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PUTO NAGRELHA É UM «STUDY CASE»- Salas Neto



Quando comecei a esgalhar estas linhas, na terça-feira (22), fiz questão de observar um minuto de silêncio, em respeito à memória do grande Nagrelha dos Lamba, que estava a acabar de ser enterrado às pressas, no cemitério da Santana, em meio a violentos tumultos, iniciados assim que a polícia decidiu dispersar a multidão que pretendia invadir o local, no afã de assistir a última homenagem ao seu ídolo ao vivo.

Entretanto, grupos de bandidos instruídos de antemão, aproveitando o mote dado pela polícia, que recorrera a granadas de gás lacrimogénio e a balas de borracha, estimularam a confusão, para desencadear assaltos, roubos e outros actos criminosos já programados.



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Disseram-me que jamais houvera em Angola alguma cerimónia fúnebre com tanta concorrência, sendo apenas comparada com a que se registou por altura da chegada dos restos mortais de Agostinho Neto a Luanda, saídos de Moscovo, em Setembro de 1979.

A polícia fala em 80 mil, mas é atendível que mais de 100 mil pessoas tenham acorrido entre a cidadela e o campo santo e zonas envolventes, para assistirem às «exéquias fúnebres» do inditoso artista, também conhecido por Naná da Weza.

Gelson Caio Manuel Mendes falecera quatro dias antes (sexta-feira, 18), num hospital especializado de Luanda, vítima de cancro do pulmão, que lhe teria sido diagnosticado há alguns meses atrás já em fase terminal. A recente ida a Portugal em tratamento já de nada valeu.

Nagrelha embarcou para o Além 19 dias depois de completar 36 anos de idade, igual a que tem a Cambumbu, a minha herdeira universal, que é curiosamente do mesmo mês, Outubro. Podia ser, portanto, meu caçula, no que me daria um grande prazer, confesso. Tirando um bocado a cangonha, gostava de ter um filho dominante e carismático como ele, modéstia à parte.

No entanto, nunca estive com ele ao vivo em parte alguma, nem sei se o rapaz me conhecia. Já eu, se calhar por se ter tornado num notável do também meu Sambizanga, acompanhava-o à distancia dum coro, embora não me sentisse particularmente atraído pela música que ele fazia, até porque os «kuduros» que mais me partiam eram o «Felicidade» do Sebém e o «Wakimono» do Nacobeta.

Ou seja, em essência, sabia o que ele fazia e o que dele se dizia. Sabia que se tornara no «estado-maior» do kuduro, um verdadeiro fenómeno de massas, ao ponto de levar o público com ele, assim que acabasse de actuar nesse ou naquele espectáculo, não importando quem viesse a seguir. De tal sorte que os promotores passaram a programá-lo só para o fecho dos concertos, sendo que quase ninguém se ia embora, enquanto o Naná da Weza não subisse ao palco, por mais atrasado que o evento estivesse.

Sabia-o igualmente casado com uma mulher extraordinária, a Weza do Naná, a única que conseguia controlá-lo quando lhe subissem os calundus dos excessos ou das manias próprias das estrelas do entretenimento. Sabia-o ainda vencedor dum «reality show» duma televisão aí, que lhe valeu um chalé e mais uns pontos na fama. Claro que também sabia que ele não andava nada bem de saúde nesses últimos tempos. Enfim.

«Venho da isgreja, mas não entendi nada: tudo o que o padre dizia, eu já sabia!», anotei duma sua canção de início de carreira, colocação de grande alcance filosófico, embora parecesse uma simples baboseira à primeira.  

Fora duma lógica messiânica ou dalguma kimbandaria avulsa em última rácio, que seria o mais plausível, ainda não pude compreender como é que um jovem preto, pobre e semi-analfabeto, sem sair do gheto, consegue atingir o Olimpo, através das asas dum então emergente estilo musical marginalizado a todos os títulos, que parecia consubstanciar-se  em simples miudezas do quotidiano rimadas aos berros sobre «beats» monocórdicos concebidos em estúdios de sanzala, antes de tomar conta das rádios, televisões, salas de espectáculos e tudo que fosse festa, sem esquecer os candongueiros. Além de carisma, aí haverá genialidade a rodos.

Não é qualquer camabatela que consegue levar mais de cem mil pessoas ao seu funeral, como o Nagrelha dos Lamba, filho querido do povo angolano, o logrou. Nem daqui a mil anos isso se repetirá.  

Assim, até Por mera justiça, ao invés de ser rebaixado, como alguns iluminados despeitados estão a tentar fazer nas redes sociais, o Naná da Weza tem de ser estudado.

Dra. Kanguimbo Ananaz, minha amiga, estamos a contar consigo para o pontapé de saída, como prometeu, aliás. Viva o Nagrelha!


Nota: quando entreguei estes rabiscos ao jornal, ainda não sabia que o «artista» era meio são-tomense, como noticiei aqui no quintal no sábado. Não sei se teria mudado alguma coisa.




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