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CUANZA-NORTE MILHÕES DE DÓLARES ABANDONADOS EM OBRAS



Nada mais complicado do que decidir partir de Luanda para uma incursão no interior da província do Cuanza Norte, mais concretamente, em direcção ao município de Golungo Alto e depois parar na cidade de Ndalatando, a capital da província. A estrada, desde Cassoneca, passado por Maria Teresa (ainda no território de Luanda) até ao destino está toda cheia de crateras que fazem lembrar a superfície lunar. Por este motivo, um percurso que poderia ser feito em pouco mais de duas horas, demora uma eternidade, tornando a viagem muito desgastante.

Se há buracos em toda a linha, já do desvio de acesso ao Golungo Alto, a construtora Angolaca procedeu a numerosos cortes no asfalto que se têm aprofundando à medida que vão caindo as chuvas. Uma situação que deixa os automobilistas com os cabelos eriçados, por ser susceptível de provocar acidentes e danos nas viaturas. Aliás, uma digressão por esta via com recurso a um carro baixo só pode ser mesmo um ‘suicídio’ . “Aqui já danificaram muitos Lexus”, comenta Nazaré Manuel, uma assídua colaboradora deste jornal que nos transportou com destreza no seu veículo topo de gama ‘inteligente’ que depois de mais de 300 quilómetros de corrida sinalizava a necessidade de mudança de filtro e óleo. Nazaré é também uma figura inconformada com a degradação acentuada da estrada que nos leva à região, onde trabalhou durante algum tempo, nos órgãos da justiça. Por isso, gostaria de ver uma mudança de atitude de quem governa, quer a nível local, como central “Por vezes, os governadores também não pressionam o Governo Central por medo de perderem o cargo”, constata a nossa companheira de viagem visivelmente amargurada. E, com a sua máquina fotográfica foi fazendo os registos, despertando a curiosidade de outras mulheres. 



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Não há dúvidas de que a estrada está mal, o que também arrelia a população que encontra muitas dificuldades no escoamento dos seus produtos pa-ra os principais pontos de consumo. Quando há muita produção de banana, de boa qualidade, nas baixas, que se adaptou ao clima de intensas neblinas e orvalho, havendo também muitos campos cultivados com feijão, além de citrinos e tubérculos à procura de clientes. “Digo-lhe mesmo que no ranking das províncias subdesenvolvidas do país, o Cuanza Norte está no topo, mas safa-se apenas por ter boa parte dos seus municípios com energia eléctrica”, brinca um antigo funcionário público, considerando que, “desde o tempo do falecido governador Manuel Pedro Pacavira, os ganhos em termos de progresso económico e social não têm sido muito notáveis”, numa província que tem tudo para dar certo e que também devia constar da lista das maiores exportadoras dessa espécie de banana que cresce sem necessidade de muita água e aditivos químicos. Portanto, uma banana natural, saudável, mas simplesmente abandalhada. Um mais velho a vender rato? Mas nessa viagem à antiga ‘cidade jardim’ que hoje está longe disso (ver texto de Nazaré Manuel) há mais: Por exemplo, “pode faltar sal e óleo”, mas não se pode falar de fome. Talvez de “fome relativa”, já que há muita produção de mandioca, de batata doce, de inhame, de fruta pão, de cana-deaçúcar, ou de carne de caça, sobretudo de macaco que encontramos a ser comercializado na Aldeia Nova (que nada tem de novo), de javali, ou ainda de ratos gigantes como o que um homem de quase meia idade estava a agitar na berma da estrada para atrair potenciais clientes depois da Barraca. Então coloca-se esta questão: Com tanto trabalho que pode ser feito no campo, um mais velho fica a vender rato? “É por isso que o colono naquele tempo dava porrada aos nativos por causa da ociosidade, porque vender não é trabalho”, responde NM tal como várias vezes afirmou em conversas com o articulista, o empresário José Monteiro do Panguila. O rol de preocupações não termina por aí. Em várias localidades por onde passamos, os fontenários já não funcionam e a população consome água retirada dos riachos ou das lagoas resultantes das águas pluviais que partilham, obviamente, com os animais, logo, imprópria para consumo humano. Já quase à entrada da Zanga, há uma escola em fase avançada de execução, mas não se conhece o orçamento nem a prazo de conclusão, porque, desgraçadamente, não há uma placa explicativa. Na localidade de Canaulo foi construído um hospital, mas não se sabe quando será inaugurado, ao passo que o Instituto Médio Agrário vimo-lo envolto de capim e lixo como se estivesse abandonado. Porém, de bom foi vermos o troço rodoviário Golungo Alto/Cazengo com poucos buracos e por isso mesmo a marcha foi rápida. 

Apenas cerca de 40 minutos num percurso de 43 quilómetros. Vários projectos abandonados No dia seguinte fomos ‘espreitar’ o município do Lucala na direcção de Malanje. As ruas da vila davam sinais de terem sido terraplanadas há pouco, num projecto que terá sido inserido no âmbito do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM). Mas o que os munícipes pedem mesmo é vê-las (ruas) asfaltadas. Lamentável também é encontrar numerosos ‘elefantes brancos’ em todas as direcções e feitios, como uma gigantesca fábrica de rações há muito abandonada, silos que deveriam servir para a conservação de cereais, cerâmicas, ou mesmo fazendas inteiras deixadas ao ‘Deus dará’, sem qualquer aproveitamento. Ainda neste município, deparámonos com uma bateria de aviários em avançado estado de degradação. Cada uma das seis naves existentes teria a capacidade de acolher três mil galinhas, mas o projecto que inclui várias infraestruturas deste tipo erguidas ao longo da estrada para o Uíge e Malange está parado no tempo. Soube-se que as Forças Armadas Angolanas (FAA) são as donas destes grandes aviários, supostamente para fornecer ovos e carne de frango aos efectivos, mas só mesmo a superestrutura militar pode vir à público dizer o que se está a passar na prática. Porém, é, na verdade, muito dinheiro público ‘atirado ao ar’. 

Dos mil e um pequenos e grandes projectos abandonados na província do Cuanza Norte o destaque vai também para um aeroporto que custou aos cofres do Estado pouco mais de 60 milhões de dólares, mas sem qualquer utilidade. O Laboratório para análises de solos que deveria impulsionar a actividade agrícola equipado com material de ponta, “de milhões de euros”, também está há mais de cinco anos paralisado sem qualquer explicação. Não menos negligenciável é o estado de destruição das infraestruturas do Instituto Nacional de Estradas de Angola (INEA) na província não se sabendo quem vandalizou o imóvel, os equipamentos, e onde estarão os funcionários. “Todos estes projectos se fossem potenciados, certamente, poderíamos encontrar aqui um escape para reduzir o acentuado desemprego que afecta boa parte da juventude local que depois da formação é obrigada a emigrar em busca de outros horizontes”, lamenta um velho habitante da cidade. Diante do quadro apresentado, o mais velho, que conheceu como funcionava a agricultura no tempo colonial e que desde muito cedo ingressou nas fileiras do MPLA, acha que é preciso trazer à província o IGAE e a PGR para tomarem a peito estes casos.


Filipe Eduardo



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