Há pouco mais de uma semana, os Presidentes de Angola e do Gabão participaram, em Washington, da cimeira EUA-África, promovida pelo Presidente Joe Biden.
Com os dois chefes de Estado africanos viajaram, também, aos Estados Unidos os respectivos ministros das Relações Exteriores e outros altos funcionários.
O aluguel de uma sala de conferências de um hotel em Washington para Ali Bongo e João Lourenço passarem em revista a cooperação entre os dois países teria exigido menos esforço financeiro aos cofres dos dois países do que aqueles feitos para a reunião de poucas horas realizada sexta-feira em Libreville.
As deslocações do Presidente João Lourenço ao exterior implicam, invariavelmente, avultados gastos.
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Para a cimeira acabada de realizar em Washington, por exemplo, o Presidente João Lourenço levou a mais numerosa delegação. Quase todos os ministros e respectivos directores de gabinete bem como as secretárias integraram o séquito.
Em quase todos os eventos em que participou em Washington, ao Presidente angolano só foi permitida a companhia de entre 3 a 4 indivíduos.
Sem qualquer agenda, a quase totalidade dos ministros e seus directores de gabinetes e secretárias ocupou a maior parte do seu tempo visitando lojas e fazendo compras. Nenhum deles foi visto nas proximidades de uma livraria ou de um museu.
Com o seu séquito de mais de 100 indivíduos, transportados em três aviões, o Presidente João Lourenço deu em Washington uma cabal demonstração de que não é por falta de dinheiro que a generalidade dos angolanos passa fome, morre nos hospitais por falta de atendimento adequado. Também não é por causa de dinheiro que faltam carteiras escolares às crianças angolanas ou os Ministérios da Educação e da Saúde se recusam a atender as reivindicações salariais de professores, médicos e enfermeiros.
Favorecido pela alta do preço do petróleo, o Executivo angolano está, literalmente, a “nadar” em dinheiro.
É essa fartura que explica gastos evitáveis como os que implicaram a curíssima e desnecessária deslocação de João Lourenço a Libreville.
Porém, mesmo que Angola tenha dinheiro para dar e vender, realidade que não se reflecte no quotidiano da generalidade dos angolanos, não há, na Constituição do nosso país, nenhuma disposição que obriga o Estado a sustentar o gosto do Presidente da República pelas viagens.
Nos cinco anos do seu primeiro mandato, o Presidente João Lourenço viajou tanto ou mais do que o seu antecessor em 38 anos.
A deslocação de sexta-feira a Libreville prova que o Presidente da República ou foi tomado por uma compulsão por viagens ou continua deslumbrado com as delícias do poder.
Em países de verdade, o chefe de Estado põe a Assembleia Nacional a par da sua agenda internacional.
Entre nós, a generalidade dos deputados sabe pela imprensa que o Presidente da República se deslocou a esse ou aquele país.
Também por isso mesmo, é necessária uma revisão constitucional que coloque freios ao Presidente da República.
O dinheiro do país tem de ser usado com parcimónia.
Essa história do “kitadi yangu” (dinheiro é capim) é uma lorota de kimbundus para impressionar outros.
Um Estado que se preze não pode guiar-se por esse caminho.
Na sua generalidade, têm se revelado como desnecessárias e quase sempre improdutivas as muitas deslocações do Presidente da República ao exterior.
Correio Angolense
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