No condomínio habitado, entre outros, pelo CEMG das FAA, estão a ser tomadas medidas consistentes com período de guerra
Segunda-feira, 08 de Agosto, os moradores da Fase III do Condomínio Jardim de Rosas, município de Camama, foram alertados para a adopção de medidas de segurança “durante e depois do período eleitoral” em virtude de uma potencial perturbação social provocada pelo perdedor das eleições.
Num comunicado da administração do condomínio é referido que sendo “o dia 24 um dia de festa para quem ganhar as eleições, a não conformação com a vitória do partido que a alcançar, por quem perca, poderá ocasionar desacatos e daí resultar a desordem pública”.
O Condomínio Jardim das Rosas não é um conglomerado de casas acessível a qualquer bolso. É um projecto habitacional selecto, habitado exclusivamente por pessoas materialmente privilegiadas.
De entre os ilustres habitantes do condomínio constam o Chefe do Estado Maior General das FAA, general de 4 estrelas António Egídio de Sousa Martins “Disciplina”, e outras altas patentes militares e da Polícia Nacional e altos funcionários públicos.
O Presidente e o Vice-Presidente da República também têm casas no Jardim de Rosas.
Sob o título “Medidas de Segurança durante e depois do período eleitoral”, o administrador do condomínio previne os moradores para a iminência de “perturbação social”, provocada pela “inconformação com o vencedor das eleições de 2020”.
Os moradores do Condomínio de Rosas, na sua generalidade, são pessoas bem servidas materialmente, mas também com acesso à informação privilegiada.
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A presunção de que do “acto eleitoral possa advir alguma perturbação social, por inconformação com o vencedor das eleições de 2020”, é construída a partir de informações fornecidas por alguns dos mais ilustres moradores do condomínio. Não é um mero palpite.
O comunicado, assinado por Carlos Xavier Martins de Pina, um general na reserva, recomenda aos moradores a tomada de medidas apropriadas a tempos de guerra.
Nomeadamente, é recomendado que os moradores limitem “a entrada de seus trabalhadores a 2-3 elementos; paralisarem temporariamente as obras que ocorrem nas suas residências, a partir do próximo dia 22 até ao dia 26 de Agosto de 2022, limitarem as visitas de amigos ou prestadores de serviço; não realizarem eventos festivos que vão além das 23 horas; colocarem as suas viaturas no quintal; dispensarem os empregados, jardineiros e outros que pernoitem em casa; certificarem-se de que todas as portas e janelas estejam bem trancadas; possuírem cesta básica alimentar suficiente em casa, incluindo água para beber e gás; evitarem a circulação fora do condomínio após as 17 horas; possuírem tanques de água, permanentemente cheios; manterem rádio e a televisão ligadas”.
O general Carlos de Pina não identifica quem, “por perca” das eleições, poderá provocar desacatos ou perturbação social, mas vê com bastante preocupação os “muitos populares, jovens e adultos desempregados com espírito malévolo e maldoso que fruto disso podem tentar investir contra o nosso condomínio, por considerarem que aqui vivem cidadãos com largas posses económico-financeiras, o que os levará a penetrar pelas zonas vulneráveis de fácil acesso, durante o dia ou na calada da noite”.
Isto é, jovem ou adulto desempregados têm, inevitavelmente, “espírito malévolo e maldoso”, o que faz deles, invariavelmente, ameaça a todas as pessoas com largas posses económico-financeiras.
E para prevenir acções desses “jovens e adultos desempregados com espírito malévolo”, a administração do condomínio Jardim de Rosas “instruiu a observância de medidas rigorosas à empresa de Segurança em efectivo serviço, respeitantes ao controlo e saídas, bem coo a rondas permanentes, no interior do condomínio, a partir do dia 15 até ao dia 30 de Agosto”.
É de todo impossível dissociar o Chefe do Estado Maior General das FAA e outros altos dignitários moradores no Condomínio Jardim de Rosas do conteúdo do comunicado.
Não é crível que alguém ouse impor tão severas restrições ao condomínio à revelia de tão distintos moradores.
O comunicado do administrador do condomínio Jardim de Rosas denuncia que algumas entidades sabem por antecipação não apenas o resultado das eleições do dia 24 como a reacção dos vencidos.
Desacatos e perturbação pré e pós eleitoral são reiteradamente admitidos por entidades com elevadas responsabilidades políticas.
O Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado, alude, rotineiramente, a forças que estariam a preparar actos de subversão da ordem pública.
Em fresca intervenção numa rede social e usando linguagem desaconselhável até para seus filhos menores, o general ameaçou quebrar o “focinho” de quem ouse transferir para Angola, “durante e depois da divulgação dos resultados das eleições” a “propalada Primavera Árabe”.
“Não brinquem com o estado nem com a força de um pouco que sabe o que são os horrores da guerra porque vão mesmo levar no focinho”, escreveu, sem que a ameaça, feita em linguagem de lúmpen, lhe custasse alguma reprimenda oficial.
Apesar de insinuarem, insistentemente, a existência de forças preparadas para promover a subversão, as autoridades nunca levaram a tribunal um único indivíduo suspeito de preparar actos que contrariam a lei.
Em Janeiro de 2021, o Presidente da República disse serem indeléveis as impressões digitais dos responsáveis por uma greve de taxistas que culminou com a destruição parcial de alguns autocarros e um incêndio no comité do MPLA do bairro Benfica.
Mais de um ano passado, os titulares das ditas impressões digitais continuam por identificar.
Em todas as paragens sérias e decentes, eleições são momentos de festa popular.
Em Angola, eleições são tomadas, até por altos dignitários do Estado, como momentos de desacatos e perturbação social.
Para evitar males maiores, o administrador do condomínio Jardim de Rosas recomenda a que no dia 24 de Agosto os moradores “evitem sair à rua e de igual modo evitem participar em festas de rua”, não vá dar-se o caso de darem de caras com “populares, jovens e adultos desempregados com espírito malévolo e maldoso” e que, tomados pela inveja, “podem tentar investir contra o nosso condomínio”.
Mas, para garantir que todos os seus moradores votem em segurança, certamente a administração do selecto Jardim de Rosas requisitará à Comissão Nacional Eleitoral uma mesa de voto para cada domicílio.
O comunicado do condomínio Jardim de Rosas habitado, entre outros, pelo CEMG das FAA é a prova que faltava de que o país vai mergulhar em novo banho de sangue.
O General Disciplina gosta de hiperbolizar cenários de guerra em Angola.
No dia 8 de Julho, transformou numa grande operação militar um comício que João Lourenço faria em Luanda no âmbito da sua campanha eleitoral.
Sem nenhuma ameaça à vista, através do Despacho nº 0061/CEMGFAA, no dia de Julho o general Disciplina determinou que as “unidades, estabelecimentos e órgãos do Estado-Maior General, Comandos e Estado-Maior dos Ramos das FAA” se sujeitassem ao “grau de prontidão combativa elevada”.
A mesma ordem era extensiva às “unidades, estabelecimentos e órgãos das Regiões-Militar Luanda e Aérea Norte” para entrarem em “prontidão combativa completa”.
O general Disciplina tomou o comício do candidato João Lourenço como “actividade presidencial”, que exigiria o reforço das medidas de “defesa e segurança dos principais objectivos económico-estratégicos, controlo de movimento de colunas militares e restrição na saída de aeronaves militares”.
A morte, naquele mesmo dia, do antigo Presidente José Eduardo dos Santos poupou as Forças Armadas Angolanas de um exercício desnecessário.
Em países em que não estão a reboque de nenhum partido, as Forças Armadas só entram em prontidão combativa elevada apenas quando em presença de comprovada ameaça externa ou calamidade pública que ameacem a segurança nacional. A decretação de tal estado é, geralmente, competência exclusiva do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas.
Em Angola, o Comandante-em-Chefe abriu mão dessa prerrogativa.
Agora que teme a aproximação de “populares, jovens e adultos desempregados com espírito malévolo e maldoso” é provável que o novo período de prontidão combativa em que as FAA entrarão nos próximos envolva a colocação de tanques de guerra e caças da Força Aérea Nacional no condomínio habitado pelo CEMG das FAA e outras altas patentes.
Lamenta-se que o CEMG das FAA não partilhe com todos os angolanos as precauções que devem tomar para enfrentar a perturbação que parece já inevitável.
Correio Angolense
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1 Comentários
Quero entender que, pensando assim o país terá convulsão social nestes dias de eleições
ResponderExcluirMais que falso alarme é este meu Deus!
Devemos ser mais vigilantes nestes tipos de alarmes. O povo vigilante não pode dormir- Viva paz e paz para sempre.