ABAIXO O «ANELKALISMO» CIENTÍFICO! - SALAS NETO



Eram 20 e qualquer coisa daquele sábado, quando eu e o Ti Perdido, meu secretário para os assuntos extraordinários, demos entrada na nossa rua. Ele é um dos quatro guias com que tenho contado para as minhas deslocações, sendo cada qual convocado em função da natureza da saída, por um lado, ou em razão da respectiva disponibilidade, por outro.

Os demais são o meu sobrinho Evander, o lugar-tenente Zé Aranha e o comandante Chico Groi, que se tornou a última opção regular, por razões disciplinares.

No entanto, quando a missão implica a utilização do meu carro pessoal, posso ainda contratar a título especial o Cambila, o dono do botequim da parte de baixo lá da rua, que serve de parada dos Sabulhas, o grupo juvenil que vai apoiar a minha assanhada candidatura civil a vereador, nas primeiras eleições autárquicas do país, a serem realizadas provavelmente em 2035, isto se até lá já houverem condições, é claro.



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Eu e o Ti Perdido vínhamos já bem sentenciados do «Cantinho da Paula», sítio recém-descoberto por nós, ali ao fundo da rua de Gaia, nas cercanias da Casa da Cultura do Rangel, banda com um frenesim já parecido com a movimentação da «Dira» do Zango, embora em muito menor escala ainda. Contei umas dez «bocas», entre bares, restaurantes populares e lanchonetes, só num raio de menos de 200 metros, todas com música alta, que acabam por produzir uma sarrabulhada sonora nada saudável.

A Paula é uma miúda da visão, a quem só não namorei nos idos por falta de mais empenho meu, eu acho. Agora a nossa vida é já só de se atirar muxoxos, antes de nos rirmos à-toa, tudo numa boa. Comecei a frequentar o cantinho dela há poucas semanas, depois de lá ter passado acidentalmente, num dia desses, à saída duma reunião de trabalho com a directora da casa da cultura, a cantora Patrícia Faria, mais o músico Carlos Lamartine e o jornalista KB Gala. Estávamos a ensaiar a materialização dum projecto sobre as figuras mais emblemáticas dos diversos bairros do distrito, mas que, pelo modo dorminhoco em que as coisas estão, já não acredito que a empreitada ainda venha a avançar.

Andamos menos de cem metros no interior da rua, quando uma senhora mete conversa com o Ti Perdido. Pensei que fosse sua conhecida, mas não era. «O meu marido anda na província, por isso é que estou com dores de coluna...», apanhei esta parte, assim que passei a prestar atenção à conversa.

«Vamos já acabar com essas dores da coluna», provocou o meu companheiro. A moça resmunga qualquer coisa, mas depois dá sinal de que aceitava a proposta para se fazer malcriado implícita na dica do meu guia de serviço.

Meto-me na conversa. «Mas, se somos dois, como é que vai ser?», lanço, mais na brincadeira. Todavia, para meu espanto, a senhora diz que não havia problema nenhum. O importante era o cumbu e nada mais.

«E assim, com os dois, seria quanto?», pergunto. Depois duns truques, ela dá finalmente o preço para a cambalhota a três, uma contra dois: seis mil kwanzas, pouco mais de dez dólares!

Fiquei escandalizado. Isso só pode ser obra da miséria em crescendo entre nós, muito longe das luxúrias do mundo das anelkas promovido e estimulado imoralmente nos canais televisivos das novas tecnologias.

Aliás, dizem que ali bem próximo, no «Luvo», na famigerada rua da Dona Amália, até com 500 kwanzas um gajo dá uma «rápida de beco» sem problema. Eu não acreditei, mas o Ti Perdido garante que é verdade.

O Antoninho Pelinganga, um bilingueiro do facebook, diz que na sua Mabor, para tanto bastam dois pacotinhos de massa. Só acreditei porque alguém corroborou. Já o Alex la Guma garante que no Bié é a mesma coisa. O mal já está generalizado.

Pois, como dizia, batemos um coro que íamos buscar a tatita, ela que nos esperasse na ponta da rua. Condoído, ainda pedi ao Ti Perdido que desfizesse o acordo de modo explícito, para que a senhora não ficasse a desesperar indefinidamente no ponto combinado, mas o gajo mandou a minha preocupação às urtigas e entramos mbora na Galiana, embrulhar mais umas ekas.

Antes de irmos fazer o fecho da jornada na «boca» da Mana Ia, ao lado da qual acontecia a «apresentação» duma das filhas do Mestre Zeca, donde pode ter saído a moça que nos interpelou.

«É bonita a gaja, ao menos?», perguntei, só por mera curiosidade, juro. «É, mas já bem usada», respondeu, demolidora e cruelmente, o Ti Perdido. Está duro!




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