Angola importa farinha de trigo para depois reexportar no âmbito do do PRODESI



Cinco anos depois da entrada em vigor do PRODESI, dos milhões que foram investidos pelo Estado na diversificação económica e produção agrícola, o produto alimentar mais exportado por Angola nos primeiros sete meses de 2023, de acordo com a AGT foi a farinha de trigo. Num País que praticamente não produz trigo.

De acordo com os dados da AGT, nos primeiros sete meses do ano, o produto alimentar mais exportado foi a farinha de trigo, que na verdade se trata fundamentalmente de uma reexportação. No País não se produz trigo mas existem moageiras que produzem farinha a partir de trigo importado, sendo que esta produção local, de acordo com o que apurámos, é utilizada maioritariamente para abastecer o mercado nacional.

Este fenómeno teve um crescimento exponencial em 2023, já que as exportações passaram de 936 toneladas para um pouco mais de 8.000 toneladas, com o valor das vendas a aumentar quatro vezes mais em comparação com os primeiros sete meses de 2022, fixando-se agora em 5,4 milhões USD. Em termos práticos, e de acordo com a AGT, o País importou 19.166 toneladas de farinha de trigo e exportou quase metade desse valor, 8.169 toneladas. Relembrar que as importações de farinha de trigo estão isentas de impostos.


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Curioso olhar para os preços médios por tonelada importada, 668,3 USD, que são inferiores aos preços médios da exportação, 662,5 USD. Este fenómeno, de acordo com que o Expansão conseguiu apurar, pode dever-se ao facto de entre as exportações estar uma percentagem de farelo de trigo, que por não terem uma outra classe, são contabilizados na classe da farinha de trigo. Este tem um valor mais baixo de mercado, o que faz baixar os preços médios das vendas para o exterior.


Mas esta é apenas uma dedução lógica, porque uma análise mais aprofundada dos dados da AGT, por operação de exportação, mostra que na classe "de trigo", onde estarão também todos os sub-produtos do processo de transformação incluindo o farelo, tem valores muito superiores, mais de 97 mil toneladas e um valor superior a 16 milhões de dólares. Mas estes não são produtos PRODESI e por isso não fazem parte do agregado que a AGT publica e que serve de base a esta análise.

Resumindo, se os números das exportações se referem apenas a farinha como está no agregado, se este tem um preço médio mais baixo que o das importações, pode perguntar-se porque é que estas toneladas não se vendem no mercado nacional, uma vez que proporcionaria maiores rendimentos aos operadores.

Parece claro que a farinha feita com trigo importado no País, apesar da isenção de taxas e impostos na importação, tem muitas dificuldades em ser competitiva nos mercados internacionais. O valor das exportações também é baixo pelo que deve ser encarado como negócio pontual para os clientes, e nesta perspectiva explicaram ao Expansão que estas vendas podem não ter uma mais-valia comercial mas possibilitam o acesso a divisas. E algumas empresas podem recorrer a este mecanismo.

A comparação óbvia é com o que acontece com a farinha de milho, sendo que o País é produtor deste cereal, o que define outras particularidades ao comportamento do produto. Ainda assim foram importadas neste período 11.608 toneladas e exportadas 2.560 toneladas, o que significa que o País ainda não é autosuficiente.

Mas contrariamente ao que acontece com a farinha de trigo, neste segmento prevalece a lógica comercial. A tonelada de farinha de milho foi importada a um preço médio por tonelada de 147,6 USD. De acordo com a AGT, 11.608 toneladas custaram 1,7 milhões de USD, enquanto que o valor médio das exportações foi de 467,2 USD (2.590 toneladas renderam 1,2 milhões USD). No entanto, esta diferença de três vezes mais entre o preço médio das importações e das exportações não tem uma explicação racional, podendo espelhar algum erro nos dados disponibilizados. Como curiosidade diga-se que os dados registam também a importação de grão de milho, 10.774 toneladas com um custo de 7,29 milhões USD, o que significa um preço médio por tonelada de 676,2 USD.

O facto de a farinha trigo ser o produto alimentar mais exportado nos sete primeiros meses do ano, numa realidade em que a produção nacional de trigo é muito reduzida, resume aquilo que tem sido o impacto da diversificação económica e do aumento da produção agrícola, depois de anos de investimento no programa PRODESI e em outros programas de apoio à produção nacional. 


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