As Revelações do Higino Carneiro

Na vida, tudo que acontece, mesmo numa área recôndita, mas cedo ou tarde as coisas vêm a público. Recentemente, numa entrevista com a LAC, o General Higino Carneiro, dentre várias coisas, afirmou que, cita: “O MPLA e o seu Governo (do JES) é que criou, no inicio dos anos de 1990, a UNITA-Renovada, de Jorge Valentim, com o objectivo de dividir, isolar e enfraquecer a UNITA, Partido do Jonas Malheiro Savimbi. Fim de citação.”

Se as pessoas têm a memória fresca podem lembrar-se de que, eu tinha publicado nas redes sociais um Artigo detalhado sobre está matéria. Na verdade, a «UNITA-Renovada» foi concebida à margem das Negociações de Lusaka entre a Equipa Negocial do MPLA, chefiada por Faustino Muteka e Higino Carneiro, e a Equipa Negocial da UNITA, chefiada por Eugénio Ngolo Manuvakola, Isaías Samakuva e Jorge Alicerces Valentim.

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O Projecto do MPLA da conspiração contra a integridade física do Jonas Malheiro Savimbi tinha como titulo: «A Implosão da UNITA». O objectivo estratégico deste Projecto macabro era de dividir, enfraquecer e desagregar a UNITA, tendo como objectivo final, descredibilizar, incriminar, isolar e eliminar fisicamente Jonas Malheiro Savimbi.

Lembro-me que, na fase derradeira das Negociações em Lusaka, com a participação directa da Troika dos Observadores, sob os auspícios das Nações Unidas, num dia deste, Presidente Dr. Jonas Malheiro Savimbi reuniu connosco (Dr. Jerónimo Wanga, Dr. Almerindo Jaka Jamba, General Gaston Smart Chata e General Carlos Tiago Kandanda) em casa dele, no Bairro de Kapango, na cidade do Huambo, e disse-nos o seguinte, cita:

“Maninhos, chamei-vos, como mais velhos do Partido, conjurados da luta anticolonial, para vos dizer que, o nosso glorioso Partido, UNITA, fundado em Muangai, já foi vendido em Lusaka pelos nossos negociadores. Sei que, a Troika dos Observadores deve saber dessas manobras, mas fingem-se. É muita pena! Nós buscamos uma paz séria e duradoura. Estamos a fazer todos os sacrifícios pela paz. Mas os outros em Luanda estão preocupados com a minha morte e com a destruição da UNITA. Isso não é sério. Como vamos acreditar neste processo, e como poderei assinar um Acordo que visa a minha morte e a destruição da UNITA? Acha-se que isso é lógico? Pronto! Eu não estou aqui para defender a minha vida. Nunca! Eles estão enganados. Eu luto pela Angola e pelos Angolanos. A história um dia estará do meu lado.” Fim de citação.

Para dizer que, o propósito de escrever este Texto não é de fazer uma Réplica ao General Higino Carneiro, meu antigo colega do Parlamento, mas sim, de fazer-lhe saber de que, Dr. Jonas Malheiro Savimbi tinha antecipadamente todos os detalhes da criação da UNITA-Renovada e da conspiração contra ele. Ele sabia que o Higino Carneiro e Faustina Muteka estavam à testa do Projecto da «Implosão da UNITA» com a tarefa de aliciar os seus Negociadores em Lusaka.

Por este motivo ficou difícil o Presidente da UNITA participar no Acto Solene da Assinatura dos Acordos de Paz de Lusaka. Por que, de facto, não havia mínimas condições de segurança em Lusaka para garantir a integridade física do Jonas Malheiro Savimbi. Mesmo assim, Dr. Jonas Savimbi decidiu implementar o Protocolo de Lusaka e os Acordos do Bicesse, enviar os Quadros da UNITA para tomar posse no Parlamento, para participar no GURN e para participar na Comissão Conjunta.

Ironicamente, apesar de tudo isso, o MPLA continuou com o Plano da Implosão da UNITA e da criação de condições politicas, diplomáticas e militares para eliminar fisicamente Jonas Savimbi. Este Projecto, de implosão da UNITA, continua intacto até aos dias de hoje. Interrogo-me, onde estará a Vontade Política, a Boa-Fé, o Patriotismo, o Nacionalismo Angolano e o Estado Democrático de Direito?

Em síntese, a minha percepção pessoal é de que, existe um certo grau de desorientação, de frustração, de nervosismo e de rivalidade entre a Ala do malogrado José Eduardo dos Santos e a Ala do Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço. Isso ficou transparente nas afirmações do General Higino Carneiro, que tem o carácter de uma faca de dois gumes.

Pois que, as transformações profundas ocorridas na sociedade angolana, no seio da UNITA, e sobretudo, na sociedade civil, desarticulou o “status quo” que ficou estabelecido em Lusaka, que visava essencialmente a desagregação e a domesticação da UNITA. Agora, este contexto está invertido e alterado.

Creio que, no meio de tudo isso, a derrota estrondosa do MPLA nas Eleições Gerais de 24 de Agosto de 2022, sobretudo na Província de Luanda, deve estar na base do agravamento das relações bilaterais entre o MPLA e a UNITA.

Carlos Kandanda