso com o povo angolano é sério e inquebrantável (…) e, por isso, vamos continuar a trabalhar para colocar Angola num outro patamar cada vez mais alto”.
Estamos a ver onde esse “compromisso” arrastou o país.
Pelo menos no índice mundial de corrupção já lá chegamos, no patamar mais alto.
Correio Angolense
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