Afinal era propaganda eleitoral: Moeda nacional em queda livre depois da realização das eleições



Em Novembro destacámos a desvalorização da moeda nacional. Especialistas são unânimes em afirmar que o Executivo forçou a apreciação do Kwanza em tempos pré-eleitorais. Os benefícios passaram por baixar preços e exacerbar os resultados de políticas que permitiram ao País uma redução substancial do seu rácio da dívida sobre o PIB.


Após as eleições gerais, o Kwanza inverteu a tendência de apreciação, depois de ter recuperado 29% face ao dólar e 47% face ao euro desde o início de 2022 até 24 de Agosto, com os especialistas a considerar que o mercado se está a ajustar à taxa de câmbio real depois de esta ter sido influenciada no período pré-eleitoral.



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No início de Novembro, quando o Expansão avançou com esta matéria, a moeda nacional já tinha depreciado 12% face a euro e dólar desde as eleições, já que cada USD valia 488,4 Kz (554,2 Kz em Janeiro) e cada euro valia 427,6 Kz (629,0 Kz em Janeiro). E esta depreciação não parou em Novembro, já que até esta segunda-feira, 12 de Dezembro, a moeda nacional caiu 15% face ao dólar desde as eleições e 20% face ao euro.

A política cambial iniciada em 2018, que visava a flexibilização da moeda, teve como principal consequência a depreciação do Kwanza face ao dólar e ao euro, uma tendência que durou até meados de 2021, período em que, com as eleições à porta, se começou a assistir à valorização da moeda nacional, como consequência da subida dos preços do petróleo nos mercados internacionais, o que permitiu ao Tesouro a captação de mais receitas em moeda norte-americana. Com a subida das receitas fiscais, o mercado cambial foi "inundado" de moeda estrangeira, o que foi fundamental para valorizar o Kwanza e permitir o aumento das importações com vista a travar a subida dos preços no país. O que até deu jeito em ano eleitoral.

"O mercado é muito curto em Angola e a verdade é que o Estado é o maior detentor de dólares no País, fruto das receitas fiscais petrolíferas, pelo que qualquer intervenção feita pelo Tesouro acaba por ter efeito directo na taxa de câmbio. Tratou-se, pois, de uma valorização do Kwanza conduzida pelo Executivo em ano eleitoral, não só para baixar a inflação, mas também por uma questão cultural, já que o angolano acha que a taxa de câmbio está boa é quando o Kwanza está valorizado", admitiu ao Expansão um economista especialista em política monetária.

Além da descida dos preços dos bens alimentares, a apreciação do Kwanza permitiu "dividendos" políticos também na questão da dívida pública, já que o rácio dívida/PIB afundou para o patamar dos 60%, o que já não acontecia desde 2015, o que contrasta com os 135,1% em 2020. Com a subida das receitas fiscais, em ano eleitoral assistiu-se a um aumento substancial nas importações (cresceram 52% no I semestre face ao mesmo período de 2021, passando de 5,4 mil milhões USD para 8,2 mil milhões), pondo em causa, até, políticas desenvolvidas pelo Governo com vista ao aumento da produção nacional, tudo com o objectivo, segundo especialistas, de fomentar a queda dos preços e controlar a inflação.

Para o director do Centro de Investigação Económica da Faculdade de Ciências Económicas da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC), Heitor Carvalho, no período pré-eleitoral em que se verificou uma alta dos preços do petróleo o Executivo acabou por usar as receitas para subsidiar o consumo, baixando os preços dos bens alimentares e também dos produtos intermédios (matérias-primas utilizadas na produção) em vez de se criar reservas, o que potenciou agora um consumo completamente desproporcional à nossa produção de bens finais e uma dependência cada vez maior dos rendimentos do petróleo. "Quando estes [rendimentos] baixarem entraremos de novo numa longa recessão. Em vez de aprendermos com os erros, repetimos tudo o que não devíamos ter feito de 2012 a 2014", salientou.


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