A partir de Março de 2020, quando foi reconhecida globalmente, Angola se disse totalmente alinhada às orientações da Organização Mundial da Saúde para combater a pandemia da Covid-19.
Indo muito além das directrizes da OMS, o Governo de Angola impôs inenarráveis sacrifícios ao seu povo, como, por exemplo, restringir a circulação inter-provincial; humilhou um juiz de direito que pretendia deslocar-se de Luanda ao Namibe; tornou obrigatório o uso da máscara facial até mesmo em veículos particulares com um único passageiro; impôs multas a quem não usasse a máscara em hasta pública; a Polícia espancou até à morte o médico pediatra Sílvio Dala porque não usava máscara facial; para transportarem bens perecíveis de uma província a outra os camionistas foram sujeitos a dias a fio de longas filas.
Além disso, o Governo quase ignorou doenças como a malária, diarreias agudas e febre tifoide, doenças respiratórias agudas, responsáveis pelo morticínio de angolanos, e entregou-se totalmente a empreitadas que visavam, somente, causar impressão à OMS.
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Por livre arbítrio dos membros da Comissão Multisectorial de Prevenção e Combate à Pandemia da Covid, nessa altura tomados como verdadeiros semi-deuses, Angola construiu gigantescos hospitais de campanha e gastou centenas de milhões de dólares para comprar equipamento e vacinas, grande parte das quais nunca chegaram a Angola, porque foram devoradas pela corrupção.
Mesmo quando se tornou evidente, até para a própria OMS, que as “preocupações” de Angola para com a Covid iam muito para lá do razoável e compreensível, o Governo persistiu nos sacrifícios aos angolanos.
Continuou a colocar-lhes exigências que a generalidade dos países civilizados já tinha dispensado.
Como a casca de ginguba atirada à água, o tempo foi aos poucos mostrando que a gastança de dinheiro público não era genuinamente movida pelas preocupações provocadas pela pandemia.
Aos poucos, os angolanos foram tomando nota de que o “muito esforço” de que a ministra da Saúde se queixava insistentemente ( sem que, porém, tivesse pedido dispensa do cargo para descansar….) nada tinha a ver com o combate à pandemia.
Os gigantescos hospitais de campanha já andavam às moscas, as filas de vacinação cada vez menores, mas o Governo continuava a dedicar mais dinheiro ao pretenso combate à Covid do que às doenças mais mortíferas.
A amuada reacção de Angola à declaração da Organização Mundial da Saúde sobre a Covid-19 destapou o que uns poucos suspeitavam e muitos sabiam: a pandemia é, para alguns chico-espertos, uma produtiva mina de dinheiro.
Ao comunicado da ministra da Saúde em que reitera a necessidade de “apresentação do Certificado de Vacina à entrada ou saída do País, ou, na sua falta, o teste de covid 19”, é impossível associar a certeza de que Angola comprou vacinas muito para além das suas necessidades e que há, no Governo, pessoas que se querem “ressarcidas” daquilo que Sílvia Lutucuta repetidamente classificou como “esforço”.
O despropósito da exigência de certificado de vacina ou do teste – prática em que Angola só tem como companheiras a China e a Coreia do Norte – torna inevitável a pergunta sobre o que move as autoridades angolanas para chamarem a si a função de curadoras de saúde de todos os países.
Ao acabarem com a exigência de testes ou certificados de vacina países sérios – e não caricaturas – como Estados Unidos, Holanda, Portugal ou França ignoram ou subestimam a Covid-19?
Sílvia Lutucuta, que é cardiologista, está acima dos melhores virologistas e infectologistas dos países que suprimiram aquelas exigências?
O desalinhamento, muito evidente, entre o discurso que pretende fazer de Angola um bom destino para o turismo internacional, e a insistência em práticas extintas em quase todo o mundo, além dos conhecidos, mas nunca ultrapassados, obstáculos à concessão de vistos de entrada no país, mostra que há, no Executivo angolano, um grupo muito coeso que não abre mão do roubo e da pilhagem. Um grupo muito bem apadrinhado.
Em paragens dirigidas por pessoas sérias e decentes, a reacção da ministra da Saúde à declaração da OMS motivaria uma imediata convocação de Sílvia Lutucuta ao Parlamento não apenas para fundamentar a sua amuada resposta, mas e sobretudo, para prestar contas da dinheirama pretensamente gasta para combater uma pandemia que praticamente passou ao largo de Angola.
No próprio comunicado da MINSA atribuem-se à Covid pouco menos de dois mil óbitos em quase três anos. Num só mês e só em Luanda, a malária é responsável por mais do triplo de mortes.
Mas, no entanto, a ministra da Saúde nunca evocou qualquer “esforço” para mitigar essa doença.
A propósito da exigências de testes de covid, agora reiteradas, retomamos parte de um texto que publicamos no dia 16 de Abril de 2022 sob o título A César o que é de César. À Dr.ª Sílvia Lutucuta o que é da Dr.ª Sílvia Lutucuta:
“A obrigatoriedade do teste a todos os que entram no país transformou Angola num caso de estudo mundial.
Há notícias segundo as quais médicos da Organização Mundial da Saúde, de países como Estados Unidos, Austrália, França e até da distante e muito pouco falada Mongólia já solicitaram vistos de entrada em Angola para estudarem “in loco” a inédita experiência que a Dr.ª Sílvia criou.
Embora não existam ainda estudos mundiais conclusivos, vão surgindo, aos poucos, cada vez mais indícios de que a diminuição, à escala planetária, de casos de infecção por Covid-19 se deve, em grande escala, aos testes antigénios obrigatórios a que Angola sujeita todos os que demandam o seu território.
O sucesso da experiência angolana não sofre a menor mácula nem mesmo quando, por alguma descoordenação qualquer, aterram quase simultaneamente no aeroporto três aeronaves de grande porte, completamente lotados de passageiros.
Quando isso acontece, e isso, infelizmente, acontece com enorme frequência, às 7 ou mais horas de viagem, o passageiro tem de acrescentar, pelo menos, mais umas 5 horas, que é o tempo mínimo que permanece nas longas filas que levam ao obrigatório teste. (…) Hoje, sexta-feira de Páscoa, foi um daqueles dias infelizes: com poucos minutos de diferença, chegaram esta manhã voos da TAAG e TAP, vindos de Lisboa, e um da Air France, vindo de Paris.
Do nada, formou-se uma quilométrica fila de pessoas exaustas rumo ao hangar onde são feitos os testes obrigatórios. E para tornar mais “deliciosa” a chegada ao país, o sistema de cobrança colapsou, não se sabe se por culpa do Ministério das Finanças ou se da EMIS e bancos associados.
A verdade é que nenhuma entidade “de direito” se dignou explicar aos passageiros as causas do colapso. E nem mesmo quando a “branca” foi ultrapassada alguém se deu ao trabalho de pedir merecidas desculpas aos passageiros.
Vindo de Houston, nos Estados Unidos da América, um funcionário sénior de uma petrolífera que opera em Angola pagou 7.000.00 dólares para viajar no conforto da primeira classe até Luanda. Ao cabo de mais de 4 quatro horas na fila para o teste, o homem desabafou: “não repito esta experiência”.
O que o “homem alheio” estava longe de saber é que lá mais para frente haveria de enfrentar outras duas (enormes) filas, sendo que a primeira foi para transpor a fronteira e a segunda, muito chata também, é para recolher a bagagem. É que, apesar dos imensos recursos que recolhe, a Administração Geral Tributária (AGT) não só entende que tem de radiografar tudo o que chega ao país, como toma como suficiente um único equipamento de RX.
Óbvio que, com todas essas chatices, que a pobre da Dr.ª Sílvia Lutucuta não previu, quem tinha vôo de ligação dançou.
Descontadas essas chatices que, repete-se, não estavam no roteiro, os testes rápidos que Dr.ª Sílvia Lutucuta tornou obrigatórios à chegada a Angola são um caso de estudo mundial pelos revezes que causam à pandemia da Covid e, sobretudo, pelo grande estímulo ao turismo.
Como se sabe, a Dr.ª Sílvia Lutucuta acha que nem o teste de RT-PCR, feito 72 horas antes da viagem, nem o Certificado Digital de Vacinação têm a eficácia do teste antigénio.
Reconhecida, a comunidade médica mundial prepara agora uma romaria a Angola para aprender com a Dr.ª Sílvia Lutucuta como um simples teste rápido desarma todas as estirpes da Covid”.
Correio Angolense
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