O presidente do MPLA rejeitou, de modo descrito como rude, a ideia da criação de uma Comissão de Monitorização do Partido e da acção do Governo.
A ideia foi proposta por membros do Conselho de Honra do MPLA, um órgão de consulta e aconselhamento do líder do Partido, na sua primeira reunião realizada sábado, 01, em Luanda.
A Comissão de Monitorização teria por objectivo identificar as causas dos últimos resultados eleitorais, considerados como muito pouco satisfatórios por largas franjas do próprio MPLA, a crescente degradação da qualidade de vida dos angolanos, o galopante desprestígio do Partido, a intolerância e a perseguição das vozes contestatárias internas.
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A criação de uma Comissão de Monitorização foi colocada sobre a mesa por alguns conselheiros na sequência de uma demorada “rajada” de críticas ao líder do Partido, a quem foram pessoalmente atribuídas as culpas pela crescente impopularidade do MPLA e pela miserável condição de vida da maioria da população angolana.
João Lourenço viu na proposta da criação de uma Comissão de Monitorização uma ante-câmara do que poderia vir a ser um fórum com margem para propor soluções para a crise do país.
Com as críticas dos conselheiros directamente dirigidas a ele, o presidente do MPLA presumiu que uma Comissão de Monitorização poderia, no limite, propor até o seu próprio afastamento da liderança do Partido.
Por isso, ele rejeitou “categoricamente a ideia”.
“A reunião conheceu momentos de alguma tensão, com alguns membros do Conselho a apontarem directamente o dedo ao presidente pela crescente falta de credibilidade do nosso Partido e pelas dificuldades de governação”, segundo disse ao Correio Angolense um participante.
Segundo a fonte do Correio Angolense, a todas as críticas à falta de soluções do Governo para as graves dificuldades por que passam os angolanos, João Lourenço respondeu com pedidos de paciência.
“O Governo está a trabalhar e os resultados vão aparecer”, repetiu insistentemente.
Mas quando lhe foram exigidos exemplos de empreitadas do Governo que mitigariam no curto e médio prazos a crise económica e social, o presidente do MPLA tergiversou.
“Na verdade, o presidente não apontou uma única empreitada em curso que tenha animado os membros do Conselho”.
A fonte do Correio Angolense disse ter visto na face de João Lourenço bastantes sinais de contrariedade provocados pelo tom, muitas vezes ácido, das críticas.
Por essa razão, essa fonte acredita que a reunião de sábado do Conselho de Honra do MPLA pode ter sido a primeira e a última.
“Não vi na cara do presidente ânimo para voltar a reunir com os membros do Conselho”.
À pergunta sobre se algum conselheiro se teria pronunciado a respeito de um terceiro mandato presidencial, a fonte do Correio Angolense disse: “Senti na sala que não havia nenhuma necessidade de levantar este assunto. A insatisfação de todos os presentes com o desempenho do presidente do Partido e da República tornou desnecessária essa discussão. Ficou ali implícito que o presidente receberia um rotundo não se pedisse o apoio do Conselho para um terceiro mandato”.
O Conselho de Honra do MPLA foi criado pelo VIII Congresso Ordinário do MPLA, realizado em Dezembro de 2021.
No dia 14 daquele mês e ano, o Bureau Político disse ter aprovado, com emendas, o Regulamento do Conselho de Honra do MPLA.
Nenhum dos membros do Conselho de Honra que participou da reunião de sábado teve, até agora, qualquer contacto com o referido regulamento.
“As coisas correram mais ou menos às apalpadelas. Ninguém sabe ao certo a `largura e comprimento´ do Conselho. Mas, o que lhe posso garantir é que esta primeira reunião não correu bem ao presidente”, concluiu a fonte do CA.
O Conselho de Honra é integrado por antigos dirigentes do MPLA, todos eles octogenários ou mais.
A idade dos conselheiros terá frenado os “maus modos” geralmente atribuídos ao presidente João Lourenço na condução de reuniões.
Correio Angolense
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