A primeira – e muito possivelmente última – reunião do Conselho de Honra do MPLA sepultou no Presidente João Lourenço a utopia de que arrastaria o Partido no seu desígnio de alterar a Constituição para lhe permitir concorrer a mais um ou mais mandatos.
Na reunião de sábado, João Lourenço percebeu, finalmente, que não domesticou totalmente o MPLA. A gritaria dos “juvenis e juniores” que promoveu, sem critério nenhum, ao Comité Central e ao Bureau Político, não lhe assegura o conforto necessário para introduzir alterações constitucionais que acomodem o seu apego ao poder e às fartas mordomias que proporciona.
As vozes mais lúcidas e experientes do MPLA perceberam que seria um suicídio acompanhar João Lourenço no seu desígnio de se manter no poder.
Fisioterapia ao domicílio com a doctora Odeth Muenho, liga agora e faça o seu agendamento, 923593879 ou 923328762
A caminho do sexto ano no poder, João Lourenço não tem obra de que o MPLA se possa orgulhar.
Percebido o desalinhamento do Partido, João Lourenço desengavetou imediatamente o que se pode designar como Plano C para a sua manutenção no poder. Trata-se de um plano inspirado no modelo turco, implementado pelo Presidente Recep Tayyip Erdoğan, em 2016.
Com níveis de popularidade muitíssimo baixos, consequência directa da sua guinada para o autoritarismo, no dia 15 de Julho daquele ano o Presidente turco atribuiu a uma facção das Forças Armadas o que classificou como uma tentativa de golpe de Estado.
O pretenso “putch” foi abortado poucas horas depois. Foram reportados mais de duas centenas de mortos e mais de mil feridos.
Recep Erdoğan advertiu que os pretensos golpistas iriam “pagar um preço alto”. O presidente escudou-se no “golpe” para mandar para a cadeia não apenas militares, mas também para reprimir os adversários políticos. Já no dia 20, apenas cinco dias depois, era reportada a prisão de mais de 45.000 militares, agentes da Polícia, 2.700 juízes e governadores. Mais de 15 mil funcionários públicos, entre eles alunos, professores e todos os reitores das universidades do país foram presos ou suspensos.
A França acusou o líder turco de usar a pretensa tentativa de golpe de Estado como “cheque em branco” para eliminar todos os opositores.
Alguns dias depois, soube-se que os serviços secretos russos teriam alertado o Presidente da Turquia para a iminência de um golpe de Estado, mas ele nada fez para o deter.
No fatídico dia, Erdoğan não estava na capital do país.
Sem oposição que valha esse nome, em Abril de 2018 e com apenas um mês de antecedência, Erdoğan antecipou para Junho as eleições legislativas e presidenciais previstas para Novembro do ano seguinte. Reclamou a maioria dos votos na primeira volta da eleição presidencial.
Após essas eleições, Erdoğan promulgou uma nova Constituição, aprovada num referendo realizado no ano anterior, que alarga os poderes executivos do Presidente e reduz os poderes de fiscalização do Parlamento.
O referendo substituiu o parlamentarismo pelo presidencialismo.
Depois da visita do Presidente João Lourenço àquele país, em Julho de 2021, a Turquia tornou-se num dos principais fornecedores de armas à Polícia Nacional Angolana.
Segunda-feira, 3, véspera do Dia da Paz em Angola, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República denunciou o que designou como plano de desestabilização do país.
Sem apoiar a denúncia em qualquer evidência, Francisco Furtado disse que “muitas mensagens têm vindo do exterior a incentivar a juventude a prática de actos de sublevação e actos de intolerância”.
Apelou à juventude “que seja mais patriota, tenha sentido de nação” por que, de outra forma, “continuaremos a alimentar as expectativas daqueles que estão interessados em desestabilizar Angola”.
Há pouco menos de uma semana, um áudio, ainda disponível nas redes sociais e que tinha como destinatária a juventude perguntava-lhe se “Já parou para pensar que as pessoas que mais fomentam as manifestações em Angola vivem no exterior do país e estão bem protegidas e muito bem de vida?”.
Quase coincidindo com o aludido áudio, a Polícia Nacional emitiu um comunicado em que afirma estar a “acompanhar com elevada atenção a difusão e partilha nas redes sociais de matérias com conteúdos (que) visam instaurar um clima de desordem, insegurança e convulsões sociais”.
Há muito que o chefe da Casa Militar do Presidente da República vem torcendo para um banho de sangue no país. Tem sido o rosto da facção que quer mergulhar novamente os angolanos no luto e na dor.
Em Julho de 2022, vésperas das eleições, ele colocou nas redes sociais um áudio em que insinuava alguma ameaça à paz e estabilidade.
“Se alguma organização ou se alguns irresponsáveis julgam que transformarão eleições em conflitos, devemos deixar aqui uma mensagem bem clara a estas figuras: 1992 não se repetirá em Angola. Instabilidade e guerra não voltará a acontecer em Angola. Se alguém tem duas agendas, uma política e outra subversiva, a agenda subversiva deve ser tratada no âmbito do combate ao banditismo, à sublevação armada e ao terrorismo”, disse sustentar a pretensa ameaça em qualquer evidência irrefutável.
Poucos dias antes e depois das eleições, a Polícia Nacional e as Forças Armadas fizeram demonstrações de força, colocando ostensivamente nas ruas homens e equipamento bélico indiciadores de que estariam a contar com uma sublevação popular.
A serena reacção dos partidos da oposição à vitória eleitoral reclamada pelo MPLA e seu presidente frustrou a estratégia belicosa a que o general Furtado dá a cara.
A crescente impopularidade do Presidente da República, a falta de soluções para a grave situação económica e social, a desordem do poder judicial e a notória inclinação para o autoritarismo assemelham a realidade angolana àquela que precedeu a pretensa tentativa de golpe de Estado na Turquia.
Por isso, não é prudente subestimar os repetidos avisos do general Furtado.
Também não deve ser atribuída ao acaso a recente aparição pública do chefe do SINSE, general Fernando Miala, ao lado do Presidente da República.
Pode já estar em avançado estado a encenação de um golpe de força.
O ensaio ganhou novo impulso agora que ao Presidente João Lourenço ficou definitivamente claro que não pode contar com o MPLA para ajustar a Constituição da República à sua agenda pessoal.
O Conselho de Honra do MPLA matou, incinerou e sepultou o Plano A do Presidente João Lourenço.
O Presidente ainda tem sobre a mesa o Plano B, também conhecido por modelo-Putin, através do qual, esgotado o actual mandato constitucional, João Lourenço manteria o poder por interposta pessoa. Embora a opinião pública tenda a olhar para a vice-presidente da República como a putativa marioneta, na verdade a aposta de João Lourenço é a sua própria esposa, Ana Dias Lourenço.
A exposição mediática da primeira-dama nos últimos dias visa dar-se a conhecer junto de diferentes segmentos da sociedade.
Não se pode tomar como normal que a primeira-dama se ponha a debitar palpites sobre os órgãos de defesa e segurança e menos ainda que pouse para fotografias com o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas.
Correio Angolense
Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação
0 Comentários