Entre Março e Agosto de 2023, foram criados meia centena de URL para atrair cidadãos angolanos e levá-los a clicar em páginas infectadas com o Predator, um spyware capaz de aceder a todo o conteúdo de um telemóvel, além de poder usar a câmara e o microfone para vigiar os seus utilizadores.
Esses URL, como são vulgarmente conhecidos os endereços electrónicos de sites, foram identificados pelo Laboratório de Segurança da Amnistia Internacional e partilhados com o Expresso e a rede EIC (European Investigative Collaborations) para o projecto de investigação Predator Files.
Muitos deles são semelhantes aos endereços de alguns sites de notícias populares em Angola, contendo pequenas alterações no nome que podem passar despercebidas e iludindo mais facilmente as pessoas alvo dos ataques, ao passarem por ligações seguras.
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Na lista de 49 endereços electrónicos partilhados pela Amnistia Internacional constam variações dos sites da SIC Notícias, da CNN Portugal e da página de reservas de voos da TAP (Flytap), as únicas imitações relacionadas com Portugal.
Todos os outros URL copiam sites angolanos, incluindo meios de comunicação: “Jornal de Angola” e a Angop, o “Folha 9”, o “Novo Jornal” e também o Club-K, o “Imparcial Press”, a Lil Pasta — News e a Camunda News.
“Estes nomes de domínio ligados ao Predator imitam claramente sites legítimos de Angola”, diz ao Expresso Donncha Ó Cearbhaill, director do laboratório da Amnistia Internacional.
A análise da Amnistia Internacional sobre a infra-estrutura técnica, que foi recentemente ligada ao programa de espionagem Predator, mostra que o programa de espionagem também está presente, de uma forma ou de outra, no Sudão, Mongólia, Madagáscar, Cazaquistão, Egipto, Indonésia, Vietname e Angola, entre outros.
A Amnistia Internacional procurou as entidades envolvidas para comentar, mas não recebeu resposta. No entanto, a EIC recebeu uma resposta dos principais accionistas e ex-executivos do grupo Nexa, que afirmam que a aliança Intellexa deixou de existir.
Empresas europeias forneceram ferramentas de cibervigilância aos ditadores
Uma aliança de empresas europeias, a Intellexa, vendeu tecnologia de vigilância em massa e um software espião para telemóveis, o Predator, a vários regimes autocráticos para poderem vigiar activistas e políticos. Esses contratos de fornecimento, que incluíram o Egipto, bem como uma série de tentativas de venda, a mais notória delas à Arábia Saudita, tiveram a complacência e, por vezes, a cumplicidade de alguns Governos europeus, em especial o de França.
Durante a última década, o mundo ocidental encorajou e aplaudiu as ferramentas digitais que fortalecem o ativismo democrático em países sob regimes autoritários. Mas, ao mesmo tempo, as empresas europeias forneceram a esses regimes autoritários as portas dos fundos digitais para transformar qualquer dispositivo digital em poderosas ferramentas de espionagem contra dissidentes.
O Predator Files revela que empresas europeias financiam e vendem ferramentas de cibervigilância a ditadores há mais de uma década com a cumplicidade passiva de muitos governos europeus.
O pico preliminar de excessos de vigilância foi atingido mais recentemente pela Intellexa Alliance – uma associação de várias empresas europeias através da qual o software Predator foi fornecido a Estados autoritários. Activistas, jornalistas e académicos foram alvos, assim como autoridades europeias e americanas.
A investigação de um ano conduzida por 15 meios de comunicação e coordenada pela European Investigative Collaborations (EIC.network) baseia-se em centenas de documentos confidenciais obtidos pelo Mediapart e pela Der Spiegel, analisados com a ajuda do Laboratório de Segurança da Amnistia Internacional.
Além da Mediapart e da Der Spiegel, participam do projeto NRC, Politiken, Expresso, Le Soir, De Standaard, VG, infolibre e Domani – todos membros da EIC.network – que colaboraram com Shomrim (Israel), Die Wochenzeitung (Suíça), Reporters United (Grécia), Daraj Media (Líbano) e Washington Post (EUA).
Expresso
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