Movicel está a morrer aos poucos - Estado negoceia venda a um investidor africano



Apesar de ser uma marca de referência do nosso mercado, a Movicel está a "morrer" aos poucos. Estado está a negociar com um investidor africano a venda de parte do capital da empresa, o suficiente para lhe entregar a gestão.

O Estado está a negociar com um investidor estrangeiro africano a entrada no capital social da Movicel, com capacidade para "pôr o dinheiro" necessário para salvar a empresa. A operadora que perdeu mais de dois milhões de clientes nos últimos cinco anos, tem muitos dos seus equipamentos desligados, o que implica graves problemas na cobertura de rede, além de ter perdido quase metade dos trabalhadores, passando de mais de um milhão para cerca de 600 mil.

Os salários são pagos com atraso, os colaboradores queixam-se de descontos injustificados e perda de algumas regalias, como por exemplo o seguro de saúde para todos.


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Uma agonia agravada pelo estado das contas da empresa, com dívidas enormes ao Estado e aos fornecedores. Muitos destes já cortaram o fornecimento de serviços e outros estão já a avançar para cobranças coercivas. Um cenário que é muito pouco atractivo para os investidores, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Ainda assim tem havido conversas com alguns interessados, sendo que o Expansão confirmou que nesta altura decorrem negociações avançadas com um operador africano, num negócio que poderá ficar fechado nas próximas semanas.


As infraestruturas

"Se for um economista a analisar o dossier, é um péssimo negócio. Agora se for um engenheiro, é um excelente negócio. A Movicel tem um activo que cobre todas as suas dívidas, as infraestuturas. Apesar de não estar a funcionar, a empresa tem uma capilaridade nacional semelhante à Unitel. A "parte de leão" deste negócio existe e só precisa de ser reactivada. Veja-se os problemas que a Africell tem tido para fazer crescer a sua actividade, exactamente porque não têm infraestruturas", explica uma fonte ligada às negociações com o potencial investidor.

Para pôr a funcionar estas infraestruturas e equipamentos de forma que possam cobrir eficazmente, pelo menos, os cinco principais centros de consumo do País - Cabinda, Luanda, Benguela, Huambo e Lubango - serão necessários cerca de 100 milhões USD. Que seriam gastos na compra de geradores para garantirem o funcionamento das antenas espalhadas pelos 164 municípios, compra de algum equipamento que foi roubado ou vandalizado, actualização de softwares, substituição de fibra que foi cortada, etc.

A este valor tem de juntar-se o investimento em locais e meios para relançar a actividade comercial, modernização do sector administrativo e fundo de maneio para garantir a operação. Ou seja, no mínimo, a Movicel precisaria nesta fase de 150 milhões USD para voltar a trabalhar com "normalidade". E ainda ficam a faltar as dívidas ao Estado e fornecedores.

"No que se refere às dívidas ao Estado, posso informar que isso nunca será um problema para alavancar a Movicel. Sobre as outras dívidas a diversos fornecedores, nós podemos ajudar a renegociar, o que aliás temos feito, uma vez que conseguimos congelar nesta fase várias execuções coercivas para que a operadora não parasse", explicou uma fonte do ministério que está directamente ligada às negociações. Aliás, isto mesmo foi prometido ao potencial interessado.

Isto quer dizer que o Estado vai ser flexível e dar tempo à empresa para que possa voltar a ter condições de gerar mais valias para pagar estes atrasados, ao mesmo tempo que vai "pressionar" os outros fornecedores a terem a mesma paciência.


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