Porquê decidi deixar a UNITA? - Ermeson Sousa



 Como analista político, escritor e acadêmico, minha trajetória foi marcada pela esperança e pelo anseio de promover mudanças positivas em nossa sociedade, especialmente por meio da participação ativa em um partido político. Foi nessa busca por transformações que me filiei à UNITA, com a crença de que poderíamos construir um país mais justo e igualitário. Entretanto, com pesar no coração, decidi romper os laços com o partido, motivado por uma série de fatores que demonstram uma triste realidade sobre o tratamento dispensado aos jovens e aos intelectuais independentes que tanto se dedicaram na eleição de 2022.


 Ao longo dos anos, a falta de investimento e manutenção dos quadros dentro da UNITA foi tornando-se cada vez mais evidente. Jovens talentosos, com ideias inovadoras e comprometidos com a transformação da nação, foram muitas vezes negligenciados e pouco incentivados a se desenvolverem como lideranças políticas capazes de enfrentar os desafios contemporâneos. A renovação dos quadros partidários é fundamental para o crescimento e fortalecimento da organização, e, lamentavelmente, a UNITA deixou de dar a devida atenção a essa importante questão.


 Outro ponto de descontentamento reside na ascensão de militantes jovens por ligações familiares. O nepotismo, ainda que negado e encoberto, tem sido um obstáculo à meritocracia dentro do partido. A política deve ser uma arena de oportunidades justas, onde o mérito e a competência sejam os critérios primordiais para o avanço. A presença de parentesco não pode se sobrepor à capacidade e dedicação daqueles que têm o compromisso de lutar por uma sociedade melhor. Infelizmente, essa realidade tem minado a credibilidade da UNITA e afastado muitos jovens com ideais nobres.



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 O pouco diálogo democrático interno é uma das maiores feridas que afligem o partido. A construção de uma organização política forte e coesa requer espaço para o debate e para a participação ativa dos seus membros. Infelizmente, muitas vezes me deparei com um ambiente em que as vozes dissonantes eram ignoradas ou até mesmo reprimidas. O receio de questionar as decisões da cúpula ou de expressar discordância com determinadas posturas é um sinal de fragilidade democrática e prejudica a capacidade de o partido se reinventar e adaptar às novas realidades.


 Além disso, a pouca capacidade de reter intelectuais independentes no partido tem sido um problema latente. Esses indivíduos trazem consigo uma visão mais abrangente e crítica sobre as questões políticas e sociais, enriquecendo o debate e contribuindo para a formulação de políticas mais sólidas. Contudo, a falta de espaço para essas vozes dissuade esses talentos de permanecerem engajados na luta partidária, enfraquecendo assim o potencial da UNITA para enfrentar os desafios futuros.


 A eleição de 2022 foi um momento crucial e decisivo para o futuro da UNITA e do país como um todo. Os jovens, com seu entusiasmo e vigor, dedicaram-se intensamente para fazer a diferença nas urnas. No entanto, após o pleito, essa dedicação não foi devidamente reconhecida e valorizada. Muitos sentiram-se desiludidos e desapontados com a falta de espaço para contribuir efetivamente com a condução do partido e das políticas que afetam a vida dos cidadãos angolanos.


 Dentro do partido (da JURA essencialmente) eu iniciei a minha participação ativa em Portugal, onde fui Secretário para as Comunidades, Secretário regional da JURA em Lisboa e Secretário para Formação de Quadros  em Portugal. Fui um elo entre o partido e a juventude angolana em Lisboa, aproximei o partido às juventudes partidárias de Portugal (onde conseguimos participar da Escola de Quadros do CDS-PP e da Academia de Jovens Autarcas do PSD).


 Em Portugal fui sempre uma voz ativa na nossa comunidade e não só, dinamizando manifestações, dando rosto e voz nas televisões e rádios (analista na RTP ÁFRICA e colunista no Observador).


 Em 2022 cheguei em Angola para reforçar a campanha eleitoral, trabalhando na Direção Nacional de Mobilização (dirigida pela Sra. Anabela Sapalalo), sendo membro do Gabinete de Juventude. Depois trabalhei na Direção de Marketing e Imagem da campanha (dirigida pelo Deputado Alcino Kuvalela), sendo membro do Gabinete de Conteúdos e Redes Sociais. E dentro do meu historial de participação, além da produção de desinformação e organização dos grupos de guerrilha digital, também trabalhei nos grupos de escrutínio, controlo e defesa do voto, recepcionando e contabilizando as atas sínteses de toda a capital. Foi um trabalho incansável, desafiador e muito gratificante.


 Sair da UNITA foi uma decisão difícil, permeada por sentimentos de tristeza e decepção. No entanto, também é uma escolha carregada de esperança e otimismo, pois acredito que é possível construir uma política mais inclusiva, democrática e efetiva para todos os angolanos. A renovação partidária é essencial para manter o vigor e o compromisso com os ideais da UNITA, e é fundamental para reconectar o partido com as aspirações e anseios da juventude e dos intelectuais independentes.


 Acredito que ainda há espaço para o diálogo e para a mudança dentro da UNITA. É imprescindível que a liderança do partido ouça as vozes dos jovens e se abra para novas ideias e perspectivas. O compromisso com a transparência, a meritocracia e a democracia interna deve ser uma prioridade inegociável. Só assim a UNITA poderá recuperar a confiança dos seus membros e do eleitorado, e tornar-se uma verdadeira força transformadora para o bem de Angola.


 Espero, sinceramente, que a minha partida seja um ponto de reflexão para a UNITA, e que os problemas aqui expostos sejam encarados como oportunidades para crescer e se fortalecer como partido político. O caminho para uma Angola melhor e mais justa passa pela renovação e pela capacidade de ouvir as vozes de todos os seus cidadãos, especialmente daqueles que, como eu, já acreditaram no potencial transformador da UNITA e que, hoje, carregam consigo a tristeza de ver esse potencial negligenciado.


 Que a UNITA encontre, no espírito crítico dos jovens e dos intelectuais independentes, a chama necessária para se reinventar e se tornar uma força política verdadeiramente representativa e comprometida com a construção de um futuro melhor para todos. Angola merece um partido forte, inclusivo e democrático, e cabe a cada um de nós, como cidadãos, trabalharmos juntos para alcançar esse objetivo.


 Emerson Sousa.

Escritor e Analista político.


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