Embora o desfecho da actual batalha eleitoral escape às previsões até mesmo dos mais renomados matemáticos, alguns ministros que acompanharam o Presidente João Lourenço no Executivo cessante têm a vitória do MPLA como inevitável e, por isso mesmo, já começaram a pavimentar os respectivos espaços no futuro Governo.
Em linguagem terra-a-terra, dir-se-ia que há um conjunto de ministros que já correm por fora, condicionando, antecipadamente, as escolhas de João Lourenço se levar a bom porto a complicada disputa eleitoral.
Para o MPLA, a campanha eleitoral está muito longe de se aproximar das “favas contadas” que o “Já Está”, adoptado por Bento Bento & Cª no início, fazia supor.
De resto, as dificuldades com que o MPLA se está a confrontar já levaram o seu líder a algumas manifestações de desespero expressas, por exemplo, no recurso, frequente, à deselegância verbal, no apelo explícito à xenofobia, no desprezo aos adversários, no maniqueísmo e, também, na apologia ao desrespeito a compromissos do Governo.
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Não obstante as pre e sentidas dificuldades que se colocam no propósito do MPLA de renovar o mandato, há militantes que não dão o peito às balas, não dão a cara nos comícios, mas que já vão colocando as respectivas pedras num hipotético edifício.
Recentemente, o diário português Jornal de Negócios deu como quase certo que, se reeleito, João Lourenço não poderá abrir mão do quarteto composto por Manuel Júnior, Vera Daves, Ricardo D` Abreu e Manuel Tavares de Almeida, sob pena de arruinar a “credibilidade externa” de Angola bem como o saneamento das suas contas.
Escrito por Celso Filipe, o artigo do jornal diz, expressamente, que “João Lourenço tem, pelo menos, dois ministros dos quais não irá abdicar, caso seja reeleito Presidente de Angola nas eleições que se realizam a 24 de agosto. Os governantes em causa são Manuel Nunes Júnior, ministro do Estado para a Coordenação Económica, e Vera Daves de Sousa, ministra das Finanças”.
De acordo com a publicação lusa, Manuel Júnior e Vera Daves “são decisivos para que o país possa contar com o apoio das instituições internacionais, caso do Fundo Monetário Internacional (FMI), credibilizando assim a narrativa de recuperação da economia e saneamento das contas públicas”.
Nos meios académicos angolanos o ministro de Estado para a Coordenação Económica é geralmente descrito como “tecnicamente fraco”.
Em Junho de 2020, um professor da cadeira de Economia do Desenvolvimento da Universidade Católica de Angola definiu Manuel Júnior como alguém que “desconhece a realidade (entre a economia real e a formal)e que tem aversão em trabalhar com técnicos brilhantes e bons”.
Nos meios empresariais nacionais de Manuel Júnior diz-se que é “excessivamente académico, esquivo e não tem tarimba”.
Coordenador da equipa económica do Governo, Manuel Júnior já “enterrou” três ministros da Economia e Planeamento: Pedro Luís da Fonseca, Manuel Neto Costa e Sérgio Santos.
Segundo o Jornal de Negócios, se reeleito, João Lourenço “também não poderá prescindir” do actual governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, o qual, diz, “tem dado um contributo relevante na estabilização do quadro macroeconómico do país através da reforma do sistema financeiro nacional”.
Para o diário luso, um futuro Executivo de João Lourenço só terá sucesso se outros dois ministros forem mantidos nas suas pastas. “(…) parece também consensual concluir que João Lourenço tenderá a manter no Governo o ministro dos Transportes, Ricardo Viegas D´Abreu, bem como o titular da pasta das Obras Públicas, Manuel Tavares de Almeida”, refere o jornal, que não nomeia os elementos com base nos quais construiu o que lhe parece ser o seu consenso.
O jornal português parece ignorar ou menosprezar o facto de o ministro Manuel Tavares de Almeida ser o responsável directo pelos primeiros constrangimentos por que passou o Presidente João Lourenço nos primeiros momentos do seu mandato.
Em 2019, no discurso sobre o Estado da Nação, o Presidente da República garantiu que estava completamente reabilitado o troço da estrada nacional 230 que liga as cidades de Malange e Saurimo.
Num mesmo dia, um camionista que circula rotineiramente por essa estrada desmentiu o Presidente da República. “Tenho seis anos de estrada e a informação que foi dada pelo Presidente não é uma informaçãocerta. Precisamos de intervenção urgente do Estado, por que se não fizerem esta estrada daqui a mais uns meses o trânsito não vai circular”.
À Voz da América, um outro camionista disse-se convencido que o Presidente da República “continua a receber algumas informações que não correspondem à actual realidade sócio-económica das populações de várias partes do país. Estou há mais de 15 anos nesta via, isto não é estrada; são buracos que estão nesta via e quando chover não haverá circulação de viaturas“.
Enganado pelo ministro da Construção, o Presidente da República também disse que o troço entre as cidades do Sumbe e Lobito estaria perfeito para a circulação rodoviário. Mas, novamente, os factos desmentiram o Presidente João Lourenço.
Provavelmente o Jornal de Negócios também desconhecerá, mas o ministro dos Transportes, cuja recondução recomenda, é o mesmo que favoreceu a compra de dois prédios de um amigo. Pelo edifícioWelwitschia Business Center (WBC), propriedade de Rui Óscar Ferreira Santos Van-Dúnem, amigo de infância de Ricardo Veiga D’Abreu, o Estado pagou 91 milhões de dólares americanos.
Em Angola, tem-se como certo que a permanência de Manuel Tavares de Almeida no Governo se deve, exclusivamente, à forte amizade pessoal que o liga a João Lourenço e a negócios em comum.
Já a sobrevivência de Ricardo Viegas D´Abreu no Governo se deverá à boa relação de amizade que o pai tem com o Presidente da República.
Dos 21 ministros do Governo cessante, Manuel Tavares de Almeida é, destacadamente, o que chega ao fim com a nota mais baixa. Disso fala, de modo inquestionável, o estado da malha rodoviária nacional.
Ao assegurar que num “cenário de continuidade parece igualmente claro que João Lourenço vai ter de se libertar do espartilho dos serviços de inteligência, os quais crescentemente foram limitando a sua acção do ponto de vista político”, o Jornal de Negócios parece ter como certa a defenestração do General Fernando Miala, o controverso chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado.
De fora dos “imprescindíveis” do Jornal de Negócios, os ministros da Defesa e Veteranos da Pátria, da Saúde, Comércio e Indústria, Economia e Planeamento, Interior, Relações Exteriores, Juventude e Desportos, Agricultura e Desenvolvimento Rural, Administração do Território, Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, Justiça e Direitos Humanos, Recursos Minerais e Petróleo e Gás, Energia e Águas, Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Cultura, Turismo e Ambiente, Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação e Educação deveriam começar, já, a familiarizar-se com os caminhos que levam à Dombe Grande…
Embora “proscritos”, é de todo improvável que num cenário de reeleição, João Lourenço abra mão de trunfos como Diamantino Azevedo, Sílvia Lutucuta ou, ainda e por razões outras, Eugénio Laborinho. O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás é um tecnocrata de mão cheia, a quem é também reconhecido muito rigor na gestão do complexo pelouro que lhe coube.
Se lhe for expurgada a sua conhecida casmurrice, de que é prova a insistência em medidas anti-covid já consideradas “obsoletas” em várias paragens do mundo, nomeadamente os testes pré-embarque para Angola, e propensão para negociatas, da ministra da Saúde ainda sobra uma gestora que chegou ao fim do ciclo com obra feita. O alargamento do serviço de hemodiálise a quase todo o território nacional é um feito de que se pode merecidamente orgulhar.
Eugénio Laborinho, também conhecido como Vice-Versa, é uma espécie de alma gémea de João Lourenço. Num cenário de reeleição, continuaria a ter o Ministério do Interior sob sua alçada.
Repete-se: embora as eleições ainda estejam por realizar, há, no MPLA, pessoas a adivinhar-lhe (?) os resultados e a agir, já, em conformidade. Ou seja, a acotovelar-se, já, pelos melhores lugares na grelha de partida.
Em linguagem terra-a-terra dir-se-ia que já há pessoas a “pôr cunha” junto de João de Lourenço.
Correio Angolense
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