Há uma década que se sabe que a produção de cana-de-açúcar é insuficiente para produzir açúcar em quantidade suficiente para a procura que existe no País. Será desta?
A contas com a maior falência técnica de todo o Sector Empresarial Público (SEP) em 2022, já que registou capitais próprios negativos de 320,7 mil milhões Kz, a Companhia de Bioenergia de Angola (BIOCOM) aponta agora baterias para os pequenos e médios produtores depois de garantir o apoio do Fundo de Garantia de Crédito (FGC) a financiamentos a produtores que estejam interessados em implementar projectos agrícolas que visem a plantação de cana-de-açúar na região.
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O acordo foi assinado esta semana, em Cacuso (Malanje), com o FGC a garantir a cobertura de 50 mil milhões Kz para incentivar os produtores locais a produzirem cana-de-açúcar, que desta forma podem concorrer a financiamentos de até 5 mil milhões Kz. O objectivo é criar uma economia em escala em que estes produtores de seguida vendem a sua produção à BIOCOM, que a transformará em produto acabado, nomeadamente o açúcar. "A Biocom é o cliente garantido para comprar toda a produção que for feita na região", garante Luzayadio Simba, PCA do Fundo de Garantia de Crédito.
Esta é uma das vias que a BIOCOM encontrou para preencher as necessidades da fábrica que actualmente está a produzir 40% do açúcar consumido no País e que pretende aumentar essa quota para 60% até 2026. "Numa equação única saímos todos a ganhar, tanto as famílias, os produtores e a empresa", disse Otília Viegas, directora-adjunta da Biocom, garantindo total acompanhamento técnico aos produtores que avançarem com a produção.
Este não é um modelo novo, já que no estrangeiro é assim que funciona a produção de açúcar. Basta ver os EUA, onde à volta de uma usina, ou refinaria de açúcar, os terrenos plantados com cana-de-açúcar pertencem a cooperativas ou produtores privados.
Desde o arranque do projecto BIOCOM, em Maio de 2013, apesar de a empresa ter sido constituída em 2007, que é sabido que a sua capacidade de produção de cana-de- -açúcar não é suficiente para preencher a capacidade da unidade industrial. Em declarações ao Expansão, o agrónomo Fernando Pacheco diz que esta medida de apoio aos pequenos e médios produtores vem demasiado tarde e considera que este é o maior erro que a BIOCOM cometeu no início do projecto. "Esse sobredimensionamento já constituía um erro enorme, agravado pela ausência de soluções que passariam pelo incentivo à emergência de pequenos produtores que poderiam produzir e vender cana à BIOCOM", frisou.
Há 10 anos que especialistas e pessoas ligadas à produção industrial no País já alertavam para a necessidade de envolver os pequenos agricultores nesta questão. "Mas foram, de facto, 10 anos perdidos para a BIOCOM reconhecer a falta de perspectiva de se atingir a tal capacidade industrial a curto prazo e o risco de incremento da degradação do equipamento ocioso, como já aconteceu em todos os grandes projectos agro-industriais nos últimos 20 anos", sublinha o agrónomo.
Mas, apesar do incentivo ao crédito, ainda assim, Fernando Pacheco mostra-se pouco optimista. "Vai ser difícil, mas o incentivo do crédito pode ajudar. O grande problema será a falta de experiência, que só será ganha com tempo, que não será pouco", salientou.
Conseguir quem invista na produção de cana nesta altura não é fácil. A verdade é que, segundo apurou o Expansão no local, ainda não há produtores de cana-de-açúcar na região, o que poderá tornar ainda moroso o processo de a empresa estabilizar as suas contas. Isto porque vários produtores locais revelaram que o negócio não é rentável já que exige avultados investimentos.
Expansão
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