As drogas e a nossa ignorância- Mariano Brás



Não podia deixar de abordar dois dos vários assuntos que marcaram a actualidade esta semana. Falo da morte do jovem músico Gelson Caio Manuel Mendes,  Nagrelha dos Lambas, e da agressão do jornalista José Honório,  em Benguela, por agentes da Polícia Nacional. Estão ambos os casos interligados por um detalhe que a nossa ignorância não permite que enxerguemos, embora, pelo menos à primeira vista, possa parecer que não há relação nenhuma. Uso excessivo de drogas, em Angola, das mais leves às mais pesadas é como que o denominador comum.Conheci o  Nagrelha, se a memória não me atraiçoa, em 2005, quando,  ao serviço do extinto Semanário A Capital, fui ao Sambizanga, zona do Baião, reportar as incidências da morte do mentor do grupo ‘Os Demónios do Sambizanga’, actualmente ‘Os Lambas do Sambizanga’. O jovem Amizade, de 19 anos, tinha sido executado por elementos da Polícia Nacional, por envolvimento em actos criminosos.No local, depois de ter ouvido os familiares do malogrado, apresentaram-me dois jovens como sendo colegas de Amizade no grupo musical ‘Os Demónios do Sambizanga’.Bem ao estilo da periferia, eram miúdos aparentemente na casa dos 16 e 18 anos, ambos, visivelmente, ‘amarrados’ a uma vivência conflituosa, desnutridos, rostos maltratados em função do uso excessivo de drogas.


Fui então informado que o mais extrovertido ou comunicativo chamava-se Bruno e o introvertido, de cabelo pintado a loiro, era o Gelson.O Bruno era o Bruno King e o Gelson era o Nagrelha. Foi o Bruno King quem relatou o caso, enquanto Nagrelha ria mais do que falava. Depois da entrevista, ofereceram-me alguns dos seus discos, já que, em início de carreira, pretendiam “vender o peixe”, e nada melhor do que oferecer a um jornalista. A partir daquele momento, estabelecemos uma relação de amizade, até porque o Nagrelha dizia que eu me parecia com um tio seu. Fui visitar Nagrelha na cadeia de Viana quando ele se encontrava preso por posse de drogas (Liamba). Fui em companhia da escritora Kanguimbu Ananaz, uma mulher incansável,  que prometeu submetê-lo a um tratamento de desintoxicação depois da pena.Julgo que quem mais tentou reabilitar o Nagrelha em toda a sua vida foi Kanguimbo Ananaz, que ganharia, em função disso, a alcunha de “Mãe do Negrelha”.A nossa hipocrisia leva-nos a ignorar tudo isto, quando todos víamos que o Nagrelha, um toxicodependente, precisava da nossa ajuda. Andou, e dizemos isso com muito pesar, agarrado à liamba, ao cigarro normal, álcool e outras drogas.


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 A sua imagem, principalmente nos últimos tempos, era deplorável.Rimo-nos todos do que ele falava, mas ignorámos a mensagem que a sua imagem, de forma gritante, transmitia. Era um claro pedido de socorro.Como a ignorância é atrevida, hoje, mais uma vez, preferimos acreditar que o mesmo foi vítima de envenenamento ou feitiçaria, quando os resultados médicos são claros: dizem que foi vítima de um câncer de pulmão em estado terminal.O câncer ou cancro do pulmão, também conhecido como neoplasia pulmonar, é uma doença caracterizada pelo crescimento celular descontrolado em tecidos do pulmão. Se não for tratado, esse tumor pode se espalhar para fora do pulmão por um processo chamado de metástase, acometendo órgãos adjacentes e, eventualmente, disseminando-se para outras partes do corpo.O que causa o câncer de pulmão? A principal resposta é o tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes factores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. Em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco.Os sintomas surgem quando já está em estágio avançado. E quais são estes sintomas:• Tosse ou mudança no padrão da tosse do fumante;• Dispneia (falta de ar);• Dor torácica;• Perda de peso;• Cansaço;• Presença de sangue no escarro.Curiosamente, todos esses sintomas perseguiam o Nagrelha  Quanto tempo vive uma pessoa com câncer no pulmão ? De acordo com o banco de dados SERR, do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, 55,2% dos pacientes que obtêm o diagnóstico, enquanto a doença ainda está localizada, chegam a sobreviver de 5 anos ou mais. Já na fase metastática, esse índice pode atingir 4,3% de sobrevivência.É preciso não ignorarmos, como pretendemos fazer mais uma vez, a gravidade do consumo de cigarro e bebidas alcoólicas, uma vez que a nossa juventude ou sociedade pouca esclarecida entende que é ser mais inteligente, mais ‘dred’, mais bonito aquele que fuma e faz uso de bebidas alcoólicas.Assistimos nas redes sociais a músicos, jornalistas e outras pessoas dos diversos extractos da sociedade a fazerem fotos com álcool e cigarros às mãos como se isso fosse uma grande conquista, quando, na verdade, só estão em autodestruição.Assisto a pessoas que, antes nunca tinham colocado um tabaco na boca, mas por influência de terceiros ou por começarem a pegar um pouco de dinheiro, até charuto fumam.Quanto à relação Nagrelha/jornalista agredido em Benguela, temos de dizer que os consumidores de drogas estão em toda parte da sociedade, e a Polícia não é diferente. Os polícias que vão à rua, lamentavelmente, são os que mais fazem o uso de drogas como álcool e cigarros.Só assim se pode compreender muitas acções destes indivíduos, particularmente dos que quase mataram o nosso colega.Mais uma vez, reitero que é preciso que o nosso Governo coloque limites no consumo de álcool e cigarro e que  intensifique o controlo do tráfico de drogas em Angola.Sei que tal exercício não se afigura fácil, uma vez que a maioria dos nossos dirigentes também faz o uso das mesmas drogas. Mas é preciso livrarmos o país deste flagelo, sendo certo que grande parte dos que cometem estas atrocidades passa antes por uma bebida alcoólica, liamba ou  cocaína. Não devemos esquecer que Angola já é um centro de consumo de drogas no mundo. Salvemos o nosso país, é agora ou nunca!


https://youtu.be/Pigle-4q9Is



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