O Presidente da República, volta e meia, fala na proteção dos idosos.
Durante a pandemia (dois anos), nos Decretos Presidenciais(DP) havia sempre um artigo que se referia à necessidade de proteção dos idosos.
Porém, o normativo era lacunoso (vago e inadimplente, a respeito da sua aplicação na vida real).
Recentemente, o Presidente da República, na abertura de uma reunião que se debruçou sobre telecomunicações, comunicação e comunicação social, falou mais uma vez sobre o amparo social que o Estado deve prestar aos idosos.
E a questão coloca-se sempre em saber, exatamente, a quem incumbe a tarefa de acudir o idoso nas várias situações do seu quotidiano.
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Desde logo, porque sofre o preconceito etário no geral e na mais das vezes, sofre também o preconceito do idadismo, uma forma de o atirar para o ócio, antecipadamente.
Lembrando que, durante a campanha eleitoral, ouviu-se amiúde, por todo o país, o slogan JLO “está falar, está a fazer.”
E, depois, o facto de ser aposentado, em Angola, quase sempre é sinónimo de atestado de “capitis diminutis”(capacidade diminuída).
Portanto, não serve mais para dar aulas na faculdade ou proferir uma palestra ou trabalhar como cobrador de bilheteria de cinema.
Faz prova de vida todos os anos e não consegue um empréstimo consignado com juros bonificados ou condições vantajosas. Veja-se o exemplo do Brasil.
No Brasil, o aposentado aproveita a gratuidade nos transportes públicos e desconto na compra de bilhetes para assistir ao teatro, concertos musicais, actividades culturais, em geral. Em todos os serviços públicos tem prioridade no atendimento.
São, igualmente, gratuitos, os medicamentos no Sistema Único de Saúde. E tem um conjunto de direitos reforçados pelo Estatuto do Idoso como prioridade na compra de casa, sem a burocracia e as condições ultrajantes dos bancos em Angola.
Em 2016, um aposentado do INSS cuja prestação era de 230 mil kzs, traduzindo em dólares, eram dois mil e 200 dólares. E essa mesma quantia equivale agora a 200 e poucos dólares norte americanos; duzentos e poucos dólares equivalem agora a 180 mil kzs e qualquer coisa. Isto, no melhor câmbio do país.
O idoso em Angola sente-se um ser humano agredido de forma intensa por todo lado onde vá: no banco, nos hospitais, nas grandes superfícies comerciais. E isto mesmo que exiba bilhete de identidade. No geral, é objeto de severa dissocializacão e, no mais das vezes, apodado de feiticeiro.
Os índices de desenvolvimento humano em Angola são cada vez mais paupérrimos. E falta pouco (parece óbvio) para igualar os do Afeganistão.
Ademais, o discurso governamental, cheio de disfarces gramaticais, não disfarça a pobreza franciscana de inúmeras famílias angolanas. Como escreveu Cormac McCharty, autor do livro que inspirou o filme homónimo, recentemente falecido e que este artigo pretendeu homenagear, “Este país não é para velhos.”
Correio Angolense
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