Por enquanto são apenas rumores.
Mas, um rumor (e vale a pena explica-lo) não é necessariamente um mujimbo, no sentido pejorativo que a classe política angolana, sobretudo, gosta de dar à informação não oficial.
Um rumor também pode ser uma informação fidedigna, mas posta a circular a destempo.
O rumor que corre é que o general Francisco Pereira Furtado já estará a percorrer os derradeiros metros do seu desastrado consulado à testa da Casa de Segurança do Presidente da República.
Necessária e urgente, a demissão do chefe da Casa de Segurança não apenas reformaria um falcão, um incendiário, como pouparia o próprio Presidente da República de sucessivos equívocos e vexames.
O Presidente João Lourenço – e isso é dito em muitos sítios – tem uma extraordinária aptidão para o “casting” de piores coadjuvantes.
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Desde que sucedeu a Pedro Sebastião, cuja defenestração, ocorrida no dia 31 de Maio de 2021, não foi acompanhada de subsídios informativos que a tornassem entendível pela opinião pública, na Casa de Segurança do Presidente da República, o general Francisco Furtado tem sido um desastre completo. Tem sido, até aqui, um dos piores dentre os piores que o PR escolheu como coadjuvantes.
Antes das eleições de Agosto passado, Furtado distinguiu-se por tratar a oposição como um bando de menores de idade que iria ser endireitado à bofetada se ousasse contestar o resultado eleitoral.
Em Julho do ano passado, a escassos dias das eleições, Furtado garantiu que se “alguma organização ou se alguns irresponsáveis julgam que transformarão eleições em conflitos, devemos deixar aqui uma mensagem bem clara a estas figuras: 1992 não se repetirá em Angola. Instabilidade e guerra não voltará a acontecer em Angola. Se alguém tem duas agendas, uma política e outra subversiva, a agenda subversiva deve ser tratada no âmbito do combate ao banditismo, à sublevação armada e ao terrorismo”.
O chefe da Casa de Segurança do PR não se deu ao trabalho de explicar de onde lhe vinham evidências de partidos políticos que possuiriam duas agendas, sendo uma “política e outra subversiva”. Também não esclareceu onde foi buscar autoridade para assegurar que a “agenda subversiva deve ser tratada no âmbito do combate ao banditismo, à sublevação armada e ao terrorismo”.
Com a campanha eleitoral em curso e não obstante a montanha de evidências contrárias, a Pereira Furtado foram atribuídas repetidas iniciativas tendentes a convencer o Presidente da República de que as eleições seriam favas contadas.
Em círculos privados, Furtado garantiu repetidas vezes que o MPLA teria acima de 80% dos votos.
É por ter acreditado piamente no chefe da sua Casa de Segurança que o Presidente João Lourenço não “engole”, até hoje, os resultados de Agosto. No seu íntimo, acredita que foi “roubado”.
O general Furtado é o responsável directo pela azia do Presidente da República em relação ao resultado das eleições e também pelo seu desdém à oposição.
Nenhum angolano desejou mais um banho de sangue pós-eleitoral do que o general Furtado.
A acção deletéria do general Furtado na Casa de Segurança do Presidente da República culminou, agora no Brasil, com um episódio que cobre de vergonha todos os angolanos.
O general Furtado é directamente responsável pelo tumulto que os seus homens provocaram em Brasília.
A quantidade de indivíduos que o general Furtado põe a viajar com o Presidente da República sugere, de imediato, que alguém na Casa de Segurança tira proveito disso.
A tomada de posse de Luís Inácio Lula da Silva foi rodeada de máximas medidas de segurança.
Qualquer pessoa sensata sabe que as autoridades brasileiras não confiariam a segurança da cerimónia a agentes estrangeiros.
A galheta (muito leve para o “tamanho” do abuso) que o brigadeiro Barba Branca, chefe adjunto da Unidade de Segurança Presidencial, tanto implorou ao activista angolano foi-lhe dada muito longe da área reservada aos convidados de Lula da Silva.
Donde, fica evidente que o general Furtado usa as viagens oficiais do Chefe de Estado ao exterior como subterfúgios para passeios dos seus homens. Por acção directa do general Furtado, o erário suporta, com milhões de dólares, passeios e férias de funcionários e dependentes da Casa de Segurança.
Além do desperdício de dinheiro, não é de descartar alguma relação entre o novo e doloroso revés diplomático do Presidente João Lourenço e os incidentes que a turma de ociosos do general Furtado protagonizou em Brasília.
Além do escândalo em que se envolveram, do qual, como já se referiu, resultou uma leve galheta ao 2º Comandante da Unidade de Segurança Presidencial, em todo o caso suficiente para levar o homem ao tapete, os indivíduos interrogados pela Polícia Civil de Brasília viram as suas identidades publicadas, o que os expõem a perigos.
Nos países sérios e maduros, membros da segurança presidencial têm a identidade devidamente resguardada.
Depois do que se passou em Brasília, os vizinhos e outras pessoas ficaram a saber que António Joaquim Gomes, Edna do Amaral Simosa, Bartolomeu Cassoma e outros pertencem ao corpo de segurança do Presidente da República. E isso é perigoso tanto para os próprios como para o Presidente da República.
Por causa do lamentável episódio, os angolanos ficaram a saber que corre também por conta do seu bolso os cartões SIM locais atribuídos a todos os turistas que foram a Brasília. Nos registos da Polícia do Distrito Federal de Brasília consta que o fotógrafo do CIPRA, Adilson Agostinho, e a assistente de imprensa Josina Chivangu também tiveram participação activa nas escaramuças.
Nada dado a assumir os erros próprios, o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República viu nos vergonhosos acontecimentos de Brasília uma oportunidade de sacudir a água do seu capote e endossar as responsabilidades à UNITA.
Num grupo de Whatsapp de que é membro, Furtado “descobriu” que o “vosso (da UNITA?) plano estratégico traçado aquando das eleições continua em marcha”.
E numa desmonstração de que deve ter um olho morto, Furtado ignorou completamente a ida à delegacia policial de todos os seus turistas e viu, apenas, o “lumpeno” (lúmpen, general) a ser “detido e levado na jaula do porta malas do carro da polícia”.
Além de transformar as viagens presidenciais em excursões para turistas seus dependentes, o que já é motivo bastante para ser imediatamente demitido, Francisco Furtado não honra a alta patente que lhe coube. Um general – e ele está entre os poucos que têm 4 estrelas – não deveria usar as redes sociais para espalhar calúnias e insultos.
É muito improvável que Francisco Furtado tenha noção do que seja, mas a um general é exigível recato.
A defesa que faz, nas redes sociais, dos “muchachos” que enviou ao Brasil, comprova que o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República não é homem de assumir as suas responsabilidades.
Depois do que sucedeu no Brasil, com muito provável influência na decisão de Lula de cancelar, em cima da hora, o encontro com o Presidente angolano, o chefe da Casa de Segurança não deveria esperar pela demissão. Deveria tomar a iniciativa de colocar o cargo à disposição do Presidente da República.
Mas, uma decisão dessa natureza requer apreço pela honra e dignidade pessoais. Valores que alguns desdenham.
Em Maio de 2021, apesar de todas as evidências que apontavam para a iminência da sua demissão, o general Pedro Sebastião manteve-se agarrado ao cargo. Resultado: acabou quase “arrastado” até à porta de saída.
E como não há duas sem três…
Aliás, por mais que goste dele, o Presidente da República está perante uma situação em que não pode contemporizar com o general Francisco Furtado.
Correio Angolense
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