A restrição abrange até mesmo familiares directos
As restrições ao jazigo onde estão depositados os restos mortais do Presidente José Eduardo dos Santos são extensivas a todos os familiares.
No dia 8 de Janeiro, quando se completaram seis meses sobre a morte do antigo Presidente da República, a jurista Maria Luísa Abrantes, mãe de dois dos seus filhos, revelou que o acesso ao jazigo onde estão depositados os restos de José Eduardo dos Santos é condicionado à uma autorização da Presidência da República.
“Nenhum familiar pode visitar a sua tumba sem autorização da Presidência da República”revelou a jurista, também conhecida por Milucha.
Ela admite que as restrições possam camuflar alguma “prática satânica”.
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Ao Correio Angolense, um familiar directo do falecido Presidente da República confirmou que o acesso ao jazigo é exclusivamente autorizado pela secretaria-geral da Presidência da República mediante pedido escrito.
“Mas, nem a petição escrita e nem o grau de parentesco são garantias de autorização. Ela é concedida mediante critérios exclusivamente determinados pela secretaria-geral da Presidência, que não dá prazos para resposta aos pedidos”.
Um funcionário da Presidência, que não pode ser identificado por razões óbvias, justificou ao Correio Angolense as restrições com a necessidade de preparação do corpo do falecido Presidente antes de ser exposto à visitação.
“Sim, é necessário preparar o corpo antes de ser exposto. A necessidade do pedido escrito é aplicável a toda gente”.
As restrições impostas pela secretaria-geral da Presidência da República não são dissociáveis de informações segundo as quais os restos de José Eduardo dos Santos não são adequadamente tratados.
Em Dezembro passado, o portal Club-K fez eco de relatos segundo os quais odores produzidos pelo cadáver de José Eduardo dos Santos teriam afugentado até os membros da Guarda Presidencial ali colocados para vigiar o jazigo.
O portal citou relatos de acordo com os quais “tem sido quase impossível visitar o jazigo onde se encontram depositados os restos mortais do Presidente José Eduardo dos Santos devido ao mau cheiro que o corpo estará a exalar”.
Segundo o Club-K, depois que Ana Paula dos Santos, a viúva de JES, visitou o jazigo, em Setembro passado, “tornou-se insustentável a aproximação ao local, inclusive um dos guardas colocado para guardar a urna afastou-se do jazigo devido ao cheio”.
No mesmo dia em que o Club-K fez eco desses relatos, o brigadeiro Santos Manuel Nobre,Barba Branca, 2º comandante da Unidade de Segurança Presidencial, e um secretário de Estado da Saúde publicaram nas redes sociais uma foto conjunta em que garantem que, após visitarem o seu jazigo, constataram que o corpo de José Eduardo dos Santos estaria em bom estado de conservação.
A nenhum dos dois é conhecida qualquer familiaridade com a Patologia.
Falecido a 8 de Julho em Barcelona, os restos mortais de José Eduardo dos Santos chegaram a Luanda no dia 20 de Agosto, após acesa disputa entre duas facções da família sobre a guarda do corpo. O Governo tomou parte de uma das facções.
Depois da sua chegada a Luanda correram informações, não confirmadas oficialmente, segundo as quais o Governo teria contratado especialistas sul-africanos para embalsamarem o corpo do falecido Presidente. Porém, os peritos teriam deixado o nosso país antes de concluírem o trabalho por pretenso desentendimento com a parte contratante.
O empenho pessoal do Presidente da República para a trasladação do corpo e o dispêndio financeiro que implicou contrastaram com o tratamento dispensado aos restos mortais de JES em Luanda.
O caixão com os restos mortais do antigo Presidente ficou horas seguidas exposto ao sol no quintal da residência onde morou, ao Miramar. Uma imagem postada nas redes sociais mostra um caixão isolado, sem ninguém por perto.
Segundo se disse na altura, a ausência de familiares, amigos e de outras pessoas ao redor do caixão, como é comum entre os angolanos, deveu-se ao mau cheiro que partia do féretro.
Acredita-se que o corpo entrou em putrefacção rapidamente porque não mereceu tratamento adequado após ser retirado da morgue, em Barcelona.
Em Luanda, segundo o Club-K, o corpo de José Eduardo dos Santos passou por quatros caixões porque libertava líquidos mal cheirosos cientificamente identificados como necrochorume.
As restrições impostas ao acesso ao jazigo sugerem que a Presidência da República, a quem parecem pertencer os restos mortais de José Eduardo dos Santos, ainda não encontrou solução para os maus cheiros que afugentam até o corpo de guardas.
Depois de Setembro, Ana Paula dos Santos não voltou a ir ao jazigo onde estão depositados os restos mortais do marido.
Nem a 2 de Novembro, Dia dos Finados, ela e os filhos cumpriram o ritual de “conviver” momentaneamente com o morto.
Correio Angolense
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