Pinto Conto: um trambiqueiro ignorado pelo combate à corrupção

 


A opinião pública e a sociedade angolana em geral, vão criticando cada vez mais o carácter selectivo do combate à corrupção, pelo sua tendência revanchista, expondo apenas um determinado número de elementos, enquanto um grande número dos piores embusteiros que desgraçaram o país são superiormente protegidos e continuam a viver a grande. As suspeições são mais consistentes porque o próprio sistema de Justiça é apontado como manietado ao poder político e manipulado por “ordens superiores”.


Em jeito de “acordar” quem de direito, principalmente as autoridades policiais e judiciais, recorda-se o caso de Pinto Conto, o “testa de ferro” travestido em empresário que ajudou a arruinar o erário público.


O indivíduo, até então publicamente desconhecido, ficou badalado quando, em Novembro de 2015, se divulgou, a partir de Portugal, a notícia de que um empresário angolano, Pinto Paulino Manuel Conto, ofereceu uma festa de luxo, orçado no valor de mais de 200 mil Euros, em alusão aos 15 anos de aniversário de sua filha, Anabela Conto.



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A notícia referia ainda que, «na festa estiveram vários ministros angolanos, e esteve também o embaixador António Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português» e, de Angola, foram cerca de 60 convidados para a festa de Anabela Conto.


«O evento realizou-se a 28 de Novembro de 2015, quando
a menina e sua família foram transportadas numa limosine branca “para ser apresentada a sociedade” e levada por um helicóptero até o local da festa, a Quinta do Grilo, Montachique, em Loures, Portugal».


«Entre passagens de avião para os convidados, autocarros, limosine, helicóptero, serviços de segurança e o aluguer da Quinta do Grilo, Pinto Conto ofereceu à filha uma festa que custou mais de 200 mil Euros. Na festa de Anabela Conto não faltou nada, nem mesmo uma montra de jóias com cerca de 1 milhão de Euros expostos para quem quisesse comprar. E se a festa dos 15 anos foi assim, ficamos a aguardar a festa do dia do casamento», rematava a notícia.


Numa altura em que a crise económica e financeira já devastava o país, a sociedade angolana, alarmada, criticaram o esbanjamento de mais de 200 mil Euros por parte do empresário Pinto Conto.


Não há mal nenhum quando alguém resolve gastar seja lá que quantia fôr, por mais milionária que seja, do “seu dinheiro”, sobretudo, para celebrar o aniversário de uma filha.
Porém, como faziam referência as notícias na altura, entre os ditos e não ditos, a questão que não se queria calar era: quem é o Pinto Paulino Manuel Conto?


Na tentativa de responder a algumas dessas perguntas, uns afirmaram que o empresário é/era simplesmente um “testa de ferro” de dirigentes angolanos; alguns disseram que «é uma ingenuidade descomunal acreditar que existem empresários em Angola. O que há são pessoas a enxugarem o dinheiro público», e outros alegaram que «em Angola, não tem rico honesto».


Pinto Conto é um cidadão angolano, natural do município do Porto Amboím, província do Kwanza Sul que se deslocara para Luanda, na década de 90, onde começou a exercer a actividade de “kinguila”, venda e troca de divisas (dinheiro) no mercado informal do Cassenda.


Passado cerca de uma década, em 2001, aparece já como fundador e Presidente do Conselho de Administração (PCA) de um grupo empresarial com o seu próprio nome: «Grupo Pinto Conto & Filhos Lda (GPC)», que inicialmente denominou-se Comércio Geral e Assistência Técnica (CGAT).


O Grupo Pinto Conto, declarava-se como «um grupo 100% nacional, que actua em 7 sectores, entre os quais: construção civil, hotelaria, prestação de serviços de segurança pessoal e empresarial, serviços de transportação de materiais de construção e empresarial, e também é proprietário de uma agência de viagens».


«Para além de sermos um grupo 100% nacional, investimos em quadros recém-formados, dando oportunidade de emprego e/ou estágios profissionais. O GPC acredita sempre na integridade cívica do ser humano, no seu prestígio, honestidade, confiança e humildade».


No seu portfolio, a empresa apresentava-se como tendo concretizado vários projectos, entre os quais, «a construção da agência do Banco de Poupança e Crédito (BPC), e do Hotel Vunge-Kita», ambos no município do Lobito, província de Benguela, fazendo também a construção de residências e serviços de terraplanagem.


Contudo, não demorou muito tempo para circularem informações que apontavam Pinto Conto como um mero “testa de ferro” de altos dirigentes que, com base no “cabritismo”, tiravam proveito dos cargos públicos que exerciam com a finalidade de enriquecimento ilícito.


Muitas dúvidas se levantaram e ainda são levantadas sobre a verdadeira origem do dinheiro ostentado por Pinto Conto, sobre quanto e como o mesmo grupo ganhava em suas actividades, atendendo que também foram publicitadas inúmeras actividades de caridade feita por Pinto Conto, principalmente em 2015.


A questão que não se quer calar é: «de onde saia tanto dinheiro, que ainda sobrava para tantas doações e esbanjamentos?»
Quando o Banco de Poupança e Crédito (BPC) abriu falência e foi divulgada a lista de devedores no caso “crédito malparado”, consta o nome de Pinto Conto, como tendo beneficiado de um crédito de 181,6 milhiões de dólares.


Como se pode falar em combater a corrupção e recuperar activos surripiados ao erário público, se não se toca em casos muito próximos? O que têm a dizer os senhores da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre mais este caso, que parece não ser tido nem achado? Eis a questão!


Jornal 24 Horas




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