Robaldina era o ponto de partida. Por essas bandas congolenses nunca é difícil. E para confirmar a minha tese fazia menos de 30 segundos quando ouvi, de longe, um cobrador chamando a rota da qual, estava espera. Combinado com uma comunicação gestual perfeita o cubele não Mayava. Escongolenses, escongolenses(vociferava o cobrador). Mando parar o táxi, deito o cigarro e subo num lugar próximo da janela só para abafar o cheiro do naningola. Como sempre, me ponho a fazer análise do contexto aí mesmo no táxi e percebo logo que, nos altifalantes abafado, tocava um som dos lambas. “Estufa lamba ou comboio 1” era track. Um som cujo Coro passou a significar “roubar a pasta”Tive uma viagem nostálgica. Lembrei nos tempos vivido no kikolo, uma zona onde Nagrelha tem milhares de meninos e meninas que o têm como referência. Eu era um deles. Amava a forma que ele vivia sua vida sendo ele mesmo apesar da fama
Mal sobe a segunda parte da música e uma tia no outro canto diz; “Óbito do Nagrelha tá tipo dum presidente”. Todo mundo concorda e eu no meu canto aguento a pressão para não dissertar no táxi. Estava ali mais para ouvir. Continuei ouvindo a conversa cuja conclusão foi unânime, Nagrelha foi o artista contemporâneo mais carismáticos que Angola produziu um dia. O cobrador começou a cobrar. Paguei meu imposto e pausei.
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Chegamos, papoites, olha hora, tamu a bazar no tambi do Estado. Descem rápido. Era o cubele a nos dar a dica.
Perguntei se podiam me dar boleia, pois eu tava a bazar também para lá. o nduta não mostrou objeção nenhuma. Cubele me pediu para subir de novo, lá fomos nós até chegarmos na igreja católica, onde tivemos de deixar o Quadradinho. Havia um engarrafamento enorme por aquelas bandas. Sempre olhando para tudo e todos, para colher informações, depois de descer notei que, em direção ao estádio nacional da cidadela onde estás ocorrer as exéquias fúnebres do nana, havia duas freiras a caminhar. Acelerei os passos e questionei gentilmente se, elas estava a se dirigir para o funeral. Confirmaram que sim, estavam a ir no tambi do Nagrelha.
Ao chegar no portão era visível a moldura humana composta por pessoas de todo gênero e idades. Visivelmente gente humilde e do bairro. Havia alguns engravatados tbm. No canto direito do primeiro anel havia um grupo só a dar caídas pelo kuduro,outros cantavam coros criados na hora, outros cantavam as estrofes e os coros feitos por Nagrelha. Foi tão arrepiante mas me contive. Continuei andando pelos degraus e fui fotografando ao mesmo tempo que aproveitava conversar com alguns jovens. Todos se mostravam órfãos de um ídolo que mantinha suas esperanças acesas. O povo amava o Nagrelha. Isso nem se discute.- Disse uma moça toda fina que aí se encontrava- Continuei girando o estádio para apanhar o melhor ângulo para fotografar e num dos degraus encontrei um grupo de cerca de 10 jovens a fumarem a sua liamba lindamente. Enquanto isso muitas estrelas do kuduro iam chegando,levando os presentes ao delírio. Parecia aquelas cenas que só se vê na América. Jessica pitbull, pai gasolina, bebo clone, os namayr, bebo King entre outros foram ovacionados como mandam as regras do Kuduro
O momento mais eletrizante foi a chegada do carro funebre contendo os restos mortais do Nagrelha. Dois moços é uma moça desmaiaram nos relvados, felizmente houve pronto socorro da equipa médica presente. Fiquei a saber depois que foram reanimados e voltaram para ouvir as mensagens fúnebres de diversas individualidades que por aí passaram. Foi no momento em que o corpo chegou que o povo aproveitou a brecha de uma das portas que dava acesso ao relvado para entrar e estar mais proximo. Entre o povo lá estava eu! Não me contentava em estar nos anéis. Entre empurra e puxa, felizmente consegui entrar e se juntar as vozes que cantavam hinos aleatórios para o nana.
Epha, tô cansado de escrever. Vou guardar o resto das memórias do tambi do estado para mim.
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