Nas suas mais de 30 deslocações oficiais ao estrangeiro, seja em visitas de Estado, de trabalho ou privadas, pela primeira vez o Jornal de Angola fez do “tour” do Presidente João Lourenço a Londres um quase “não” assunto.
Em quase todas as visitas ao estrangeiro, o diário oficioso angolano atribuiu, sempre, ao nosso Chefe de Estado grande protagonismo, seja pela numerosa delegação de que se faz, invariavelmente, acompanhar, seja porque na agenda de João Lourenço nunca escapam audiências a homólogos e outras entidades de relevo no mundo político, económico e social.
Em não raras ocasiões, o Jornal de Angola atribuiu ao Presidente angolano protagonismo superior ao dos seus anfitriões.
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Enquanto esteve nos Estados Unidos, em Dezembro do ano passado, para participar da cimeira EUA/África, o Presidente João Lourenço foi manchete em quase todas as edições do Jornal de Angola, seja porque recebeu, seja porque teve assento no jantar que o Presidente Joe Biden ofereceu a todos os convidados ao evento realizado em Washington, seja ainda porque João Lourenço recebeu, no hotel onde estava hospedado, metade e mais alguma coisa dos restantes estadistas que foram aos Estados Unidos. Só não constou das numerosas audiências nenhuma com alguma figura relevante da cultura.
Já a deslocação de João Lourenço a Londres mereceu do Jornal de Angola uma discrição pouco comum.
Depois que o secretário de Imprensa da Presidência da Republica anunciou, na quinta-feira, a deslocação de João Lourenço a Londres, para a coroação do Rei Carlos III, na edição de sexta-feira, 5, o Jornal de Angola colocou na sua primeira página uma quase envergonhada chamada repetindo o que Luís Fernando já tinha dito:
“Presidente da República em Londres para a coroação do Rei Carlos III”
No sábado, e também na primeira página, uma outra discreta referência ao estadista angolano. Nela diz-se exactamente que “João Lourenço aborda com Abdel Al-Burhan cessar-fogo no Sudão”.
Por razões que até Deus desconhecerá, o Jornal de Angola não só não colocou o Presidente João Lourenço no centro das actividades relativas à coroação do monarca britânico como, o que também é muito raro, da “extensa actividade diplomática”, que geralmente lhe atribui, só conseguiu enxergar o encontro com o sudanês.
Na edição de domingo do “Pravda” angolano, outra nota, tão envergonhada quanto as outras: “Rei Carlos III e Rainha Camila coroados”. Consolação: “João Lourenço assistiu ao evento”.
Desta vez, também a agenda económica, quase sempre associada às deslocações do estadista angolano, “engripou”.
Da ida de João Lourenço a Londres também não resultou muito trabalho para os fotógrafos do CIPRA. Nas duas únicas fotos que colocou na sua página do Facebook, numa o casal presidencial é referido como tendo participado de uma recepção na tarde de sexta-feira, no palácio de Buckingham, e noutra o casal é fotografado no hotel pouco antes da ida à cerimónia de coroação.
Prevenindo já um qualquer constrangimento protocolar, uma internauta angolana apressou-se a legendar a foto com o seguinte: “ Faz favor de não sentar com as pernas abertas; saiba estar senhor”. O destinatário da mensagem é óbvio.
Em nenhum momento, o primeiro casal é fotografado em pleno acto que motivou a sua deslocação a Londres.
Donde se conclui que, contrariamente ao que o CIPRA e Jornal de Angola “vendem” aos angolanos, o Presidente João Lourenço não é o centro do mundo.
Há vida (e muita) antes e além do Presidente angolano.
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