“Pai e conservador” conhecidos



A propósito de um estéril disputa, agora em curso nas redes sociais, sobre os direitos autorais de quem chegou primeira à “descoberta” de que o MPLA e o seu Governo comunicam mal, retomo aqui extractos de uma entrevista do saudoso Gustavo Costa, o nosso eterno Simão, ao então jornalista, escritor e então deputado pelo MPLA, Aníbal João Melo. 

A entrevista foi publicada na edição nº 14, da semana de 07 a 14 de Junho de 2003, do Semanário Angolense. 

Nesse altura, ainda não tinha nascido para o Jornalismo angolano ou ainda usavam bibes atrevidos que hoje reivindicam, despudoradamente, determinadas “invenções”.

Gustavo Costa levou para o Semanário Angolense a coluna de entrevista a que deu o nome de Jogo da Verdade, que ele inaugurou no também já desaparecido semanário Correio da Semana.



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Jogo da Verdade – Entre os que escrevem para a imprensa privada há o sentimento de que o MPLA ainda é um partido fechado, um partido que não se preocupa com o resto, porque tem a RNA, a TPA e o Jornal de Angola… 

João Melo – O que eu penso – e já o disse em outras ocasiões, inclusive políticas – é que o MPLA e o Governo não sabem lidar, nem sabem como usar correctamente a comunicação social. A própria utilização da comunicação social estatal, de um modo geral, é pouco inteligente e sofisticada. 

J.V. – Mas em termos práticos o que o leva a pensar que o MPLA gere mal a comunicação social? 

JM – Isso não é uma pergunta de algibeira… Para lhe responder cabalmente teria, talvez, que lhe conceder outra entrevista… Por outro lado, como é que você pretende que eu revele, em entrevista pública, aquela que, na minha opinião estritamente pessoal, deveria ser a melhor estratégia do meu partido em relação à comunicação? 

J.V. – O que mais aprecia na imprensa do Estado? 

JM – Os programas “Nação Coragem” e “Conversas no Quintal”, da TPA, o site da ANGOP e a Rádio 96.5, que apenas transmite música (por isso mesmo). 

J.V. – E o que mais detesta na comunicação social privada?  

JM – O sensacionalismo, a confusão entre jornalismo e activismo político  (exactamente equivalente ao excessivo governamentalismo da imprensa estatal) e o mercantilismo excessivo de grande parte dela.

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Na edição do dia 11 de Dezembro de 2016, exactamente 13 anos depois, Gustavo Costa escreveu no Novo Jornal o seguinte: “Afinal, ó João (Melo), sempre tinhas razão quando, há mais de dez anos, disseste que o MPLA não sabe lidar com a informação. Afinal, ó Manuel (Vicente), sempre tinhas razão quando, anos mais tarde, confessaste, publicamente, que o Governo também não sabe comunicar. (…) A verdade, porém, é que o MPLA tem que deixar de confundir propaganda com informação”.

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Em Janeiro de 2019, João Melo era ministro da Comunicação Social, nomeado pelo Presidente João Lourenço, quando, em entrevista por e-mail ao quotidiano português Jornal de Negócios, insistiu na constatação de que o MPLA não sabe comunicar.

“(…) precisamos de aumentar os esforços para comunicar mais e melhor”, recomendou.

Para o então ministro  a receita para “comunicar mais e melhor”  não passava por gastar milhões (de dólares) em propaganda.  Bastava  “apenas que o Presidente João Lourenço e o novo governo começassem a fazer as coisas certas” e que a comunicação social angolana, pública e privada,  assuma a sua responsabilidade comum de “ prestar aos angolanos um verdadeiro serviço público de comunicação. (…) O que é que isso significa? Coisas básicas: primeiro, prover aos cidadãos uma informação completa (todos os factos socialmente relevantes são dignos de ser noticiados e não apenas, como defendem alguns, apenas os factos negativos, extravagantes ou aberrantes ou, então, as eventuais falhas do governo), fidedigna (verdadeira, bem apurada e correctamente enquadrada), sóbria, equilibrada e atraente, sem, entretanto, ceder ao sensacionalismo barato; segundo, separar claramente informação e opinião (o “jornalismo editorializado” é um dos piores males da profissão); terceiro, exercer o seu papel crítico de maneira objectiva e factual; e, quarto, em termos de opinião, dar espaço a todas as vozes, dentro dos limites constitucionais”.

O Jornal de Negócios grafou no título da entrevista: “Governo precisa de comunicar mais e melhor”.

Em Setembro de 2022, depois de dar posse os membros do seu segundo Governo, João Lourenço exortou-os a “trabalhar mais e a comunicar melhor”.

Ou seja, 19 anos depois de João Melo haver identificado publicamente uma das maiores pechas do MPLA – as outras são a corrupção, a má governação, a falta de humildade – João Lourenço, que já dirigiu o secretariado do Bureau Político do MPLA para a Informação, admitiu, finalmente, que o Governo não sabe comunicar.

Apesar de todos os antecedentes, em 2023 ainda surgem novos “inventores” da pólvora…

Como diriam os guiné-bissau, vamos e venhamos: o “pai da criança” é João Melo e o conservador que a registou para a posteridade é Gustavo Costa.


Correio Angolense 




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