Mensagem para Carlos Feijó. Desconstruindo para que não haja um "suicídio colectivo"



Aquilo que se designa por vontade política é um processo complexo, que nos deve levar a ter em conta quem são os decisores políticos, o que pensam, quais as regras, os valores, a ética, os padrões e normas de comportamento a que estão sujeitos, quais as suas motivações materiais e ambições políticas, a fim de podermos entender porquê que as decisões que gos- taríamos de ver implementadas nunca o foram.



Caro Carlitos,


Acabei de ouvir, com muito agradocreio que parte da tua intervenção numa das Conferências do Expansão, sob o título "Desconstrução”. Há quem a vá considerar como sendo demasiado pessimistapois que ao reafirmares (porque já o fizeste noutras ocasiões) que os fenómenos negativos quer económicos quer sociais e políticos são recorrentes em Angola, acabas por demonstrar que em Angola não se segue o princípio muito difundido no sensocomum de que a História "ensina" e serve para "evitar" a repetição dos erros do passado Ora, se estamos permanentemente há 48 anos a abordar os mesmos problemas económicos, é porque de facto, a história não nos tem servido de lição. Por isso, continuamos a considerar a diversificação e competitividade fora do sector petrolífero como sendo vital para o emprego, o rendimento, a redução da pobreza e o crescimento robusto do PIB, bem como consideramos sempre a resolução dos problemas ligados ao acesso ao financiamento, em particular, para a indústria transformadora e a agricultura, como fundamentais para supe-rar as grandes distorções na atribuição do crédito que prejudicam a eficiência e a competitividade da economia angolana como um todo. As dezenas de programas de reestruturação económica adoptados ao longo da nossa existência  como Nação independente comprovam a tua tese.


Esses problemas que tu bem enumeras são recorrentes, porque nunca foram realmente resolvidos. E como afectam o quotidiano do cidadão comum, a sua persistência tende a revelar-se em contextos diferentesA grande questão que se coloca é saber por que razão nunca foram resolvidos.



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Creio que o principal entrave se encontra desde as suas origens (1975) no nosso poder político que, por duas razões fundamentais, não foi capaz de o fazer por falta daquilo que se designa de vontade política e por incompetência, isto é, incapacidade técnica, administrativa, política e inexperiência dos seus quadros de Direcção, que mesmo quando rodeados dos melhores quadros técnicos nacionais, tu referiste  ao escolha que elaborou o SEF, não logram grandes resultados porque a tal “nata” é combatida das mais diversas formas.


Mas este é um mal comum a todo o nosso Continente. É só ver como se encontram de rastos as economias do Zimbabué e da África do Sul que eram prósperas e que até beneficiaram da experiência histórica de Angola e Moçambique, mas cujas lideranças têm revelado uma grande incapacidade de lidar com os problemas sociais, políticos, económicos e financeiros dos seus países. É certo que sobre todos nós africanos pesam muitos condicionalismos externos impostosprincipalmente pelo mundo ocidental, que de alguma forma também contribuem para o nosso marasmo económico e social.


Um dos grandes pensadores do século XIX, infelizmente amaldiçoado por muitos no mundo actu- al, disse: "Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, eles não a fazem em circunstâncias escolhidas por eles mesmos, mas sob circunstâncias directamente encontradas, dadas e transmitidas do passado. A tradição de todas as gerações mortas, pesa como um pesadelo na mente dos vivos".


Mas, seja como for, só o simples facto que relatas de que foste incumbido, na qualidade de Secretário do Conselho de Ministrosde contactares o Governador do BNA para veres a disponibilidade do pagamento para a aquisição de armas, ou recorrer mais tarde ao PCA da Sonangol para efectuar esse pagamento, diz bem das distorções que enferma(va) o nosso processo super centralizado de tomada de decisões e de utilização dos fundos públicosdesrespeitando, na maior parte das vezes, os procedimentos legalmente estabelecidos. Deste modo, não é de estranhar que com esses métodos enraizados no tecido do nosso poder político, os tais problemas ressurjam sempre na pauta anual da nossa agenda para o desenvolvimento.


Se quisermos superar a recorrência dos nossos males, temos de ir para além da elaboração de belos programas de desenvolvimento económico e social. Por exemplo, a Estratégia de Desenvolvimento 2025-2050 está fadada a ter o mesmo destino da anterior Estratégia 2000-2025 que lhe deu origem, de que já não se fala e da qual nunca ninguém ouviu falar que tenha sido feito sequer algum balanço dos seus dez primeiros anos.


Meu caro amigo:


Sabes melhor do que eu, que aquilo que se designa por vontade política é um processo  complexo que nos deve levar a ter em conta quem são os decisores políticoso que pensam, quais as regras, os valores, a ética, os padrões e normas de comportamento a que estão sujeitos, quais as suas motivações materiais e ambições políticas, a fim de podermos entender porquê que as decisões que gostaríamos de ver implementadas nunca o foram


Um dos grandes pensadores do século XIX, infelizmente amaldiçoado por muitos no mundo actual, disse: "Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, eles não a fazem em circunstâncias escolhidas por eles mesmos, mas sob circuns- tâncias directamente encontradas, dadas e transmitidas do passado. A tradição de todas as gerações mortas, pesa como um pesadelo na mente dos vivos".


Torna-se, poisimperioso desconstruir, no sentido que Jacques Derrida deu a essa palavra, que foi o que fizeste, todas estas engrenagens que têm tolhido o nosso movimento ascendente, durante quase cinco décadas, a fim de que não haja de facto um "suicídio colectivo"!


Aceita um forte abraço e acredita que todas estas palavras foram escritas de "bona fide".


*Ex-Director do Gabinete de Quadros da Casa Civil do Presidente da República. 

Kessongo

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