Nascido a 11 de Setembro de 1936, em Santo António do Zaire, actual Soyo, Samuel Piedoso Chingunji (Figura 19) foi o filho primogénito do professor Eduardo Jonatão Chingunji e de Isabel Sapassa Chingunji, ambos originários do Município da Catabola, Província do Bié.
Samuel Piedoso Chingunji concluiu o 7º ano do ensino liceal que nessa altura era o último ano do ensino secundário. A sua ideia, e a de seu pai, era que fizesse um curso superior no estrangeiro, apoiado por missionários protestantes do Canadá e dos Estados Unidos da América, que prestavam serviço nas missões da Igreja Evangélica do Centro de Angola (actual IECA). Mas, antes disso, o pai dele, que sabia estar a ser vigiado pelas autoridades portuguesas, não teve outro remédio senão permitir que ele ingressasse na tropa portuguesa.
Durante a sua estada no Exército colonial português, Samuel Piedoso Jonatão Chingunji serviu no Norte de Angola, onde na altura se verificava a sublevação organizada pela UPA de Holden Roberto. No fim do serviço militar, os Portugueses quiseram compensar a discriminação de que sofrera, oferecendo-lhe uma patente militar e pedindo-lhe que seguisse a carreira das armas. Mas, ele pretendia fazer a sua programada formação em Medicina no Canadá, por isso, em 1965, abandonou definitivamente o Exército Português.
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De regresso ao contacto com o seu pai, foi informado do programa da criação de um outro movimento de libertação nacional dirigido por Jonas Savimbi. Ficou também a saber que - mobilizados pelo seu pai - outros dois dos seus irmãos, David e Estevão, já tinham abandonado Angola rumo ao exterior na grande aventura que viria a ser a luta de libertação nacional de Angola. Assim, ele próprio aderiu a esse projecto e foi atrás dos seus irmãos.
Posto na República do Zaire, foi informado de que Savimbi decidira que David poderia ir para os treinos, mas o seu irmão mais novo, Estevão, que só tinha 16 anos de idade, deveria partir para os Estados Unidos da América, onde tinha garantida uma bolsa de estudos dos missionários protestantes. Quando Samuel chegou à Zâmbia, o grupo que tinha ido treinar na República Popular da China já estava de regresso à Tanzânia. Foi assim que viajou para esse país a fim de encontrá-los, de modo a receber deles os aspectos mais importantes da sua aprendizagem na China.
Regressado a Angola, coube a Samuel Piedoso Jonatão Chingunji o comando da Região Militar Nº 3, que ia do Lumeje ao Alto Chikapa e Quirima (Malanje). Em 1968, foi nomeado Chefe do Estado-Maior das FALA, tendo também o encargo de organizar as redes clandestinas da UNITA na Zâmbia.
Os conhecimentos militares adquiridos no Exército Português fizeram com que o Comandante Samuel Piedoso Chingunji manejasse bem os explosivos, criando bombas que utilizava com eficiência nas acções militares contra o Exército Português, o que maravilhava imenso os seus colegas que o apelidaram de Fundanga ou Kafundanga, que, na língua nativa umbundu, significa pólvora. O nome de Kapessi foi-lhe dado em memória do pai da sua avó paterna.
Para além da actividade militar, Kapessi Kafundanga exerceu várias missões diplomáticas, designadamente no Zaire (actual RDC), na Zâmbia e na Tanzânia, onde mobilizou vários apoios para a luta da UNITA. Eis as palavras de Kafundanga, ditas ao jornalista australiano Steve Valentine, durante uma digressão que fez às áreas da UNITA, publicadas no Times of Zambia, num trabalho saído a 11 e 12 de Setembro de 1969:
"Eu poderia estar ainda a combater do lado contrário, suponho. Depois de ter sido ferido, os Portugueses transformaram-me numa espécie de herói; num exemplo para os outros africanos. Até gostei. Depois, contaram-me, um dia, que o meu pai - um professor - fora preso por se ter envolvido na política. Fui ter com o meu comandante que foi muito compreensivo. Disse que tinha a certeza de que havia de poder fazer qualquer coisa, mas não pode. De repente, compreendi que era negro. Deixei de combater com entusiasmo e, quando terminei a minha comissão, juntei-me à UNITA. O treino que já tinha ajudou-me a treinar os outros."
Kafundanga organizou redes clandestinas da UNITA no Zaire, na Zâmbia, na República Popular do Congo e na Tanzânia, e graças a essas redes ele conseguia fazer a logística das armas e de outros bens necessários nas áreas libertadas. Kafundanga era um grande mobilizador de massas. Em pequeno tinha vivido no Moxico com o seu pai e, por isso, conhecia bastante bem os hábitos e costumes das populações do leste de Angola. Participou no ataque a Cassamba, ocorrido a 4 de Dezembro de 1966.
Era um grande militar. Em finais de 1967, Kapessi Kafundanga comandou uma força militar que atacou o posto administrativo colonial da Chikapa, localizado na Província de Malanje. Ainda nesse ano, atacou um posto administrativo colonial situado na região de Sautar, nos limites entre a Província de Malanje e a Província do Moxico. A 10 de Novembro de 1970 fez atravessar a fronteira angolana com a Zâmbia, uma mulher e uma criança portuguesas que tinham sido raptadas durante um ataque de guerrilheiros da UNITA, na estrada Luxia-Luangarico contra três jipes da Organização Provincial dos Voluntários da Defesa Civil de Angola (OPVDCA). Essa mulher e a criança foram entregues, por ele, às autoridades zambianas que, por sua vez, as apresentaram ao Consulado Português no Malawi.
Em Dezembro de 1973, estava de regresso à Zâmbia, depois de levar material militar da SWAPO às áreas da UNITA. Durante essa viagem, em que estava acompanhado pelo actual general Vicente Vihemba, Kafundanga adoeceu gravemente de malária, já na Zâmbia. Apesar dos cuidados dispensados pelo Dr. Haindongo da SWAPO, Kafundanga acabou por falecer a 24 de Janeiro de 1974, na cidade do Mungo, na Zâmbia, onde ainda hoje repousam os seus restos mortais.
Em homenagem aos seus feitos militares, durante a guerra, a UNITA consagrou o dia 24 de Janeiro como sendo o Dia das FALA. Verdadeiramente, este homem é um herói nacional.
Anastácio Ruben Sicato
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